"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
sexta-feira, 29 de junho de 2018
Poema de Emily Dickinson, traduzido por Jorge de Sena, in Net:
Ter Medo? De quem terei?
Não da Morte – quem é ela?
O Porteiro de meu Pai
Igualmente me atropela.
Não da Morte – quem é ela?
O Porteiro de meu Pai
Igualmente me atropela.
Da Vida? Seria cómico
Temer coisa que me inclui
Em uma ou mais existências –
Conforme Deus estatui.
Temer coisa que me inclui
Em uma ou mais existências –
Conforme Deus estatui.
De ressuscitar? O Oriente
Tem medo do Madrugar
Com sua fronte subtil?
Mais me valera abdicar!
Tem medo do Madrugar
Com sua fronte subtil?
Mais me valera abdicar!
De Jorge de Sena, in O citador, Net:
O Sentimento Religioso é o Mais Inconfessável de Todos
A religião, ou o sentimento religioso, é o mais inconfessável de todos: não por irracional, mas porque é da sua mais íntima natureza o silêncio da vida física do universo, que só faz barulho por acaso e não para a gente ouvir. Que mais não fosse, acharia ridícula, e acho, a atitude dos «libertos», nascidas da cabeça de Júpiter, desirmanados de tudo quanto encarnou as dores e as esperanças de uma humanidade dolorosamente em busca do seu próprio corpo. Mais que ridícula, criminosa, estulta, digna dos raios divinos, se os houvesse. Neste sentido, me é respeitável a religião considerada na sua acção interior e na sua simbólica aparente; e, como poeta, não posso deixar de ser sensível ao paganismo que a Igreja Católica não sonha - ou sonha até - a que ponto herdou. Quando a religião pretende fixar-se, lutar ligada a interesses materiais que geraram muitas das formas que ela tomou, evidentemente que sou contrário a ela, a aquela, porque sei que não há eternidade das formas e das convenções, mas sim da orgânica simbólica que assume uma ou outra forma, segundo o estado social em que se desenvolve.
A religião, ou o sentimento religioso, é o mais inconfessável de todos: não por irracional, mas porque é da sua mais íntima natureza o silêncio da vida física do universo, que só faz barulho por acaso e não para a gente ouvir. Que mais não fosse, acharia ridícula, e acho, a atitude dos «libertos», nascidas da cabeça de Júpiter, desirmanados de tudo quanto encarnou as dores e as esperanças de uma humanidade dolorosamente em busca do seu próprio corpo. Mais que ridícula, criminosa, estulta, digna dos raios divinos, se os houvesse. Neste sentido, me é respeitável a religião considerada na sua acção interior e na sua simbólica aparente; e, como poeta, não posso deixar de ser sensível ao paganismo que a Igreja Católica não sonha - ou sonha até - a que ponto herdou. Quando a religião pretende fixar-se, lutar ligada a interesses materiais que geraram muitas das formas que ela tomou, evidentemente que sou contrário a ela, a aquela, porque sei que não há eternidade das formas e das convenções, mas sim da orgânica simbólica que assume uma ou outra forma, segundo o estado social em que se desenvolve.
Jorge de Sena, carta a sua noiva Mécia Lopes, 15 Dezembro 1947
POEMA:obra regªªªªªªªª
UM SEGUNDO VITAL
Canso-me a acertar a Hora, do velho relógio,
donde me
escapa sempre o Segundo-Vital,
o do
Presente, esse momento virtual…
Sem ele, sou
apenas a ilusão do corpo…
…sou
Passado-lembrança em Vida semeado
e de olvido
cravejado.
Vivo das palavras
de todas as horas!
Só com elas
sou-o-que-SOU e com elas vou onde vão.
Verdade,
verdade é que,
(bem lá no
fundo)!
as palavras
são fortes mas dúbias,
pois
são ponteiros
do Tempo, o
grande senhor do mundo.
Mesmo fora
de horas, de minutos e de segundos,
levo-as
comigo quando passeio, quando fixo a Lua,
quando te
beijo nos momentos de todas as estações e
quando
percorro as areias brancas, à beira-mar-do-meu-tempo…
À beira-mar
das palavras, SOU!
Se as levo,
volto a
trazê-las dentro da eternidade dos poemas,
-(eternos
companheiros da idade)-
onde me
fecho,
num virtual momento,
na ânsia de
encontrar o fio que me liberta
do labirinto
de ideias…
Maria Elisa
Ribeiro
JNH/018
quinta-feira, 28 de junho de 2018
quarta-feira, 27 de junho de 2018
Poema
Poema
RESTOLHO...
PASSOS…
Pelos atalhos,
por areias e pedras.
pelas ervas verdes das matas fechadas,
faias e olaias estão descansadas…
…os animais já as não vigiam…
…nada, nem ninguém, agora os persegue.
A noite é dos segredos, que o poeta escreve.
Pelos céus, as nuvens desenham círculos perfeitos
e as chuvas caem nos campos e nas matas
a escorregarem pelas cascatas
enchendo os charcos de aluviões.
Restolha a folhagem quase prateada, quase com vida,
num golpe de luz,que foge da lua…
Anuncia a chegada dos passos de anjos
na noite calma em que o poeta dormita
sobre a palavra que ,por fim, reluz…
Maria Elisa Ribeiro
AGOSTO/014
De Tabucchi...
De António Tabucchi (1943-2012), in O Citador:
A Vida não Está por Ordem Alfabética
A vida não está por ordem alfabética como há quem julgue. Surge... ora aqui, ora ali, como muito bem entende, são migalhas, o problema depois é juntá-las, é esse montinho de areia, e este grão que grão sustém? Por vezes, aquele que está mesmo no cimo e parece sustentado por todo o montinho, é precisamente esse que mantém unidos todos os outros, porque esse montinho não obedece às leis da física, retira o grão que aparentemente não sustentava nada e esboroa-se tudo, a areia desliza, espalma-se e resta-te apenas traçar uns rabiscos com o dedo, contradanças, caminhos que não levam a lado nenhum, e continuas à nora, insistes no vaivém, que é feito daquele abençoado grão que mantinha tudo ligado... até que um dia o dedo resolve parar, farto de tanta garatuja, deixaste na areia um traçado estranho, um desenho sem jeito nem lógica, e começas a desconfiar que o sentido de tudo aquilo eram as garatujas.
António Tabucchi, in 'Tristano Morre'
De Mandela...
De Nelson Mandela (1918-2013), in Net:
Reinstalar a Solidariedade Humana
Os valores da solidariedade humana que outrora estimularam a nossa demanda de uma sociedade humana parecem ter sido substituídos, ou estar ameaçados, por um materialismo grosseiro e a procura de fins sociais de gratificação instantânea. Um dos desafios do nosso tempo, sem ser beato ou moralista, é reinstalar na consciência do nosso povo esse sentido de solidariedade humana, de estarmos no mundo uns para os outros, e por causa e por meio dos outros.
Os valores da solidariedade humana que outrora estimularam a nossa demanda de uma sociedade humana parecem ter sido substituídos, ou estar ameaçados, por um materialismo grosseiro e a procura de fins sociais de gratificação instantânea. Um dos desafios do nosso tempo, sem ser beato ou moralista, é reinstalar na consciência do nosso povo esse sentido de solidariedade humana, de estarmos no mundo uns para os outros, e por causa e por meio dos outros.
Nelson Mandela, in 'Walk to Freedom'
terça-feira, 26 de junho de 2018
“Who is this stupid God?" The remarks of President Rodrigo Duterte startled even some of his supporters in the Philippines, which is more than 80 percent Catholic.
NYTIMES.COM
Disparaging remarks about God by President Rodrigo Duterte have led to his sharpest clash yet with the Philippines’ politically powerful Catholic Church.
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