segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Poema

 






TEMPO-RIO

 

 

 

O tempo é um rio que arrasta o Onde-eu-também-sou-Água.

Nele flutuo, como folha do espaço e do tempo

 chegada aos ares de Inverno

 com sabores de Outono, já pouco florido.

 

 

Nele sigo em direcção à contemplação que me comove...este solilóquio-comigo,

às claras no meio do abrigo confuso que é o Deserto-Longe,

com vestígios de formas e cores

 em restos de palavras...vestígios de frases

odores de vírgulas...impérios de Pontuações... e miríades de areias desfeitas.

 

 

As Palavras não me abandonam, não se afastam. Permanecem em diálogo mudo

quer com o deserto, quer com o rio.

 

 

Movo-me nelas às apalpadelas,

 como um coração que quer seu sangue

e como um quarto vazio à espera da luz que  trazes,

                                                                quando me visitas.

 

No Princípio do TUDO, foi o Caos,

 condição primordial para a vida que, depois ,apareceu.

 

 

O Universo continua a criar-se

disposto, de tempos a tempos, em altares do sagrado e do profano.

 

O poema torna-se coluna vertebral,

 das coisas diferentes que são a mesma coisa,

verdadeiramente... afinal...

 

 

 

MAIO/020

©Maria Elisa Ribeiro

Bom dia, amigos!


 

domingo, 30 de outubro de 2022

OS PROFESSORES-por José Luís Peixoto

 





Os Professores

O mundo não nasceu connosco. Essa ligeira ilusão é mais um sinal da imperfeição que nos cobre os sentidos. Chegámos num dia que não recordamos, mas que celebramos anualmente; depois, pouco a pouco, a neblina foi-se desfazendo nos objectos até que, por fim, conseguimos reconhecer-nos ao espelho. Nessa idade, não sabíamos o suficiente para percebermos que não sabíamos nada. Foi então que chegaram os professores. Traziam todo o conhecimento do mundo que nos antecedeu. Lançaram-se na tarefa de nos actualizar com o presente da nossa espécie e da nossa civilização. Essa tarefa, sabemo-lo hoje, é infinita.

O material que é trabalhado pelos professores não pode ser quantificado. Não há números ou casas decimais com suficiente precisão para medi-lo. A falta de quantificação não é culpa dos assuntos inquantificáveis, é culpa do nosso desejo de quantificar tudo. Os professores não vendem o material que trabalham, oferecem-no. Nós, com o tempo, com os anos, com a distância entre nós e nós, somos levados a acreditar que aquilo que os professores nos deram nos pertenceu desde sempre. Mais do que acharmos que esse material é nosso, achamos que nós próprios somos esse material. Por ironia ou capricho, é nesse momento que o trabalho dos professores se efectiva. O trabalho dos professores é a generosidade.

Basta um esforço mínimo da memória, basta um plim pequenino de gratidão para nos apercebermos do quanto devemos aos professores. Devemos-lhes muito daquilo que somos, devemos-lhes muito de tudo. Há algo de definitivo e eterno nessa missão, nesse verbo que é transmitido de geração em geração, ensinado. Com as suas pastas de professores, os seus blazers, os seus Ford Fiesta com cadeirinha para os filhos no banco de trás, os professores de hoje são iguais de ontem. O acto que praticam é igual ao que foi exercido por outros professores, com outros penteados, que existiram há séculos ou há décadas. O conhecimento que enche as páginas dos manuais aumentou e mudou, mas a essência daquilo que os professores fazem mantém-se. Essência, essa palavra que os professores recordam ciclicamente, essa mesma palavra que tendemos a esquecer.

Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios, contra o nosso futuro. Resistindo, os professores, pela sua prática, são os guardiões da esperança. Vemo-los a dar forma e sentido à esperança de crianças e de jovens, aceitamos essa evidência, mas falhamos perceber que são também eles que mantêm viva a esperança de que todos necessitamos para existir, para respirar, para estarmos vivos. Ai da sociedade que perdeu a esperança. Quem não tem esperança não está vivo. Mesmo que ainda respire, já morreu.
Envergonhem-se aqueles que dizem ter perdido a esperança. Envergonhem-se aqueles que dizem que não vale a pena lutar. Quando as dificuldades são maiores é quando o esforço para ultrapassá-las deve ser mais intenso. Sabemos que estamos aqui, o sangue atravessa-nos o corpo. Nascemos num dia em que quase nos pareceu ter nascido o mundo inteiro. Temos a graça de uma voz, podemos usá-la para exprimir todo o entendimento do que significa estar aqui, nesta posição.

Em anos de aulas teóricas, aulas práticas, no laboratório, no ginásio, em visitas de estudo, sumários escritos no quadro no início da aula, os professores ensinaram-nos que existe vida para lá das certezas rígidas, opacas, que nos queiram apresentar. Se desligarmos a televisão por um instante, chegaremos facilmente à conclusão que, como nas aulas de matemática ou de filosofia, não há problemas que disponham de uma única solução. Da mesma maneira, não há fatalidades que não possam ser questionadas. É ao fazê-lo que se pensa e se encontra soluções.

Recusar a educação é recusar o desenvolvimento.
Se nos conseguirem convencer a desistir de deixar um mundo melhor do que aquele que encontrámos, o erro não será tanto daqueles que forem capazes de nos roubar uma aspiração tão fundamental, o erro primeiro será nosso por termos deixado que nos roubem a capacidade de sonhar, a ambição, metade da humanidade que recebemos dos nossos pais e dos nossos avós. Mas espero que não, acredito que não, não esquecemos a lição que aprendemos e que continuamos a aprender todos os dias com os professores. Tenho esperança.

José Luís Peixoto, in 'Visão (Revista)'


Boa tarde de Domingo!


 

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Novo Poema






 DEIXA-ME SAIR DO PAPEL

Não te deites comigo, no meu silêncio…
Acorda-me, quando a noite chegada me guarda
adormecida no seu seio
e te aborda com aqueles pés de lã
que não reconhecem o vibrar das letras de um poema.
No meu sono
sinto uma poesia de amor-no-sonho-da-poesia-que-sou
no dia após-dia- do mundo solar,
herdado da dimensão inatingível de mãos tão antigas como as da noite…
…como as do vento ciumento…
…como a dos tempos Passados-no-Presente-deste-Futuro de Agora!
Acorda-me deste sono quando
em onírico deleite, sinto tuas mãos macias e ofegantes
a saltitar pelo corpo, como insecto voador que quer amar uma flor!
Deixa que saia do papel amarelecido e mergulhe as mãos no mar de
letras, sílabas, consoantes e vogais, reticências e pontos finais
que se encontram num lago de tons claros, dourado pelas estrelas radiantes
perdidas na tua harmonia…
Permite que o meu poema não dependa de uma moral ,
que não a verdade das tuas mãos delirantes…
E nem permitas que as rosas vermelhas da noite,
saibam a cor do teu aroma natural…
…ou que o orvalho telúrico te afaste para outra guerra…
…ou, ainda, que outras flores desfolhem as tuas pétalas
do amanhecer, quando tudo o que saltita voa à procura de mel…
Se pudesse bebia o fragor do teu amanhecer e
diria ao Sol ,
que te escondi numa torre de marfim
a cheirar a jasmim,
onde me vou fechar contigo-em-mim…
FEV/018
Maria Elisa Ribeiro
(Foto Google)

Bom dia, meus amigos!


 

o Homem é tolo e diabólico!

 

10 h 
The annual launch took place after Russia made unsubstantiated claims that Ukraine is plotting to use a "dirty bomb".

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Bom dia,amigos|


 

POEMA

 NOVO-VELHO-MAR.

Profundezas misteriosas, profundos escuros ominosos, superfícies rasgadas
no ENTÃO, por correntes de ondas e espumas alterosas,
albas sorridentes-a-arder-clarões solares ou mesmo chuvas copiosas a rebentar...
Olhamos-te, mar de todos os sentimentos e imprecações!
Esse olhar segue a caminho de um céu flagelado de verdades!
Todas as Luas te saúdam….e são NOVAS, CRESCENTES, CHEIAS e MINGUANTES.
Por vezes, enredam-se nos mastros que te sulcam…
…por vezes, brilham na alegre superfície livre das ondas…
…por vezes, ó mar das memórias, perdem-se nas encruzilhadas do sol
com a terra desértica, onde uma vez morreu a nossa História.
Na noite, uma longa festa solitária de claro-escuro faz-me testemunhar
um mundo onde pressinto os “ALÉM”.
E ouço minha Pátria antiga no choro de uma guitarra ébria,
na cal dos corredores
que sugam licores
e nos vinhos
que o escuro engole, momento a momento.
VIVO-ME!
E juro que atravessei as águas desse dorido mar
em companhia de golfinhos falantes,
precursores de palmeirais e outros odores!
Mas sou TERRA!
E sinto-me rica de ruas da minha aldeia
cheias de alegres risos de crianças a jogarem “ao lencinho” e “à macaca”…
Reparo no Ocaso esguio...
vejo os idosos apáticos sentados nos bancos,
à espera da ESPERANÇA…
OUT-019
Maria Elisa Ribeiro
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sábado, 22 de outubro de 2022

Stand by me - John Lennon, Lyrics / Tradução / Legendado

A Verdadeira Razão Pela Qual a Guerra Rússia-Ucrânia Não Termina | Sadhg...

Boa noite e bom Domingo, amigos!


 

POEMA

 POEMA

"BREVES"
chega quente,
suave e lenta,
a noite
que me afaga a pele
escrevo-a
numa folha de papel
em branco,
onde guardadas tenho
as memórias
das danças das estrelas
no firmamento
da concha
das minhas mãos
sei que o Sonho é
apenas isso…Sonho..
por fora,
existe a vida,
árvore do meu Outono
e glicínias ,rosas
e a doçura
da bela aurora
se a vida vale tanto…
a Poesia é Outra Vida!
por isso, Poeta,
deixa que o Vento roube
os teus poemas,
para com eles salpicar
a noite
suave e lenta,
que afaga a pele do Mundo.
Maria Elisa Ribeiro-Portugal-(?)
Pode ser arte de árvore

Bom dia, amigos!


 

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Bom dia! Muita chuvinha!


 

Poema de minha autoria






 "DEIXA-TE OUSAR

Vem até mim...
Vem naquela hora do silêncio crepuscular
que a noite tão bem sabe anunciar,
a todos aqueles que vivem a amar.
Amo o momento em que as tuas palavras
ciciam ao ouvido-de-todos-os-meus-sentidos...
Não permitas que a tua ausência me embacie os olhos,
ou que a névoa te tolde a memória,
que sempre guardámos dos orvalhos das folhas.
...ou mesmo que as árvores belas te desviem o sorriso
dos beijos que tantas vezes pousaste nos meus lábios!
Deixa que a noite nos tenha neste pulsar-cá-dentro,
tal fosse o desejo lento de nos enlaçarmos na poeira brilhante
dos versos em que aprendemos a amar-nos.
Deixa-te ousar...
...põe o braço sobre os meus ombros...
...ousa a mão entre os meus cabelos...
...ousa tudo nas curvas das minhas ideias...
...sim, essas espelhadas pelos cantos e recantos dos meus apelos...
É que, hoje, a noite bordada de estrelas pousará na minha cintura,
a lua sorrirá de ternura e,
nas dunas, à beira-mar, o tempo cobrir-nos-á de bruma!"
OUT/020
Maria Elisa Ribeiro
(Este poema "nasceu" do desafio que outros poetas me fizeram.)

sábado, 15 de outubro de 2022

POEMA: DOURO








A minha poesia:DOURO
DOURO
Desmaia-se de amor ante a visão do Douro!
Graças por existires, serpente ondeada!
Colinas em socalcos, vista deslumbrada,
olhos na verdura das margens serpenteadas,
eis-me que m’empolgo com as uvas doiradas!
O sol queima onde os vindimeiros,
corpo alquebrado,
conduzem os cestos quase corados,
ao centro de todo o mistério:
o cemitério das uvas!
Espremidas até à medula
de seus corpos coloridos,
dão-se ao cálice doirado,
que bebem as almas feridas!
Natureza agreste, que tudo deste, em troca do trabalho
com que foste servida,
pelo homem que cavou, sensível,
os socalcos, por onde, hoje, passa a modernidade.
E em cada barrica de vinho do Douro há vida, saudade,
tradições, histórias, dores e alegrias, cheias de humanidade.
Nas encostas, nas margens do Douro serpenteante,
dominam os verdes mais variados,
mas também a harmonia das rochas empedernidas,
que falam Filosofia!
Fazem parte das “mortes” de Ontem;
Fazem parte das vidas de Hoje…
E nenhuma delas foge
pois estão no seu elemento natural:
Alto-Douro, região de Portugal!
Maria Elisa Ribeiro

2007 

segunda-feira, 10 de outubro de 2022