segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Miguel Torga

De Miguel Torga, in Net:
A Brandura dos Nossos Costumes
A brandura dos nossos costumes... A delicadeza da nossa alma... O sentimentalismo do homem português... É, é! Viu-se no passado, e vê-se no presente. O que nós somos é hipócritas! Amamos a violência disfarçada, a tirania encoberta, o arrocho secreto. O medo do escândalo — que até no plano criador nunca nos permitiu grandes atrevimentos — é que tem sido o freio da nossa crueldade. Haja qualquer alvaiade para encobrir a sevícia, e Deus tenha piedade da vítima. Vilões sempre que nos põem a vara na mão, só não vamos às do cabo por cobardia. E é na denúncia irresponsável, na perfídia impune, na aleivosia anónima que cevamos a maldade. Realmente, nunca matamos o toiro. Cobrimo-lo de farpas, cristãmente.
Miguel Torga, in 'Diário (1957)'

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