terça-feira, 29 de maio de 2018

HISTÓRIA de PORTUGAL: a guerra entre D. Pedro e D. Miguel

Guerra Civil Portuguesa

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Guerra Civil Portuguesa
Batalha da Praia da Vitória.jpg
Batalha da Praia da Vitória, uma das batalhas da Guerra Civil Portuguesa
Data1828 – 1834
LocalPortugal
DesfechoVitória liberal

Concessão de Evoramonte:
→ A monarquia constitucional é restaurada
→ Dom Miguel renuncia todas as suas pretensões ao trono e parte para o exílio
Beligerantes
Flag of Portugal (1830).svg Liberais

Apoiados por:
Reino Unido Reino Unido
Flag of Belgium (civil).svg Voluntários belgas
França França (a partir de 1830)
Flag of Spain.svg Espanha (a partir de 1834)
Flag of Portugal (1707).svg Miguelistas

Apoiados por:
Espanha Espanha
(até 1833)
Comandantes
D. Pedro IV
Duque da Terceira
Duque de Saldanha
Duque de Palmela
Marquês de Sá da Bandeira
D. Miguel I
Visconde de Montalegre
Visconde de Santa Marta
Visconde de Azenha
Marquês de Chaves
Guerra Civil Portuguesa, também conhecida como Guerras LiberaisGuerra Miguelista ou Guerra dos Dois Irmãos, foi a guerra civil travada em Portugal entre liberais constitucionalistas e absolutistas sobre a sucessão real, que durou de 1828 a 1834. Em causa estava o respeito pelas regras de sucessão ao trono português face à decisão tomada pelas Cortes de 1828, que aclamaram D. Miguel I como rei de Portugal. As partes envolvidas foram o partido constitucionalistaprogressista liderado pela rainha D. Maria II de Portugal com o apoio de seu pai, D. Pedro IV, e o partido absolutista de D. Miguel e ainda o Reino Unido, a França, a Espanha e a Igreja Católica.

A sucessão de D. João VI[editar | editar código-fonte]

A morte do rei D. João VI de Portugal em 1826 criou uma disputa sobre a sucessão real. O herdeiro imediato era D. Pedro IV, que contudo havia sido deserdado na sequência dos eventos de 7 de Setembro de 1822 que levaram à independência do Brasil. Ao tornar-se estrangeiro, ao ter lutado contra as tropas portuguesas, D. Pedro, segundo as Côrtes de Lamego e costume monárquico português, estava definitivamente fora da possibilidade de suceder como filho mais velho a seu pai D. João VI.
Após a morte de D. João VI, a regência foi confiada à Infanta Isabel Maria de Bragança que nomeou D. Pedro, então Imperador do Brasil, como sucessor. Em 1826, D. Pedro aclamou-se Rei de Portugal como Pedro IV de Portugal, mas, como a constituição brasileira de 1824 impedia que governasse ambos os países, e não fazendo caso das fundacionais leis monárquicas do Reino de Portugal, abdicou um direito que não tinha um mês depois na filha D. Maria da Glória (indo também aqui contra as regras de sucessão e de abdicação), uma menina de sete anos, até esta cumprir a idade necessária para casar com D. Miguel, que, entretanto, com a perda de direitos de D. Pedro, se tinha tornado o legítimo sucessor de D. João VI.
Em abril de 1826, D. Pedro "reviu" a Constituição de 1822, e retornou ao Brasil impondo no trono a D. Maria da Glória e fazendo do seu irmão Miguel regente. D. Miguel, exilado após ter liderado duas defesas contra o ataque dos liberais, embora contra a vontade de seu pai (que temia novas tentativas dos liberais e mações que havia conseguido impor a constituição) - a Vilafrancada e a Abrilada - voltou do dito exílio e assumiu a regência em nome da sobrinha. Em 23 de Junho de 1828, depois de preparadas as condições de retirar a opressão que os liberais e maçonaria estavam a fazer, as Cortes aclamaram finalmente como legítimo sucessor D. Miguel, rei de Portugal, deixando clara perante todos a sua legitimidade como herdeiro do trono e ilegítimos todos os actos praticados por D. Pedro em relação a Portugal após a "declaração da independência" no Brasil, e com grande alegria para o Povo em geral. A base para esta decisão foram as Leis Fundamentais do Reino, conhecidas como "Côrtes de Lamego" e o costume secular, que à data se encontravam em vigor por serem as leis fundamentais de Portugal, e à luz das quais D. Pedro e os seus descendentes tinham perdido o direito à Coroa a partir do momento em que, por um lado, aquele príncipe se tornara soberano de um estado estrangeiro (Brasil) e, por outro, levantara armas contra Portugal.

A nova constituição[editar | editar código-fonte]

Na Carta Constitucional portuguesa de 1826, D. Pedro tentou reconciliar absolutistas e liberais, permitindo que ambas as facções obtivessem postos no governo. Diferente da Constituição de 1822, este novo documento estabelecia quatro poderes governativos. O poder legislativo foi dividido em duas câmaras: uma câmara alta, a Câmara dos Pares, com membros escolhidos pelo rei entre as classes nobres ou clericais, e uma câmara baixa, a Câmara dos Deputados, composta por deputados eleitos por voto indireto em assembleias locais, para um mandato de 4 anos. As Assembleias locais eram eleitas por sufrágio limitado aos homens. O poder judicial era exercido pelos tribunais e o poder executivo por ministros do governo. O rei teria um poder moderador, com direito de veto sobre qualquer lei.

Descontentamento[editar | editar código-fonte]

D. Pedro IV de Portugal.
Os defensores do partido absolutista, dos latifundiários e da Igreja Católica, no entanto, não ficaram satisfeitos com este compromisso e continuaram a ver D. Miguel como o legítimo sucessor ao trono, baseando-se no argumento de que ele era um príncipe português que havia decidido voltar para Portugal enquanto D. Pedro fora um príncipe que havia decidido tornar uma ex-colônia independente e se tornado o imperador brasileiro, portanto era agora um governante estrangeiro que havia declarado guerra a Portugal no passado. Alarmados com as reformas liberais iniciadas em Espanha pelos revolucionários franceses, participaram da restauração do reinado tradicionalista de Fernando VII de Espanha (1823), que erradicou todas as inovações políticas napoleónicas.
Em fevereiro de 1828, D. Miguel regressou a Portugal para jurar a Constituição e exercer a regência. Imediatamente foi nomeado rei pelos portugueses e os seus seguidores mais próximos pressionaram-no a voltar a reinar baseado nas cortes, no regionalismo e no municipalismo. Um mês depois de sua chegada dissolveu a Câmara dos Deputados e a Câmara dos Pares. Em maio, convocou as cortes tradicionais, com a nobreza, o clero, e os homens livres, para proclamar o seu acesso ao poder tradicional. As cortes de 1828 cumpriram a vontade de D. Miguel, coroando-o como Miguel I de Portugal e anulando a Constituição.

A Guerra Civil[editar | editar código-fonte]

Caricatura representando D. Pedro IV e D. Miguel disputando a coroa portuguesa, por Honoré Daumier1833.
De início o partido absolutista levou a melhor e a causa pedrista parecia perdida. D. Miguel procurou obter reconhecimento internacional, mas foi apenas reconhecido como rei pelos Estados Unidos e pelo Vaticano. As monarquias europeias mantiveram-se em silêncio. Portugal estava vivendo uma crise financeira estarrecedora, graças aos vários conflitos internos e externos, com o desmembramento do Império Português, da Guerra Peninsular, que tinha levado a corte para longe, assim como uma apropriação cada vez maior das rotas comerciais pelos estrangeiros. Não conformado com essa situação que lhe era imposta, incapaz de lidar com os problemas do Brasil e de Portugal ao mesmo tempo, no dia 7 de abril de 1831, o Imperador Pedro I foi forçado a abdicar da coroa do Brasil para o filho Pedro II e viajou para Portugal para defender o alegado direito ao trono português por parte de sua filha e lutar contra seu irmão "absolutista". Em 1831, Pedro desembarca as suas tropas nos Açores e toma diversas ilhas, estabelecendo o arquipélago como base de operações.
Conquistada a fortíssima posição militar e naval de Angra, nos Açores, por essa armada, D. Pedro partirá depois daí, mais tarde, para invadir o continente português, o que ocorrerá a norte do Porto, na Praia dos Ladrões, depois rebaptizada como Praia da Memória, que ficou conhecido como Desembarque do Mindelo (8 de Julho de 1832), onde actualmente se encontra o grande monumento aos mortos da Guerra Civil, em forma de obelisco colocado junto ao mar onde foi efetuado o desembarque.
Seguidamente, as forças pedristas desembarcadas entrincheiraram-se dentro dos muros da Cidade Invicta, dando os miguelistas início ao duro e prolongado Cerco do Porto. Finalmente, conseguindo furar o bloqueio naval da barra do rio Douro, uma frota liberal fez-se ao mar e seguiu até ao Algarve, onde desembarcou uma divisão do seu Exército, que avançou para Lisboa rapidamente, protegido pela esquadra inglesa. Lisboa foi entregue ao comandante-chefe liberal, marechal António José Severim de Noronha, 1.º Duque da Terceira, sem combate nem resistência, por Nuno Caetano Álvares Pereira de Melo, 6.º Duque de Cadaval, antigo primeiro-ministro do rei D. Miguel, em 24 de Julho de 1833.
Evoramonte, a localidade onde foi assinada a Convenção que pôs termo às Guerras Liberais.
Levantado o Cerco do Porto graças à queda da capital nas mãos dos pedristas, a guerra continuou no entanto a marchas forçadas e dolorosas, em CoimbraLeiria e pelo Ribatejofora. D. Miguel estabelece então a sua corte em Santarém, onde entretanto morre de peste a infanta D. Maria da Assunção de Bragança, irmã dos dois príncipes inimigos.
Em 24 de Abril de 1834, pelo Tratado de Londres, a Quádrupla Aliança decide-se pela intervenção militar contra as forças do rei D. Miguel.
Enquanto o almirante inglês Charles Napier desembarcou tropas na Figueira da Foz, avançando por LeiriaOurém e Torres Novas, o general espanhol José Ramón Rodil y Campilloentrou em Portugal através da Beira e Alto Alentejo com uma expedição de 15 mil homens. Vai dar-se a definitiva batalha da Asseiceira, ganha pelos pedristas, finda a qual o que restava do exército miguelista se retirou para o Alentejo. A paz assinada na Convenção de Evoramonte determinou o regresso da rainha D. Maria II à coroa e o exílio do então já ex-infante D. Miguel para a Alemanha.
Mais adiante, é dado agradecimento público ao político espanhol e maçon Juan Álvarez Mendizábal pelo seu empréstimo, em dinheiro, que possibilitou fazer estas intervenções armadas pelo lado liberal.[1]

Protesto e Declaração de Génova[editar | editar código-fonte]

Bandeira Nacional usada pelos Miguelistas.
Bandeira Nacional usada pelos Liberais.
Ao desembarcar em Génova, em 20 de Junho, D. Miguel protestou formalmente à face da Europa contra a violência da Quádrupla Aliança, num documento que ficou conhecido como o "Protesto e Declaração de Génova",[2] ponto de partida para a luta legitimista que virá a durar até 1932. Nesse documento, D. Miguel declarava "como nula e de nenhum valor" a capitulação a que, sob coacção, fora forçado em Évora-Monte. Apesar de vencido militarmente, D. Miguel não abdicava da sua legitimidade como rei de Portugal[3] Muitos miguelistas não depuseram as armas, tendo alguns passado a Espanha, em auxílio dos Carlistas, enquanto outros se dedicavam a actos de guerrilha contra o Governo em território nacional (destacando-se, neste contexto, a figura do Remexido, no Algarve).
D. Maria da Glória, a princesa do Grão-Pará, que entretanto se encontrava ao abrigo da corte de Londres, junto a sua prima, a rainha Vitória, pode finalmente chegar a Portugal, nesse ano de 1834, e, estando o vencedor da guerra, D. Pedro, tuberculoso e com pouca esperança de vida, houve que emancipar rapidamente a jovem princesa, de 15 anos de idade, jurando finalmente a Carta Constitucional, e subindo enfim ao trono de Portugal, pela declaração da sua maioridade em Cortes, e cessação da regência que em seu nome o pai exercia. Por ter libertado Portugal do reinado de seu irmão Miguel, Dom Pedro IV foi aclamado como herói.

Batalhas[editar | editar código-fonte]

Representações na cultura[editar | editar código-fonte]

  • Em "Viagens na minha terra", Almeida Garrett narra a história de duas personagens envolvidas no meio deste conflito, no episódio da chamada "história da menina dos rouxinóis", ou Joaninha, uma típica heroína romântica que está apaixonada por seu primo Carlos um dos soldados da marcha liberal (pedrista) da época.
  • O faccionismo da Guerra Civil Portuguesa também é um dos pontos de partida do romance "A Brasileira de Prazins" de Camilo Castelo Branco.
  • A continuação das guerrilhas entre liberais e miguelistas após Évora-Monte foi representada na série de televisão Alentejo Sem Lei.
  • A obra "Mário" de Silva Gayo é um dos romances de referência descritiva deste conflito.

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