segunda-feira, 6 de março de 2017


O betão armado, o ferro e o cimento
MARÇO 4, 2017PAULO VIEIRA DA SILVA 3 COMENTÁRIOS


Hoje no Expresso o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirma que “esta solução de Governo parece de cimento armado”. Eu diria mesmo que mais parece betão armado.

Pedro Passos Coelho foi daqueles que nunca acreditou no sucesso da fórmula governativa criada por António Costa que juntou pela primeira vez na história da democracia portuguesa toda a esquerda. Passos apostou as “fichas” todas na rápida desagregação da “geringonça”. E este foi o seu grande erro político.

Passos apressou-se rapidamente a anunciar o regresso do diabo – a troika – mas a esquerda percebeu e bem que o diabo afinal poderia ser o próprio Passos Coelho se a solução governativa fosse firme e tivesse sucesso. Os dias foram passando, os meses também e a geringonça já tem mais de um ano de governação com aparente sucesso e o apoio maioritário dos portugueses.



Pelo meio tomou posse o novo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que tudo tem feito para manter estabilidade política no País. Em algumas situações pareceu-me mais socialista que alguns socialistas, nomeadamente agora no caso da Caixa Geral de Depósitos fazendo a defesa da manutenção no governo de Mário Centeno.

O problema de Passos Coelho e do PSD é que nunca suportaram a ideia de terem sido afastados do poder apesar de terem ganho as eleições. Mas a Democracia é assim mesmo e conseguiu chegar ao Governo quem conseguiu apresentar a solução governativa mais estável. E esta foi apresentada e criada por António Costa.

António Costa inaugurou um novo tempo na política portuguesa. É justo reconhecer que teve o mérito de congregar à sua volta o que nunca ninguém tinha conseguido no passado. A política é muitas vezes feita de diálogo, pontes e congregação de vontades. António Costa tem esse inegável mérito.

Desde a noite de 5 de Outubro de 2015 que Passos Coelho e a sua pequena entourage enfiou-se no bunker e vivem desfasados da nova realidade política e social do País. O calendário dos seus relógios continua a marcar 5 de Outubro. Apenas saíram do buraco para fazerem a sua prova de vida mas sempre sem sucesso. Foi na TSU, foi na CGD. A isto acresce tropeçarem não raras vezes em algumas minas e armadilhas que deixaram no terreno do tempo do seu Governo. A última e que ainda continua sem explicação é da saída de 10 mil milhões de euros, entre 2001 e 2014, sem o filtro da Autoridade Tributária.

Todos perceberam que o cimento da geringonça tem um nome e chama-se Passos Coelho. Da direita à esquerda portuguesa, menos o próprio Passos e os “morgados” desta vida. Marcelo foi o euromilhões de António Costa porque acrescentou o ferro que faltava para dar solidez ao seu Governo. Por sua vez António Costa teve, até ao presente momento, o mérito de juntar o cimento e o ferro e desta forma ter conseguido fazer um bom betão armado que tem sustentado a sua solução governativa.



O Bloco de Esquerda e o Partido Comunista perceberam que o seu eleitorado não lhes perdoaria se pelas suas acções este governo caísse podendo voltar a Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho. Também sabem que Marcelo num cenário de uma crise política estaria ao lado de Costa. Por outro lado não querem correr o risco de António Costa, em eleições antecipadas, conquistar a maioria absoluta dispensando os seus serviços no apoio à governação do País. Por isso BE e PCP vivem nesta tripla e permanente inquietude e dúvida. Ao longo destes meses vão fazendo os seus números políticos para mero consumo interno, num faz-de-conta que Marcelo e António Costa já perceberam à distância.

Nesta nova equação política enquanto pelos menos duas das variáveis se mantiverem – Passos Coelho na liderança do PSD e António Costa no limiar da maioria absoluta – Bloco e Comunistas segurarão, em nome da sua sobrevivência política, o governo socialista. Apenas a saída de Passos Coelho da liderança do PSD poderia fazê-los reequacionar as suas posições politicas face a António Costa e ao seu governo.

Entretanto a preparação das eleições autárquicas também evidenciam um PSD cada vez mais frágil e incapaz de mobilizar pessoas de referência para as suas listas. A questão de Lisboa é mesmo paradigmática.

O mito do Passismo para ser morto e enterrado, de vez, parece-me que terá que passar por uma derrota em eleições legislativas. Parece-me que Passos Coelho vai de vitória em vitória interna até à derrota final. Depois veremos o que ainda sobrará do PSD!

Paulo Vieira da Silva

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