domingo, 23 de junho de 2024

Estudantina Universitária de Coimbra - Meia Noite Ao Luar

Enya I Could Never Say Goodbye Lyrics

Vangelis - To the Unknown Man (Audio)

De Chaplin

A filosofia de
Charles Chaplin
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POEMA








 VOZES DO SILÊNCIO

Ouço tantas vozes no meu silêncio…
…vozes dos ventos que fustigam as árvores
e vozes dos rios apressados
a deslizarem para o mar
dos largos oceanos,
retalhados por velas lusitanas…
…e vozes do mar, que se apressa a juntar oceanos
em palavras de saudade e de dor,
desvendadas pelo poema,
que se apresenta na crista das ondas alteradas, com fulgor.
Fora das vozes do meu silêncio, chega uma nova noite
cheia de rumores, de sussurros abafados e de murmúrios abraçados
à luz da estrela da noite…
O vento bate forte na vida do bosque,
onde deixa impressas palavras insurretas,
de revoluções do amor…
Maria Elisa Ribeiro
Maio/017

Bom dia, meus amigos (as) !


 

sexta-feira, 21 de junho de 2024

POEMA

 POEMA :











UM INFINITO DE NÓS
Tantos momentos foram passando,
sem que nos lembrássemos
de os segurar em nós…
Das belas cores incandescentes que rodearam o nosso viver,
permitimos que o calor se perdesse em gargalhadas multicolores,
como gotas de orvalho ao sol,
o que fez com que se complicassem as esperanças dos momentos
sussurrados,
na nossa vontade de nos ouvirmos.
Perdemos o padrão dos sorrisos que,
mesmo sem os tantos-momentos-de-nós
nos poderiam fazer convergir para UM-Infinito.
Como o Infinito é inatingível, espalhámos esses momentos
pela vida telúrica das flores dos frutos loucamente maduros,
das ervas-de-cheiro
e dos atalhos conspurcados das ruas…
E se o vento soprar forte,
pode acontecer que sejamos
capazes de tocar a face de cada um de nós.
Maria Elisa Ribeiro
AGT/018

Crónica de António Lobo Antunes com a super colaboração de ANNA Horta Barreiros, in Internet

 

Supercolaborador
 7 de junho às 05:31 
Se calhar as minhas grandes paixões passaram-se entre os doze e os quinze anos: por cromos de artistas de cinema que vinham nas embalagens das pastilhas elásticas, pela tia de um colega da escola que me passou a mão no cabelo, por meninas que patinavam no Jardim Zoológico e não me ligavam nenhuma, por uma senhora da idade da minha mãe que encostou a perna à minha no eléctrico, por uma outra, mais velha ainda, que me pegou na mão no cinema. No intervalo, loiríssima, fumou um cigarro de filtro doirado sem olhar para mim a fim de que não pensassem que namorávamos, visto que os assuntos sérios querem-se com recato e eu ainda não tinha dito nada aos meus pais, tornando o noivado oficial, mas a seguir ao intervalo, no escuro, discreta e suave, pegou-me na mão outra vez, largou-a para me acariciar o joelho
(eu usava, imperdoavelmente, calções)
demorou-se no princípio da coxa, com pressões várias e lentas
(sentia-lhe os anéis)
regressou à mão, entrelaçou os dedos nos meus, fez-me cócegas, com as unhas, na palma, o polegar passeou-me para baixo e para cima pulso adiante, mal o filme acabou levantou-se e nunca mais a vi. Quer dizer, vi o cabelo loiro a entrar num táxi e chovia. Não há nada mais triste que um amor sincero terminado à chuva. O reflexo das luzes nas poças de água quase me impedia de respirar de dor. Levei para aí um ano a recompor-me. Se não foi um ano foi uma semana, o que vem a dar no mesmo, inconsolável por pensar que teríamos sido felizes. Não tenho a menor dúvida que teríamos sido felizes, são coisas que se percebem. E, por estranho que pareça, ainda hoje o reflexo das luzes nas poças de água me dá uma espécie de melancolia mansa.
Depois da senhora mais velha que a minha mãe, para aí com quarenta anos que é número que dá vertigens, recuperei graças às gémeas Kessler, alemãs ou suíças ou holandesas, é tudo igual, que cantavam, vestidas do que eu achava serem fatos de banho, na televisão. Logo duas, de pernas compridíssimas
(quatro pernas)
para trás e para a frente, e penachos na cabeça cintilando milhares de diamantes e pérolas. O problema era que não conseguia decidir-me, escolho a da esquerda, escolho a da direita, tinham o mesmo sinal na mesma bochecha, o mesmo sorriso inalterável, a mesma cintura, os mesmos movimentos, desciam a mesma escada na mesma cadência, ponderei
- Fico com as duas?
este pensamento poligâmico, dito ao prior na confissão, traria na volta uma fiada interminável de Ave Marias de penitência e uma tarde inteira na igreja a pagá-las, para além do receio que o prior, amigo do meu avô, o fosse escandalizar com as minhas poucas vergonhas. Já estava a vê-lo chamar-me ao escritório, sentar-se à secretária, ordenar
- Chega aqui
eu de pé do outro lado, à espera, enquanto o meu avô, terrível, em silêncio e de pálpebras descidas, mudava o filtro da boquilha, endireitava objectos numa indignação lenta, passava uma folha do calendário de argolas que demorou um século a virar, fitou-me outro século numa mudez de mau agoiro e vociferou por fim, pronunciando cada sílaba numa martelada de ultraje
- Com que então as duas gémeas Kessler ao mesmo tempo, seu bandido?
enquanto alongava o pescoço para o corredor na esperança que a minha avó não desse conta da infâmia e corresse a prometer novenas para me salvar da eternidade de labaredas e tridentes. Obrigado a deixar as gémeas Kessler, que provavelmente agonizaram de desgosto sob os penachos, passei um longo período de reflexão abstinente até começar a comover-me, aos poucos, com as nádegas da cozinheira, que cheirava a pezinhos de porco de coentrada da mesma forma que os mártires cheiravam a santidade. Ignorava que os pezinhos de porco fossem afrodisíacos
(sabia lá o que significava afrodisíaco)
mas pelos vistos não existia pai para aquilo. Joguei-lhe a palma ao rabo e, ao voltar a cabeça, estava a minha outra avó, na porta da cozinha, de queixo caído. Como era uma pessoa de profundo sentido político, um Tayllerand de saias, em lugar de indignações e ralhos propôs-me trocar as saliências posteriores da cozinheira por conta aberta na pastelaria quase ao lado da casa dela, que exibia na montra bolos de creme irresistíveis em que o creme tinha a forma de pintos de órbitas amarelas de fios de ovos e caudas de frutas cristalizadas. Cedi. Entre nádegas e bolos quem, normalmente constituído, não prefere os bolos? Após um momento de indecisão resolvi-me pelo açúcar em detrimento dos coentros. Só me indignou que, mal a cozinheira se despediu, a minha avó me fechasse a conta prevenindo que não queria um neto gordo. Tempos depois de a cozinheira se despedir a pastelaria fechou. Quem garante não ter sido a minha avó a mandá-la fechar? Se algum de vocês souber de uma pastelaria com bolos de creme em forma de pinto de órbitas amarelas agradeço que me diga: é que sinto vontade de me apaixonar outra vez.
António Lobo Antunes ( Crónica)

Bom dia, amigos e amigas! (Foto de Pinterest)


 

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Muito boa noite, amigos!


 

POEMA: BREVES

 

BREVES


 

Na ampla solidão da vida

meus dedos movem -se

a escrever a minha epopeia emparedada

no coração,

brusco som que ressoa

quando o mar bate numa penedia.

 

Com um nó na garganta ,

desejaria que se abrisse o areal ao meio,

para libertar notas abafadas

que seguro,

ao escondê-las

dentro do peito,

imperfeito esconderijo

das sinfonias não cantadas...

 

 

Maria Elisa Ribeiro

MRÇ/017

Da REVISTA MONET