BENEFICIÁRIOS DA ADSE SEM LUGAR
NO PRIVADO OU NO PÚBLICO
Nota RUP >> quem estiver com familiares em situação idêntica enviem-nos mensagem que faremos chegar a um dos familiares que nos contactou.
" Têm mais de 80 anos, problemas de demência ou estão acamados. ADSE está a apertar as regras e quer que sejam integrados nos cuidados continuados do SNS – mas no centro de saúde respondem-lhe que não são prioritários.
A carta registada foi colocada no correio no início desta semana. Nela, quatro familiares de beneficiários da ADSE expunham a Sofia Portela, diretora deste organismo, as dificuldades por que estão a passar. E pediam uma resposta urgente deste instituto público de proteção e assistência na doença.
Segundo lhe relatavam, o hospital privado do Norte do País onde os seus familiares, com mais de 80 anos, estão internados tinha-lhes dado até ao final de fevereiro – ou seja, até esta quinta-feira, 28 – para encontrarem um novo local para os colocar. Ou, se optassem por mantê-los nesta instituição, ser-lhes-iam cobradas a estadia e todos os demais gastos. Depois, poderiam tentar ser reembolsados pela ADSE.
Isto porque, desde o fim do ano que a ADSE tem recusado os relatórios clínicos e, consequentemente, não tem adiantado os valores por estes internamentos. E, desde então, o hospital suportou os valores. Mas a partir de março deixa de o fazer. A justificação para a recusa dos relatórios tem sido que a condição atual destes beneficiários justificaria a integração na rede pública de cuidados continuados (que até pode ser no mesmo hospital, já que também funciona ali uma rede convencionada com o Estado).
"Solicitámos à ADSE que pagasse o que o Estado paga pelos cuidados continuados [ao hospital] ou que acautelasse o internamento até que se arranjassem soluções", descreve à SÁBADO uma das subscritoras, Cristiana Rodrigues Serejo. Esta professora universitária tem encontrado vários obstáculos.
Primeiro, o tempo: "Não se consegue tirar as pessoas de um dia para o outro". E trata-se de pacientes com mais de 80 anos, acamados e com total dependência. Alguns com demências (de Alzheimer a demência vascular), osteoporose com risco de fratura, diabetes, úlceras de pressão, por estarem acamados.
Depois, o local: no centro de saúde, a técnica que reviu o processo da avó indicou-lhe que dificilmente teria lugar na rede de cuidados continuados porque é por prioridades. "E a sua avó não é prioritária", ouviu a docente. Deveria, disseram-lhe, ficar "à guarda de terceiro". "O ideal", resume, "para a minha avó seria morrer em casa".
Incertezas familiares
Até há dois anos, Cristiana Rodrigues Serejo vivia com a avó. Mas não era possível trabalhar e responder, sozinha, a todas as necessidades da avó. A família (que vive no sul do país e no estrangeiro) decidiu colocá-la num lar. Como doente crónica, a avó com 98 anos e cinco meses (numa idade tão avançada anotam-se todos os meses como mais uma celebração) tem episódios frequentes de problemas pulmonares que obrigavam a ser vista no hospital público mais próximo. Ligavam-lhe do lar privado onde estava (sem comparticipação da ADSE), muitas vezes de madrugada porque estava outra vez com falta de ar. "Eu passei a ir três a quatro vezes por semana de madrugada e passava horas numa urgência caótica, atulhada de velhotes." Era tratada e enviada para casa.
Até há dois anos, Cristiana Rodrigues Serejo vivia com a avó. Mas não era possível trabalhar e responder, sozinha, a todas as necessidades da avó. A família (que vive no sul do país e no estrangeiro) decidiu colocá-la num lar. Como doente crónica, a avó com 98 anos e cinco meses (numa idade tão avançada anotam-se todos os meses como mais uma celebração) tem episódios frequentes de problemas pulmonares que obrigavam a ser vista no hospital público mais próximo. Ligavam-lhe do lar privado onde estava (sem comparticipação da ADSE), muitas vezes de madrugada porque estava outra vez com falta de ar. "Eu passei a ir três a quatro vezes por semana de madrugada e passava horas numa urgência caótica, atulhada de velhotes." Era tratada e enviada para casa.
Mas os episódios foram piorando e, já em 2018, teve uma embolia pulmonar. Novo problema: interná-la no público ou no privado? "Imagine o que é, no contexto hospitalar, enfermarias enormes, sujeita a ser contaminada com todo o tipo de doenças, não há pessoal para fazer o devido acompanhamento", como levar a avó com a frequência que necessita à casa de banho e mantê-la com essa dignidade de não ter de usar fralda. Como a avó descontara para os serviços sociais do Ministério da Justiça (entretanto integrados na ADSE), a família interná-la num hospital privado. Esteve ali 30 dias a recuperar e depois foi enviada para outro, para convalescer.
Mas "ela agudizou. Necessita de oxigénio e vigilância médica constante", "pode estar uma semana bem, com as coisas controladas, mas a meio da noite dispara tudo." De abril a outubro, todos os relatórios médicos enviados pelo corpo clínico deste hospital foram aceites pela ADSE. "Os médicos atestam que é preferível ela permanecer ali, no que chamam convalescença e internamento de longa duração" do que "ir para um sítio onde não haja vigilância médica e apoio médico efetivo 24 horas", explica à SÁBADO.
A partir de outubro, os relatórios passaram a ser recusados referindo que não existe necessidade de estar internada. Logo, sem aceitar os relatórios, a ADSE também não comparticipou os meses de dezembro e janeiro. E não foi só com a avó de Cristiana: ocorreu com pelo menos outros 14 beneficiários de ADSE neste hospital privado, em internamentos de longa duração ou convalescença.
Privados não respondem
A SÁBADO perguntou aos principais grupos de hospitalização privada do País (Mello Saúde, Luz Saúde, Lusíadas, Trofa) se se registavam situações semelhantes às deste hospital do Norte do País. A viverem um período de agudização das suas relações com a ADSE, com a ameaça de cancelarem as subvenções que têm com este instituto, nenhum respondeu.
A SÁBADO perguntou aos principais grupos de hospitalização privada do País (Mello Saúde, Luz Saúde, Lusíadas, Trofa) se se registavam situações semelhantes às deste hospital do Norte do País. A viverem um período de agudização das suas relações com a ADSE, com a ameaça de cancelarem as subvenções que têm com este instituto, nenhum respondeu.
Apenas o Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, que tem estatuto organização sem fins lucrativos e IPSS, esclareceu que "é normalíssimo haver solicitação de dúvidas da ADSE" através da sua plataforma (e não por email ou carta) mas que as recusas não têm sido em quantidade "relevante".
Regras mais apertadas
A SÁBADO pediu esclarecimentos diretamente para o email de Sofia Portela a propósito da carta que lhe foi endereçada, mas não obteve resposta até ao momento. Contudo, esta decisão da ADSE virá na sequência de um aperto no controlo que a nova direção do organismo iniciou.
A SÁBADO pediu esclarecimentos diretamente para o email de Sofia Portela a propósito da carta que lhe foi endereçada, mas não obteve resposta até ao momento. Contudo, esta decisão da ADSE virá na sequência de um aperto no controlo que a nova direção do organismo iniciou.
Isso mesmo confirmou à SÁBADO a Associação 30 de julho, que representa os beneficiários: "A ADSE tem, de facto, estado a analisar casos de internamentos prolongados que mais não são que a prestação disfarçada de Cuidados Continuados Integrados, relativamente aos quais a ADSE não comparticipa ou reembolsa, nos termos das suas regras." Essa é uma responsabilidade do Serviço Nacional de Saúde.
Cristiana Rodrigues Serejo reconhece que "a ADSE queira regularizar a situação", apesar de a estes familiares nunca ter sido dito que "eram cuidados continuados disfarçados". Sempre foi referido que estavam ali em "internamentos de longa duração ou convalescença".
Entre os cerca de 15 beneficiários afetados neste hospital do norte do país onde está internada a avó de Cristiana, alguns foram já retirados para outras instituições privadas. Outros não têm ainda solução. Com a rede pública de cuidados continuados praticamente descartada (a acreditar pelo que lhe foi dito no centro de saúde sobre a avó não ser prioritária) e depois de muitas semanas a procurar todas as soluções, Cristiana Rodrigues Serejo conseguiu encontrar uma Misericórdia com hospital. Mas nem aqui a entrada será direta: tem que entrar pelo hospital, onde para já não há vagas, por estarmos em época de gripes. "O problema é como isto está a ser gerido", critica. "Não podem analisar as pessoas como números."
Depois de semanas de incerteza, cartas e comunicações, esta quinta-feira, 28, surgiu a hipótese de uma reunião de Cristiana Serejo com a ADSE."
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