terça-feira, 6 de setembro de 2011

FADO: CANÇÂO NACIONAL? ou CANÇÃO DE LISBOA??





Dei comigo a questionar este tema, depois de ter visto, um dia destes, uma alusão a esta questão. Pois se nós até queremos que o FADO seja PATRMÓNIO DA HUMANIDADE…Mas, a coisa, afinal, não é tão fácil de discutir como se possa pensar…
Fui à BIBLIOTECA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA pesquisar e fui ver, na NET, o que se diz a este respeito. Por tal motivo, aquilo que aqui vos deixo, é fruto de muito trabalho e só não é maior este post, porque eu sei que dá trabalho a ler…
Uma questão que se impõe: como, quando, de onde, surgiu o Fado?
Os historiadores são menos que unânimes a respeito deste assunto! E eu que pensava ser fácil dizer que nasceu em Lisboa, lá pela zona das docas, do porto de embarque e que, como as mais importantes manifestações vocais dos portugueses, se foi espalhando, de boca em boca e de geração em geração, partindo do canto das prostitutas do ambiente marítimo, nas tavernas, para todos os outros pontos de Portugal…
Há investigadores que defendem a tese anterior, de que foi ali, nas ruelas da capital que o fado nasceu, como uma cantoria cantada e tocada por pobres, indigentes e prostitutas do cais, que trabalhavam nas tavernas, onde aportavam marinheiros, comércio,.
e culturas de todo o mundo.

Outros, defendem a proveniência do Fado já dos tempos do romanceiro Português, com raízes na Idade Média, no tempo das monocórdicas cantigas árabes, dos lamentos das damas das Canções de gesta, que foram sofrendo alterações ao longo das eras, à medida que passavam de geração em geração. Tem sido fruto de grandes estudos e teorias, a origem do Fado. O historiador JOSÉ ALBERTO SARDINHA defende esta tese; o músico RUI VIEIRA NERY associa as origens do Fado a sítios bem longe de Lisboa, indo pelas influências árabes do tempo da Reconquista, passando pelo Bairro da MOURARIA, estando, por conseguinte, na linha de SARDINHA. As dolência e melancolia comuns ao Fado , bem a par da SAUDADE ,situam-no em PORTUGAL e nisso parece não haver divergências. Outros historiadores defendem que, num período em que a primeira globalização da História nos levou a entre ligar três continentes como Europa, América e África, o mesmo se passou com a cultura, os usos, costumes e tradições, pelo que nada mais fácil que umas civilizações sofressem as influências das outras…
Daí que nada mais natural que a Cantiga Portuguesa possa ter influências também das MODINHAS e do LUNDUM brasileiro, nomeadamente. É bom não esquecer que a corte portuguesa se mudou para o BRASIL, no século XIX, por causa das invasões francesas; com a corte e os colonos levámos a nossa cultura que foi influenciada (eu diria, enriquecida) com a cultura dos índios ameríndios e a dos escravos.
O porto de mar, em Lisboa, era, por conseguinte, o ponto de encontro de gentes variadas. O cantar dos marinheiro, as cantigas tristes dos degredados, as de” levantar ferro”,as cantigas de todo o tipo de fainas à beira do porto, as cantigas dos marinheiros à proa dos barcos que iam zarpar…eram de melancolia, de saudade amarga e feroz, como só a VIDA exige…

A seguir transcrevo aquele que é considerado o mais antigo Fado de PORTUGAL, o FADO DO MARINHEIRO:

“Perdido lá no mar alto/Um pobre navio andava;/Já sem bolacha e sem rumo/ a fome a todos matava./Deitaram a todos as sortes/ A ver qual deles havia/ Ser pelos outros matado/ P’ro jantar daquele dia. /Caiu a sorte maldita/ No melhor moço que havia…/
Ai como o triste chorava, /Rezando à Virgem Maria! /Mas, de repente, o gajeiro/ Vendo terra pela proa/Grita alegre pela gávea/ Terras, terras de Lisboa”- in CANCIONEIRO POPULAR.
Hoje, o fado afidalgou-se! Embora a sua temática seja sempre o sofrimento, a saudade, o amor traído, a tragédia, a desgraça, o ciúme e outras “misérias” da Alma, desde o passado século as letras são mais cuidadas, os sons enriqueceram-se e o vocabulário é moderno.
Desde os tempos de AMÁLIA, HERMÍNIA SILVA E MARCENEIRO o Fado começou a galgar distâncias e a correr mundo, como fizeram os antigos marinheiros. Hoje vemo-lo actuar na sensibilidade de povos como os japoneses…E os nomes de MARIZA, TERESA SALGUEIRO, CAMANÉ, KÁTIA GUERREIRO, ANA MOURA e tantos outros, enlouquecem plateias de todo o mundo.

Falta-me referir o chamado “FADO DE COIMBRA” que de fado, segundo os entendidos, nada tem, pois é uma balada, toada, trova… mas não FADO; hoje canta-se o fado com a preciosa prestação de serviços da GUITARRA PORTUGUESA, que nem sempre foi guitarra e nem sempre foi portuguesa! No tempo do Renascimento (XV/XVII) passeou-se pela EUROPA um instrumento de 12 cordas, chamado CISTRO, que foi para a Alemanha, Itália e Inglaterra, de onde veio parar a PORTUGAL. Ao longo das eras foi sendo modificado, de tal ordem que é hoje conhecido como Guitarra Portuguesa…

E termino: o fado representa, de qualquer modo, a melancolia deste meu povo, em constante sofrimento, seja por que motivo for… ao ouvi-lo, sente-se o cheiro inconfundível do mar, que nos arrastou pelos cantos mais recônditos do mundo…
E sim, são os bairros de ALFAMA, MOURARIA, MADRAGOA E BAIRRO ALTO que estão ligados às suas origens, pelo que o Fado, antes Canção de Lisboa, é hoje uma Canção nacional. Os bairros são PORTUGAL!

5 comentários:

  1. Cara Maria Ribeiro,

    De facto, o Fado é nacional, na medida em que é uma canção portuguesa ainda que, em rigor, seja lisboeta. É verdade que existem várias teses sobre a sua origem; a tese dos "descobrimentos", a tese "árabe, a tese dos "romances provençais" e a tese "brasileira". Todas terão alguma coisa de verdade, porque não há músicas "puras" e o Fado é, certamente, uma síntese de várias influências.
    No entanto, e ao contrário do que diz Alberto Sardinha, as influência do "romance europeu" no Fado não fazem deste género musical uma canção de origem rural. Também não é verdade que Ruy Vieira Nery (certamente o maior especialista da matéria) esteja de acordo com Sardinha. De resto, cronologicamente, a obra de Nery saiu em 2004 e a de Sardinha em 2010.
    Se queremos ser rigorosos, e baseando-nos nos conhecimentos actuais, o Fado (como o conhecemos hoje) deve ter surgido em meados do século XIX (1830-40) muito por influência da população negra regressada do Brasil com a corte do rei D. João VI, que, já no século XVIII, praticava uma dança chamada "fado" no Brasil. É essa dança/ritmo que misturado com as canções interpretadas pelas populações marginais da cidade de Lisboa (marinheiros, prostitutas, proxenetas, lumpen) dará origem, mais tarde, à forma de Fado que conhecemos.
    Nery, que defende esta tese, confirma assim a teoria de Tinhorão em "Fado: o fim de um mito - dança do Brasil, canção de Lisboa" (ed. Caminho, 1994).
    Porque a tese é de um brasileiro, os teóricos nacionalistas lusitanos (entre os quais o Sardinha, um etnógrafo amador) descobriram agora o Fado rural. O Ruy Vieira Nery já rebateu esta tese que, de resto, não tem fundamentos científicos. Espero tê-la ajudado...

    Abraço

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  2. Amigo Rui Mota: gosto de aprender! Adorei o seu comentário, que me enriqueceu!Acredite que, antes de escrever este artigo, procurei informar-me. Fico feliz por me ter ensinado mais, pois vejo que é uma pessoa informada.
    Beijo amigo e volte sempre que sentir vontade!
    Mª Elisa

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  3. Belissimo trabalho, minha querida!
    Gosto de fado ,sempre gostei...apesar de ter nascido noutras paragens! O fado não é mais do que um lamento da alma...por isso, merece ser património da humanidade!
    Beijo amigo.
    Graça

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  4. Sonhadora: beijinho de obrigada, amiga!
    Lisa

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  5. Gracinha: gosto mais do chamado "Fado de Coimbra"...Mas o Fado, é como dizes, u património rico, que merece tal honra!
    Beijinhos
    Mª Elisa

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