segunda-feira, 6 de março de 2017

Sobre Antero de Quental...



O pensamento de Antero de Quental-excerto-in cvc.instituto.camoes.pt:

..."Nos primeiros anos da sua actividade, Antero foi um pensador instável, conhecendo sucessivas fases de evolução do seu ideário, ora de entusiástico idealismo, ora de negação e descrença, vindo a culminar, no final da vida, numa fase de maturidade e serenidade crítica a que correspondem os seus mais profundos textos em prosa, com destaque para A filosofia da natureza dos naturalistas (1886) e sobretudo para as Tendências gerais da filosofia na segunda metade do século XIX. (1890).

Nestes textos afirma o que considera ser «a minha filosofia» ou «o meu sistema» elaborado no quadro do grande debate do século XIX entre cientismo e metafísica. Daí o seu idealismo naturalista, preocupado, por um lado, com a delimitação da esfera de actuação do conhecimento científico fora do apriorismo abstracto do espírito de sistema hegeliano e com aproximação ao neokantismo, e, por outro lado, com o restabelecimento dos direitos da metafísica, por reconhecer que o conhecimento científico não é o conhecimento último e perfeito, nem o ponto de vista científico esgota a compreensão da realidade, por isso que nenhuma abstração ou generalização dos dados da ciência pode bastar-se sem ser fecundada pelo ponto de vista das ideias metafísicas, que no texto sobre a Filosofia da natureza dos naturalistas considera serem as de causa, substância e finalidade «às quais têm de ser referidas em última instância as conclusões da ciência».

As ideias metafísicas são ora postulados para as diferentes ciências, ora princípios fundadores duma explicação geral do universo. Por isso, a filosofia não pode ser, como para o positivismo, o quadro empiricamente ordenado dos factos do universo, mas sim a sua compreensão e explicação racional: «metafísica e ciência são duas séries convergentes que partem de pontos opostos e com leis de desenvolvimento diversas; mas, como convergentes, encontram-se: o ponto onde se encontram e, sem se fundirem, reciprocamente se penetram, é que é a filosofia. A filosofia tem pois por matéria a ciência, por forma a metafísica», sendo essa convergência que o faz sustentar a ausência de antinomias aparentes que só se afirmam pelo divórcio empobrecedor entre ambas.

Por isso entendeu que «quem diz filosofia diz idealismo», porque «só o sistema das ideias contém inteira a explicação das coisas», mas um idealismo que, para estar à altura do grande século das ciências naturais, não precisa de rejeitar o determinismo universal e a evolução como forma mecânica desse determinismo, necessitando isso sim, de não ficar por aí, pois tal determinismo e tal evolução são para a filosofia «o seu ponto de partida e a forma universal da fenomenalidade que a generalização científica lhe fornece e que ela, a filosofia, terá de analisar e interpretar à luz das ideias». Assim, «se a conclusão final das ciências tem de ser, como creio, o mecanismo universal, a conclusão final do pensamento metafísico tem por seu lado de ser o universal idealismo», simplesmente, era essencial compreender que entre esses dois termos não havia contradição, representando um e outro a tese e a antítese redutível a uma síntese que designou por materialismo idealista, ou por um idealismo dentro do naturalismo.

O drama no qual se situou foi o de rejeitar um naturalismo dogmático, à maneira de Hegel, que fazendo ciência "a priori", cristalizava numa dialéctica «gelada e inerte», ou num «epicurismo egoisticamente contemplativo», contra o qual protestava também a psicologia, «em nome da liberdade moral e da consciência»; e, por outro lado, um naturalismo empírico, identificado com o struggle for life, sentindo a sua alma a necessidade de devolver o primado à razão prática, culminando numa visão moral do mundo.

Foi para superar essas insuficiências que elaborou o seu pampsiquismo ou pandinamismo, por si entendido como a expressão mais elaborada do espiritualismo, fortemente inspirado na monadologia de Leibniz, e na ideia leibniziana de força, realizando assim a unidade entre o espírito e a natureza, entre o mecanicismo e a liberdade, a ciência e a metafísica."...

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