MÍSTICO DO REAL
(Inédito publicado na COLECTÂNEA DE MODOCROMIA, “PALAVRAS DE
CRISTAL)
Sob as névoas etéreas da noite, sussurram ventos nas águas
das solitárias fontes…
As brisas esculpem os fundos regos da terra
onde se esboça a vida da madressilva e do lírio…
A montanha floresce no cantar dos raios de luar, sol da
noite a cantarolar o azul do céu
que, lânguido, se deita por sobre as águas do mar.
Fecho os olhos.
Vejo
dois mundos distintos,
o real e
o do sonho…
Por eles vou viajar
em horizontes do sonho,
perdidos no Longe-do- vulto de um eterno Desconhecido.
Fala-me a aurora de tempos imemoriais
que se uniram a pedras duras, monumentais,
nascidas em futuros pinheirais-verdes-de-aromas-catedrais.
Um Infinito sem
perfil-a-achar, ruge em aparências que se esfumam no triste
canto de um rouxinol
a acumular lágrimas musicais…
Por dentro do vulto que sou, vejo o Tempo que por mim passou
a rondar o Sonho…
Há nuvens a abraçar o Além dos lamentos de dor no brilho dos
cristais…
Ilusões de belezas grandiosas, clamam dos fundos dos mares
das tormentas universais.
O sol fecunda o brilho do ventre cósmico…
Os
astros passeiam nas teias das estrelas imortais…
Cada palavra que se
impõe-em-mim subsiste par que interrogue o mundo.
O seu tempo-no-meu-tempo
acaba quando o Tempo chegar…
No entretanto-de-mim,
aflora a maciez de veludo nos templos da natureza,
a acompanhar o caminho da minha solitária
e silenciosa Procura.
Qual narciso pretensioso fixa as águas dos ribeiros a correr
para o mar ,onde quer permanecer.
Sorri ao odor
das rosas em dança de mariposas ,
flutuantes e teimosas, em colorir néctares-a-flutuar!
Cada palavra minha é
fé e dúvida.
É mar interior a desbravar terreno, tão inóspito quanto
difícil de deslindar…
…e vejo quão necessária é uma gramática-da-mística do âmago
para explicar a verdade que não existe-subsistindo-na
–essência do ser!
Não percebo bem nada do Resto-que-me-sustém!
Sou cósmica…sou húmus de estrelas…sou mentira da minha
verdade-
-na verdade da mentira que sou!
Sou redoma aberta aos cânticos do universo e fragmento de
raio solar!
(Sinto-me acompanhada
por Algo Maior que o Homem
nos meus embates
angustiosos com a realidade…)
Sou tempo do Tempo que foi, que É e que Há-de ser,
até que ele se canse e viva no cume das árvores
a arrastar pós de
estrelas
pelas eras-de
–EU-Ser…
O sentido das
palavras…? Hei-de sabê-lo DEPOIS…
Maria Elisa R. Ribeiro
(Marilisa Ribeiro)- MST/MRÇ/013