quarta-feira, 24 de junho de 2020

POEMA







Poema :

CIO DA TERRA

Grita a Terra, desesperada, pela Hora

de ser semeada.

Chegou o tempo das flores e de todos os amores,

floridos e em ramadas,

nos caminhos e dos socalcos de qualquer ravina inclinada.

Foi-se o Inverno frio, choroso, doloroso

e tornam os dias de alegria, na ponta das silveiras bravas

que produzem amoras, de saudáveis cores.

Num cio desesperado, abre-se a boca da Terra!

Despertam as sementes, enterradas nos sulcos profundos

e ,numa guerra florida, grávidos de amor, os campos

aclamam a nova vida-da-Hora-de-produzir.

Terra-Mulher-a-Ser-no-momento-de-se-Dar!

Densas corolas macias abrem a boca para o Sol.

Desfazem os cabelos, ao fogo que as desperta,

e oferecem seus sucos aos insectos-em-espera.

Até os filhos das rochas ganham alma de humanos

e erguem os braços ao alto, a bendizer as montanhas!

Uma língua desconhecida ecoa pelos ares quentes!

Não sei identificá-la…mas sei que me roça os ouvidos,

ao perder-se nos meus sentidos…

Lembra-me o sussurro-cício, despercebido e em tom vago,

com que, nas noites de Lua, me falam teus olhos perdidos

nas águas de um imenso lago.

Confusos, como as florestas perdidas de amor pelas urzes e giestas numa cama de salva e rosmaninho, rasgamos a verde espessura do cio-dos-campos e penetramos no matagal bravio, por atalhos enviesados-de-nós, perdidos em ondas de carinho, como fazem os linhos a nascer e as uvas a maturar. São maduros, os frutos de aromas intensos que o silêncio das sombras te põe nas mãos, quando a floresta estremece de plena satisfação, na Hora-do-prazer-da-Terra…

E, num cio desesperado, abre-se a boca do mundo a um sexto sentido, que em nós se tornou um segredo sagrado…

Maria Elisa Ribeiro-Portugal

Junho/016

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