segunda-feira, 2 de dezembro de 2013









POEMA:ALBAS DE INOCÊNCIA


ALBAS DA INOCÊNCIA


Sonolenta de emoção, eis que acordo na névoa dos teus braços,
quando me tocas a mão.
O vento sopra, assobiando o perfume do teu nome
na luz das sombras da lareira, que crepita, lentamente.

Despidos de mantos-do-pudor, foi de pétalas rubras que nos cobrimos
em lençóis de linho, que ciciavam cantigas -brancas-de-amor.
Nossos corpos trocavam de perfume
enquanto a ânsia de viver se despedia da infância, a desaparecer.

Em cima da mesa, num canto de silêncio,
um ramo de rosas adormeceu, sem querer.

Com a saudade encostada a teu peito, a música mágica das tuas veias
afundava-se na minha madrugada, ao toque do alvorecer.
Mais eloquente do que a palavras-mudas, o céu cobriu-se de nuvens
e escondeu as estrelas luminosas…
______________o mar repousou, distante das nebulosas, sem o saber…
______________a montanha protegeu as árvores dos ventos belicosos
______________que as forçavam a gemer…
______________as papoilas desapareceram no ondular do trigo-a-abrir…

E eu, muda também no meu-poema-de-mim, falei-te
numa linguagem de pedra-viva, com olhos semi-cerrados
cheios de versos sem fim…de neve desfeita no calor do vôo das aves…de água das pernas de um rio coberto de folhas nervosas, que abriram fontes no jardim de nossas artérias sinuosas…

As gotas da noite teimam em escorrer, por dentro da janela,
enquanto fecho meus olhos no coração dos teus.

Disseram, nas notícias, que um vulcão cedeu ao tempo-mudo
e explodiu numa estranha arquitectura de silêncios …

… sinto que meu corpo é, agora, o aqueduto sob o qual
as sílabas se tornam incandescências
em páginas geológicas,
numa orografia telúrica
que provoca as albas da inocência…


Maria Elisa Rodrigues Ribeiro
REG: CS- ERT/DEZ/013

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