"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
História de Portugal: quem foi Afonso de Albuquerque
Afonso de Albuquerque
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Afonso de Albuquerque
Afonso de Albuquerque
Nascimento 1453
Alhandra, Portugal
Morte 16 de Dezembro de 1515 (62 anos)
Goa, Estado Português da Índia
Nacionalidade Portuguesa
Progenitores Mãe: D. Leonor de Meneses
Pai: Gonçalo de Albuquerque
Filho(s) Brás de Albuquerque
Cargo Governador da Índia Portuguesa
Afonso de Albuquerque1 (Alhandra, 1453 — Goa, 16 de Dezembro de 1515), nomeado O Grande, César do Oriente, Leão dos Mares, o Terribil e o Marte Português, foi um fidalgo, militar e o segundo governador da Índia portuguesa cujas acções militares e políticas foram determinantes para o estabelecimento doimpério português no oceano Índico.
Afonso de Albuquerque é reconhecido como um génio militar pelo sucesso da sua estratégia de expansão:2 procurou fechar todas as passagens navais para o Índico – no Atlântico, Mar Vermelho, Golfo Pérsico e oceano Pacífico – construindo uma cadeia de fortalezas em pontos chave para transformar este oceano num mare clausum português, sobrepondo-se ao poder dos otomanos, árabes e seus aliados hindus.3
Destacou-se tanto pela ferocidade em batalha como pelos muitos contactos diplomáticos que estabeleceu. Nomeado governador após uma longa carreira militar no Norte de África, em apenas seis anos – os últimos da sua vida – com uma força nunca superior a quatro mil homens sucedeu a estabelecer a capital do Estado Português da Índia em Goa; conquistar Malaca, ponto mais oriental do comércio Índico; chegar às ambicionadas "Ilhas das especiarias", as ilhas Molucas; dominarOrmuz, entrada do Golfo Pérsico; e estabelecer contactos diplomáticos com numerosos reinos da Índia, Etiópia, Reino do Sião, Pérsia e até a China. Áden seria o único ponto estratégico cujo domínio falhou, embora tenha liderado a primeira frota europeia a navegar no Mar Vermelho, a montante do estreito Bab-el-Mandeb. Pouco antes da sua morte foi agraciado com o título de vice-rei e "Duque de Goa" pelo Rei D. Manuel I, que nunca usufruiu, no que foi o primeiro português a receber um título de além-mar e o primeiro duque nascido fora da família real. Foi o segundo europeu a fundar uma cidade na Ásia, o primeiro foi Alexandre o Grande.
Índice [esconder]
1 Primeiros anos
1.1 Primeira missão na Índia
2 Capitão-mor da costa da Arábia, 1506-1509
2.1 Tomada de Socotra e Ormuz no Golfo Pérsico
2.2 Preso em Cananor
3 Governador da India Portuguesa, 1509-1515
3.1 Ataque falhado a Calecute
3.2 Conquista de Goa, 1510
3.3 Tomada de Malaca, 1511
3.4 Missões diplomáticas a partir de Malaca
3.4.1 Missões diplomáticas a Pegu, Sumatra e Sião, 1511
3.4.2 Chegada às Molucas, as "ilhas das especiarias", 1512
3.4.3 Contactos com a China, 1513
3.5 Naufrágio na Flor de la Mar
3.6 Regresso ao Mar Vermelho, 1513
3.7 Administração e diplomacia em Goa 1514
3.8 Conquista de Ormuz e últimos dias, 1515
4 Legado e descendência
4.1 Títulos e honras
5 Referências
6 Notas
7 Bibliografia
Primeiros anos[editar | editar código-fonte]
Afonso de Albuquerque nasceu em Alhandra, nos arredores de Lisboa, no ano de 1453.4 Era o segundo dos quatro filhos de Gonçalo de Albuquerque, senhor de Vila Verde dos Francos, e de D. Leonor de Meneses, filha de D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, conde de Atouguia. Através de seu pai, que desempenhava um importante cargo na corte, descendia por via natural da família real portuguesa.5 Foi educado em matemática e latim clássico na corte de D. Afonso V, onde cresceu e travou amizade com príncipe D. João, futuro rei.6
Afonso de Albuquerque serviu dez anos no Norte de África, onde adquiriu experiência militar: em 1471 acompanhou Afonso V nas conquistas de Tânger, Anafé e Arzila, onde permaneceu alguns anos como oficial na guarnição.6 7 Em 1476 acompanhou o príncipe D. João nas guerras contra Castela, tendo participado na batalha de Toro. Participou na esquadra enviada em 1480 em socorro de D. Fernando II rei de Aragão, Sicília e Nápoles «para reprimir o furor dos turcos» de avançar na península itálica, no Golfo de Tarento, em Otranto, que culminaria na vitória dos cristãos em 1481.8
Em 1481, quando o príncipe D. João ascendeu ao trono como D. João II, Albuquerque regressou a Portugal e foi nomeado seu estribeiro-mor.6 Em 1489 retornou ao serviço no norte de África, onde comandou a defesa da fortaleza da Graciosa, situada na ilha que o rio Luco forma junto da cidade de Larache e em 1490 fez parte da guarda de D. João II, tendo regressado a Arzila em 1495, onde o seu irmão mais novo, Martim, morreu lutando a seu lado.6
Primeira missão na Índia[editar | editar código-fonte]
Quando o novo rei D. Manuel I de Portugal ascendeu ao trono mostrou alguma reticência perante Afonso de Albuquerque, íntimo do temido D. João II e dezassete anos mais velho. Em 6 de Abril de 1503, já numa idade madura e com uma longa carreira militar, Afonso de Albuquerque foi enviado na sua primeira expedição para a Índia com o primo Francisco de Albuquerque, comandando cada qual três naus onde seguiam também Duarte Pacheco Pereira e Nicolau Coelho. Participaram em várias batalhas contra Calecute, onde sucederam a garantir a segurança no trono ao rajá de Cochim. Em retorno pelos serviços prestados obtiveram a permissão para construir uma fortaleza portuguesa em Cochim9 que seria o primeiro assentamento europeu na índia e o ponto de partida para a expansão do império no oriente, estabelecendo relações comerciais com Coulão. De regresso ao reino em Julho de 1504 «mais cheio de glórias que de despojos», Afonso de Albuquerque foi bem recebido por D. Manuel I.
Capitão-mor da costa da Arábia, 1506-1509[editar | editar código-fonte]
Mapa de 1502 representando o Mar Vermelho e a ilha de Socotra (vermelho), e o Golfo Pérsico (azul) com o estreito e ilha de Ormuz, pormenor doplanisfério de Cantino
No início de 1506, após ter participado no delinear da estratégia para o oriente, o rei confiou-lhe uma esquadra de cinco navios na armada de dezasseis navios chefiada por Tristão da Cunha com destino à Índia. Seguiam com o objectivo de tomar Socotra e aí iniciar uma fortaleza, na esperança de fechar o comércio no Mar Vermelho, transportando um forte de madeira para apoiar os trabalhos iniciais.10 Afonso de Albuquerque seguia como capitão-mor da "costa da Arábia" e "até Moçambique havia de ir debaixo da bandeira de Tristão da Cunha".11 Levava uma carta com a missão secreta, ordenada pelo rei, de uma vez cumprida a primeira missão substituir o vice-rei D.Francisco de Almeida, que terminaria o mandato dois anos depois.12 Antes de partir legitimara um filho natural nascido em 1500.13 e fizera o seu testamento14
Tomada de Socotra e Ormuz no Golfo Pérsico[editar | editar código-fonte]
A 6 de Abril de 1506 as duas armadas partiram de Lisboa. Afonso de Albuquerque seguia pilotando o seu próprio navio, pois o piloto designado desaparecera antes da partida. No canal de Moçambique encontraram João da Nova vindo da Índia, que aí invernava após um rombo no casco do seu navio Frol de la mar. Resgataram-no e à nau, juntando-os à frota.15 De Melinde, Tristão da Cunha enviou uma expedição portuguesa para a Etiópia, que então se pensava ser mais próxima. A missão incluía o padre João Gomes, João Sanches e o tunisino Sid Mohammed (sem conseguir atravessar por Melinde rumariam a Socotra, de onde Afonso de Albuquerque conseguiu desembarcá-los em Filuk, perto do Cabo Guardafui.16 ) Após uma série de ataques bem sucedidos às cidades árabes da costa oriental africana, seguiram para Socotra, onde havia notícia de cristãos, e que tomaram em Agosto de 1507, iniciando uma fortaleza.17 .
Em Socotra os caminhos dos dois capitães separaram-se: Tristão da Cunha partiu para a Índia, indo apoiar os portugueses cercados em Cananor; Afonso de Albuquerque navegou com uma frota de seis navios e quinhentos homens rumo à ilha de Ormuz no Golfo Pérsico, um dos centros chave do comércio no oriente. No percurso conquistaram as cidades de Curiate (Kuryat), Mascate e Corfacão (atual Khor Fakkan), aceitando a submissão das cidades de Kalhat e Soar (Sohar).18
A 25 de Setembro de 1507 chegaram a Ormuz precedidos de uma temível reputação e rapidamente tomaram posse da ilha, cujo rei concordou tornar-se tributário do rei de Portugal. Passados poucos dias, chegou um enviado da Pérsia que vinha exigir o pagamento de tributo ao xá Ismail I. O emissário persa foi enviado de volta com a resposta de que o tributo seria apenas balas de canhão e armas, começando assim a ligação entre Albuquerque e o xá Ismail I (muitas vezes referido por Xeque Ismael), fundador do império saváfida.19 20
Forte de Nossa Senhora da Conceição de Ormuz, ruínas na ilha de Gerun, atualIrão, no estreito de Ormuz, à entrada doGolfo Pérsico
Como fruto do acordo com o rei de Ormuz, imediatamente Albuquerque iniciou a construção do Forte de Nossa Senhora da Vitória em Ormuz21 (mais tarde renomeado Forte de Nossa Senhora da Conceição). A primeira pedra foi colocada com pompa e entusiasmo por Albuquerque em 24 de Outubro, com os seus homens de todas as condições participando nos trabalhos de construção. Contudo, na sequência da crescente contestação dos seus capitães, que reclamavam dos duros trabalhos e difíceis condições, vários navios desertaram para a Índia22 Com a frota reduzida a dois navios e sem mantimentos, Afonso de Albuquerque foi forçado a abandonar Ormuz em Abril de 1508. Retornou a Socotra, onde encontrou a guarnição portuguesa passando fome, e para reabastecer este assentamento assaltou navios muçulmanos e a cidade de Kālhāt (Bahrein).23 Voltou ainda a Ormuz e só depois rumou à Índia.
Preso em Cananor[editar | editar código-fonte]
Afonso de Albuquerque chegou a Cananor, na Índia, em Dezembro de 1508. Aí imediatamente abriu perante o vice-rei D. Francisco de Almeida a carta selada que recebera do rei nomeando-o Governador.24 D. Francisco de Almeida, junto do qual estavam já os capitães que haviam abandonado Albuquerque em Ormuz, confirmou que a ordem também lhe fora participada, mas recusou-se a passar de imediato o cargo, protestando que o seu mandato terminava apenas em Janeiro e que pretendia ainda vingar a morte do seu filho junto de Mirocem.25 Afonso de Albuquerque, ao ver recusada a sua promessa de travar a batalha ele mesmo, e posto que o vice-rei propôs pagar-lhe o devido ao cargo de governador26 , acatou esta ordem sem confrontar D. Francisco de Almeida e foi para Cochim, onde ficou a aguardar indicações do reino, sustentando do seu bolso a sua comitiva.
É descrito por Castanheda suportando pacientemente a oposição declarada do grupo que se juntara em torno de D. Francisco de Almeida, com o qual mantinha contactos formais. Progressivamente ostracizado, ao saber da chegada à Índia da armada do fidalgo Diogo Lopes de Sequeira com a missão de chegar a Malaca, escreveu-lhe para que intercedesse, mas este ignorou-o e juntou-se ao vice-rei. Simultaneamente Afonso de Albuquerque recusou as aproximações dos que o desafiavam a tomar o poder.26
A 3 de Fevereiro de 1509 Francisco de Almeida avançou em força para a Batalha de Diu, que assumiu como vingança pessoal pela morte do seu filho Lourenço de Almeida em circunstâncias dramáticas na Batalha de Chaul. A sua vitória foi determinante: otomanos e mamelucos egípcios abandonaram as águas do Índico, permitindo o domínio português por mais de 100 anos.
Em Agosto, após uma petição dos antigos capitães e Diogo Lopes de Sequeira considerando Afonso de Albuquerque inapto para a governação, D. Francisco de Almeida enviou-o para a fortaleza de Santo Ângeloem Cananor.27 28 Aí permaneceu isolado, o que o próprio Albuquerque considerou ser sob prisão. Em setembro de 1509 Diogo Lopes de Sequeira avançou na missão de estabelecer contacto com o sultão de Malaca, mas falhou deixando para trás 19 prisioneiros.
Governador da India Portuguesa, 1509-1515[editar | editar código-fonte]
Em Outubro, chegou a Cananor o Marechal do Reino, D. Fernando Coutinho. Era o mais importante fidalgo do reino que alguma vez se deslocara ao Índico, parente de Afonso de Albuquerque, e trazia uma armada de quinze naus e 3000 homens enviada pelo rei para defender os seus direitos e tomar Calecute.29 A 4 de Novembro Albuquerque iniciou a governação. Após a partida de D. Francisco de Almeida cinco dias depois, Albuquerque rapidamente demonstrou a sua energia e determinação como segundo governante do estado da Índia, cargo que ocuparia até à sua morte.30
Afonso de Albuquerque pretendia construir fortalezas em pontos estratégicos da costa, capazes ser abastecidas por mar, para assim dominar o mundo muçulmano e controlar a rede de comércio no Índico,2 30 ideia a que D. Francisco de Almeida e os seus capitães se tinham oposto, por considerarem que não havia capacidade para as manter. Inicialmente D. Manuel I e o conselho do reino tentaram distribuir o poder a partir de Lisboa, criando três áreas de jurisdição no Índico: Albuquerque seguira com a missão de tomar Hormuz, Aden e Calecute, missão que até ao fim procurou cumprir; Diogo Lopes de Sequeira fora provido com uma frota e enviado para o sudoeste asiático, com a missão de tentar um acordo com o sultão de Malaca, mas falhou retornando a Cochim e ao reino; a Jorge de Aguiar fora dada a área entre o Cabo da Boa Esperança e Guzerate, sendo sucedido por Duarte de Lemos que partiu para o reino deixando a Albuquerque os seus navios.31
Ataque falhado a Calecute[editar | editar código-fonte]
Em Janeiro de 1510, cumprindo as ordens do reino e sabendo da ausência do samorim, Afonso de Albuquerque avançou para Calecute (actual Kozhikode). Contudo teve que recuar após o marechal D. Fernando Coutinho, contra os seus avisos, se ter embrenhado no interior da cidade fascinado pelo saque e sofrido uma emboscada. Para o salvar, Afonso de Albuquerque sofreu um rude ferimento e teve que recuar.32
Conquista de Goa, 1510[editar | editar código-fonte]
Vista de Goa Velha em 1509, inBraun e Hogenberg, 1600
Falhado o ataque a Calecute, Afonso de Albuquerque apressou-se a formar uma poderosa armada, reunindo vinte e três naus e 1200 homens. Relatos contemporâneos afirmam que pretendia combater a frota mameluca egípcia no Mar Vermelho ou regressar a Ormuz. Contudo, informado por Timoja (um corsário hindu ao serviço do Reino de Bisnaga) de que seria mais fácil encontrá-la em Goa, onde se havia refugiado após a Batalha de Diu, dada a doença do sultão Hidalcão e a guerra entre os sultanatos do Decão.33 investiu de surpresa na captura de Goa ao sultanato de Bijapur. Cumpriu assim outra missão do reino,34 que não pretendia ser visto como eterno "hóspede" de Cochim, e cobiçava Goa por ser o melhor porto comercial da região, entreposto de cavalos árabes para os sultanatos do Decão.
A primeira investida a Goa deu-se de 4 de Março a 20 de Maio de 1510. Numa primeira ocupação, sentindo-se impossibilitado de segurar a cidade dadas as más condições das suas fortificações, a retracção do apoio inicial da população hindu e a insubordinação entre os seus após um forte ataque de Ismail Adil Shah, Afonso de Albuqerque recusou um vantajoso acordo de paz e abandonou-a em Agosto. A frota destroçada e uma revolta palaciana em Cochim dificultavam a sua recuperação. Quando chegaram novos navios do reino destinavam-se apenas a Malaca, sob o comando do fidalgo Diogo Mendes de Vasconcelos, a quem tinha sido dado o comando rival da região.
Apenas três meses depois, a 25 de Novembro, Albuquerque reapareceu em Goa com uma frota totalmente renovada e Diogo Mendes de Vasconcelos, contrariado, a seu lado com os reforços de Malaca35 e trezentos malabaris. Em menos de um dia tomou posse de Goa a Ismail Adil Shah e seus aliados otomanos, que se renderam a 10 de Dezembro. Estima-se que 6.000 dos 9.000 defensores muçulmanos da cidade morreram, quer na violenta batalha nas ruas ou afogados enquanto tentavam escapar.36 Reconquistou o apoio da população hindu mas frustrou as expectativas de Timoja, que ambicionava tornar-se governador da cidade: Afonso de Albuquerque recompensou-o tornando-o representante do povo, como intérprete conhecedor dos costumes locais.33 Apesar de ataques constantes, Goa tornou-se o centro da presença portuguesa, com a conquista a desencadear o respeito dos reinos vizinhos: o sultão de Guzerate e o samorim de Calecute enviaram embaixadas, oferecendo alianças, concessões e locais para fortificar.
Perante queixas de escassez de moeda local, Albuquerque iniciou nesse ano em Goa a primeira cunhagem de moeda portuguesa fora do reino, aproveitando a oportunidade para anunciar a conquista territorial.3738 A nova moeda mantinha o peso, forma e tamanho das moedas locais, mas apresentava numa face a cruz e na outra a esfera armilar que D. Manuel então adoptara como símbolo.39
Tomada de Malaca, 1511[editar | editar código-fonte]
"A Famosa" porta da fortaleza de Malaca mandada construir por Afonso de Albuquerque após a conquista.
Em Fevereiro de 1511 chegou através de um mercador hindu chamado Nina Chatu uma carta de Rui de Araújo, um dos prisioneiros portugueses em Malaca, instando a avançar com a maior armada possível, e dando pormenores sobre os procedimentos. Albuquerque mostrou-a a Diogo Mendes de Vasconcelos, como argumento para avançar numa frota conjunta. Em Abril de 1511, após fortificar Goa, reuniu uma força de cerca de 900 portugueses e 200 mercenários hindus, com cerca de dezoito navios. Contrariando as ordens do reino e sob os protestos de Diogo Mendes de Vasconcelos, que reclamava para si o comando da expedição, zarpou de Goa para o sultanato de Malaca40 , preparado para a conquista e instado a libertar os portugueses,41 . Sob as suas ordens estava Fernão de Magalhães, que participara na embaixada falhada de Diogo Lopes de Sequeira em 1509.
Após uma falsa partida em direcção ao Mar vermelho, contornou o cabo Comorim dirigindo-se ao estreito de Malaca. Era a mais rica cidade que os portugueses tentavam tomar, ponto mais importante a leste da rede onde se encontravam mercadores malaios, guzerates, chineses, japoneses, javaneses, bengaleses, persas e árabes, entre outros, num comércio descrito por Tomé Pires como senso de valores inestimáveis. Apesar da riqueza, era uma cidade com construções civis em madeira, com poucos edifícios em alvenaria. Em contrapartida era defendida por um poderoso exército de mercenários e artilharia, estimado em 20.000 homens e mais de 2000 peças. A sua maior fraqueza era a impopularidade do governo do sultão Mahmud Shah, que ao privilegiar os muçulmanos gerara insatisfação junto das dos restantes mercadores. Albuquerque avançou com arrojo os navios para a cidade, ornamentados com pendões e disparando salvas de canhão. Declarou-se então senhor de toda a navegação, exigindo ao sultão que libertasse os prisioneiros portugueses de 1509, que pagasse os danos causados e pedindo para construir uma feitoria fortificada. O sultão acabou por libertar os prisioneiros, mas sem se mostrar impressionado pelo pequeno contingente português. Albuquerque incendiou então alguns navios do porto e quatro edifícios costeiros, para testar a resposta do sultão. A cidade era dividida pelo rio de Malaca, e ligada por uma ponte, um ponto estratégico. A 25 de Julho ao amanhecer os portugueses desembarcaram numa luta renhida, onde foram atacados com flechas envenenadas, e ao entardecer tomaram a ponte, aguardando a reacção do sultão, mas recolheram aos navios. Sentindo que o sultão não reagia, preparam um junco alto que fora oferecido por mercadores chineses, enchendo-o de homens, artilharia, sacos de areia. Comandado por António de Abreufizeram-no subir o rio na maré alta, até à ponte, com sucesso: no dia seguinte todo contingente tinha desembarcado. Investindo ferozmente, derrubaram as barricadas que tinham sido construídas entretanto. De súbito, o sultão finalmente apareceu, chefiando o seu exército de elefantes de guerra para esmagar os invasores. Apesar do espanto, um dos portugueses, Fernão Gomes de Lemos, aproximou-se e espicaçou um dos animais com uma lança, fazendo-o erguer-se e recuar. Outros portugueses imitaram-no e a frente de elefantes recuou em pânico, derrubando o exército que os seguia, e o próprio sultão, lançando o caos e dispersando-o.42 Seguiu-se uma semana de calmaria. Albuquerque descansou os seus homens e aguardou a reacção do sultão. Os mercadores aproximavam-se sucessivamente, apelando aos portugueses por protecção. Foram-lhes dadas bandeiras para assinalar os seus estabelecimentos, sinal de que não seriam saqueados. Em 24 de Agosto os portugueses atacaram de novo, mas o sultão e os seus aliados guzerates haviam partido. Sob ordens firmes procedem ao saque da cidade, respeitando as bandeiras, no que seria mesmo assim um saque fabuloso.
Albuquerque permaneceu na cidade, construindo de imediato uma fortaleza, preparando as defesas contra um eventual contra-ataque malaio41 , distribuindo os seus homens por turnos e utilizando as pedras da mesquita e do cemitério. Apesar dos atrasos causados pelo calor e pela malária, foi concluída em Novembro de 1511, e ficou conhecida como "a famosa", de que hoje sobrevive a porta. Terá sido então que Albuquerque mandou gravar uma grande pedra com os nomes dos principais participantes na conquista. Como se gerou grande discussão sobre a ordem em que deveriam surgir, Albuquerque tê-la-á mandado assentar voltada para a parede, apenas com a inscrição Lapidem quem reprobaverunt aedificantes. ("a pedra que os construtores rejeitaram", em latim da profecia de David, Salmos 118:22-23) na frente.43
Em Malaca Albuquerque estabeleceu a administração portuguesa, nomeando Rui de Araújo feitor e designando Nina Chatu para substituir o anterior bendahara, como representante da população "kafir" e conselheiro. Além de auxiliar na governação da cidade e cunhagem de moeda, este forneceu também o juncos onde seguiram diversas missões diplomáticas.44 Simultaneamente, prendeu e executou impiedosamente o poderoso mercador javanês Utimuta Raja, a quem fora dado o cargo de representante da população javanesa, mas que manteve contactos com a família real no exílio.
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