domingo, 24 de março de 2013

"NOSTALGIAS"----PARQUE DA CURIA







IDEIAS POR PALAVRAS…
“NOSTALGIAS…

O grande Mahatma Gandhi, filósofo e pacifista indiano do séc. passado, dizia do ser humano:”A indolência é um estado maravilhoso, mas perturbante. Temos que fazer alguma coisa para sermos felizes.”
Talvez por isso e talvez, também, por uma questão de carácter, dei comigo, depois de me aposentar, a fazer pequenas viagens pelo território das minhas raízes, esta ímpar região bairradina, a procurar motivos de recordação de épocas passadas…nunca longínquas precisamente porque, sempre presentes. A “Bairrada”é, para além do mais que se possa dizer, uma página da História de Portugal, da antiga e da mais recente! É uma página de grandiosidade dum povo que sempre viveu da terra e do mar, da agricultura, pesca, turismo, artes, livros, monumentos, gastronomia, sublevações contra regimes…tudo me vem à cabeça no momento em que procuro motivos de sublimação da terra e das gentes.
Nostalgia é o nome abstracto através do qual, em todo o mundo, se pretende dar um significado ao estado de espírito que, nós, portugueses, tão bem conhecemos como SAUDADE. Isto para vos dizer, leitores, que o tempo passa de tal modo veloz como o espaço de um “ai”…quase não dá por ele! Ainda “ontem”, menina de 14/15 anos, “vivia “o PARQUE da CURIA. Por lá passaram tantas das minhas ilusões, tantas alegrias e tantas tristezas, também (por que não admiti-lo?); tudo fez parte da criação do meu ser, ora brincando com as minhas irmãs e as minhas companheiras de escola, ora namoriscando, naquela idade em que a Primavera de cada um de nós começa a florescer…Nem tudo na vida são alegrias…As rosas têm espinhos e a infância que deveria ser um espaço/tempo de alegria, não o é, para todos…Não é disso, no entanto, o assunto das minhas lucubrações de hoje. O estar aposentada proporciona, a quem não sente a velhice, oportunidades únicas de ver a vida com outros olhos. Tenho-me dedicado, como dizia Garrett, no capítulo 49 de “Viagens na minha terra”, a procurar revisitar espaços onde não ia, há muitos anos:”De todas quantas viagens, porém, fizeram, as que mais me interessaram sempre foram as viagens na minha terra.”
Ora, meus amigos, eu fui ao…PARQUE da CURIA! E não se riam… que é verdade!
Passaram anos, desde a última vez que lá tinha ido; com tantas proibições de andar por aqui e por ali, confesso que desmotivei …Quando lá entrei, na passada semana, não encontrei o parque dos meus encantos! Vi um lago quase totalmente pantanoso, arvorezitas sem a pujança de outrora, desbastadas, carreiritos e atalhos cobertos de vegetação rasteira que reclamou o que era seu, cadeados por tudo quanto é lado, parecendo querer impedir-nos de testemunhar a degradação, meia dúzia de patitos dando, ao que já foi o maior lago natural de Portugal, um ar da vida que ele perdeu…e carpas, muitas carpas, enormes, com a barriga cheia de lodo e de algumas migalhas de pão, que lhes vão atirando para aquela água paúlica! 
Nesse lago, montavam-se, nos anos 50/60, enormes palcos, que serviam à actuação de artistas da rádio, no auge da fama; lá se faziam festivais de folclore e de outras artes. Era o tempo da Simone de Oliveira, do António Calvário, da Madalena Iglésias, do Henrique Mendes, Artur Garcia…
Era ainda o tempo em que a volta a Portugal tinha uma etapa, que partia do Largo da Rotunda e em que o PALACE HOTEL organizava o, então famoso, “Baile das Rosas”, para o qual, como é lógico! só as elites eram convidadas. Parecendo que não, isso eram eventos que davam à Curia um ar fino e …um pouco de cultura e animação.Vi, de relance, na realidade e na imaginação, um pouco desse lago, de então…Nos mais recônditos cantinhos, hoje, o lago é ,quase todo, um potencial pântano.
Na entrada do parque, apesar de tudo, as árvores dão já um ar da sua graça, com aragens primaveris; as flores desabrocham, por todo o lado; os trabalhadores fazem a poda e limpam aquilo que ainda podemos visitar…Os patitos nadam e refugiam-se na “ilha”.
Resta-nos a recordação desanimada daquilo que a Curia já foi…Que pena!
Diz o filósofo SAVATER:” Viver com coragem inteligente na ausência de certezas absolutas.”
Ao ver o Parque da Curia, a única certeza absoluta é a do nosso envelhecimento com ele, com as memórias e os, -ainda-sonhos!  
Atrevo-me a falar para os meus conterrâneos: devemos preferir o melhor de tudo, para o rejuvenescimento do espaço ímpar que é o parque! Exige-o a consciência pública, exigem-no as memórias das nossas vidas, exige-o a ideia que se tem do paraíso na terra…A Natureza, nossa única casa, exige-o, também!
Responda quem puder, se puder, como puder…Mas respondam ao parque da Curia, verdadeiro património bairradino!

Mealhada,13 de Março de 2013

Maria Elisa Rodrigues Ribeiro

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