domingo, 1 de dezembro de 2013

Poema da poetisa Natércia Freire(1920-2004)

















O BAILE



Névoa em surdina

A sombra que acompanha

As finas pernas a dançar na tarde.

Jogo de jovens corpos.

Música de montanha,

Num tempo teu e meu

De eternidade.

E eu, as duas estranhas.



Olha quem toca o ponto

Que há no fim!

Ao fim de mim,

No ponto para que vim.

Ao fim de mim

No ponto donde vim.

Vulto de agulha

Em fumo de água e lenha.



Eu, as duas estranhas.



É sempre pêlos outros que falamos.

Eu, as duas estranhas, por mim falam.

Em estradas como ramos

oscilamos. E vamos

Convergentes, dispersas, disparadas

Pêlos tiros de magos inocentes

Do caos ao sol

Em gradações de escadas.



Ouve-se às vezes uma voz: — Presente!

E já no corpo as almas vão trocadas.



Foi em concretos dias de sol-posto,

Em fábricas de fios de uma aranha,

Que se teceram

Em finíssimas teias de desgosto,

(Eu) as duas estranhas.

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