"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
domingo, 31 de março de 2013
sábado, 30 de março de 2013
MEDITANDO...(REP)
MEDITANDO…
“Esta viagem não
responde às minhas perguntas.
(…)
Vítima da memória,
nenhum deus me acolhe à chegada.”
Do POEMA “ESTA VIAGEM”, in “O País de AKENDENGUÊ”, de
Conceição Lima-Editora “CAMINHO” .
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Medito…E se medito, penso…Logo, existo! E é esta existência
que, por vezes, me leva a sentar numa cadeira, cómoda e relaxante, para, ao som
da música, neste ambiente que respira a mim,”limpar, reavivando-as, memórias do
que fui e do que sou. Como é impossível controlar o que vem à memória, vou ao
meu silêncio interior, minha catedral espiritual para poder
ser-eu-comigo-própria.
As memórias da vida são sempre um factor de tensão do
sujeito pensante; tensão positiva, porque o impele a reconhecer-se, ao ver-se
ao “espelho” da Verdade de si próprio; factor de tensão negativa, porque a
verdade de nós requer coragem para lidarmos com os nossos defeitos, as nossas
paixões…a nossa realidade como seres, enfim.
Sendo a vida a maior verdade do homem que nasceu, à qual ele
deve o maior respeito e amor, no cumprimento implícito da fidelidade aos princípios,
ela é, igualmente, um projecto traçado para cada um de nós, que devemos
respeitar, realizando-nos.
Cada vez mais consciente dessa realidade, sinto que estou em
contínua aprendizagem a qualquer momento em que respiro, em que vibro com o
sol, as estrelas e a lua, seja qual for o espaço ou o lugar em que me encontre.
Oiço os “PINK FLOYD”, essa maravilha da arte musical que se entranha em mim,
ajudando-me a ter ideias e a sentir a força da mensagem!
E deambulo por cima de “um castelo de algodão”, chamado
“Revolução dos cravos” que, ao longo das últimas décadas se foi diluindo nos
ares do autoritarismo e da militância corrupta, do carreirismo capaz de
desbancar um país e de o levar à mais vergonhosa miséria, a da fome, que se vê
nos olhos silentes de crianças e idosos! Passo por florestas, outrora
majestosas, onde as árvores cantavam de alegria ao lado de aves primorosas e de
rios caudalosos…Recordo DINIS, rei –trovador- lavrador a sonhar mundos de
espuma…Lembro Alcácer-Quibir, onde um rei foi morrer em areais ensopados de
sangue…Vejo uma “orquídea”no cabelo de AUUN SUNGSUKY, que nunca renunciou à sua
natureza humana…Passam-me os olhos, pelo que sei de memória, de TREBLINKA, de
DACHAU, de AUSCHWITZ…Vejo o “ENOLA GAY” a vomitar fogo nuclear sobre milhares
de seres inocentes…Vejo PASTEUR a criar raízes contra males da humanidade…
Continuo a sentir como meus, os caminhos do mundo; a mente
escorre dores e desafios, quando escrevo. Sendo livre, viaja, à vontade nas
memórias chocantes que não pretendo nimbar, com fantasias delirantes. Há
memórias que devemos pôr num canto do COSMOS MENTAL, afastando-as do âmago de
cada um de nós, para termos a força de continuar “viagem”…Apesar de tudo,
dialogo com esses horrores para não arrasar o meu moral…
A caneta puxa por mim e, então, descubro que, sendo a caneta
quem escreve a PALAVRA, nela está impressa a letras, ora de oiro, ora de
amargura, a marca da minha identidade e da minha personalidade…Então, a PALAVRA
é formada numa teia do pensamento que me constrange ao tecer tramas de dor
nessas recordações, que se transformam em memórias…
Não tenho memórias de amor paternal ou maternal…Por isso, há
paredes sem janelas dentro de mim…janelas de carinhos, de afagos, de família,
de amor pelo que é UMA CRIANÇA…
Hoje, há um ir-aparecendo-diferente, de ano para ano…Há
memórias de maturidade na infância do medo…Há um eu, sempre a querer fugir da mediocridade,
para saltar barreiras, a caminho do possível aperfeiçoamento…
E não há memórias boas? Oh…se há…Embora pretenda “apenas”
reflectir, sem fazer biografia da auto- biografia, há momentos de encontro com
presentes que são passado, lembranças de pedaços de vida impagáveis…os meus
filhos…os meus estudos…os meus livros…a minha música…a paixão pelos alunos e
pelas Letras e Filosofias…a minha POESIA…
Ao começar a escrever poemas, sem o imaginar, estava a
comemorar a minha Vida…Foi como se tivesse pegado num “espelho de registos” que
o Passado me entrega a todo o momento, para exorcizar tempos que me fizeram
sentir um frio diferente. Nessas memórias reflexivas, que são os meus poemas,
sinto que se tornam mais claras muitas das nuvens cinzentas do viver, porque as
enfrento na força da Palavra. Momentos há, em que pareço retida nas teias da
infância, sem ser capaz de fugir dessas lembranças, para, como navio
aparelhado, partir para a “rota” da “actualidade seguinte”, o novo
“EU”refugiado em espaços desabitados por outros que não eu. É AÍ que sei SER-ESTAR!
AÍ, encontro-me e lavro as ideias em folhas de caderno, com a ajuda do
Dicionário. AÍ, no POEMA, ACONTEÇO, sem cobardia. Aí, apanho a coragem e a
determinação como motores de arranque para a descoberta do que ainda não ME
conheço!
Dizia ANTERO DE QUENTAL no Soneto “TESE E ANTÍTESE”:
(…) “TU, pensamento,
não és fogo, és luz!”
Atrevo-me a responder-lhe: Não, Antero…O meu pensamento é
luz…mas é FOGO, também!
Mealhada, 10 de Novembro de 2012-11-09
Maria Elisa Rodrigues Ribeiro
http: //lusibero.blogspot.com
POEMA:SENTIDOS
SENTIDOS
Minha cabeça apoiava-se nas saudades que tinha de ti,
enquanto uma comunhão de anseios te retinha
na alquimia das cores e dos sabores que eu-te-vivi.
Nos olhos tenho o vento que trazia o odor dos teus sentidos,
amadurecidos…
Desse vento, chegam fragmentos de farrapos das nuvens
em que nos afundávamos, num recanto do jardim…
Agora…
do alto de uma pétala roxa, é hora da melancolia chamar as
lembranças
vermelhas-rubras de
um Acontecer
que sereno, em mim resplandecia…
Os pássaros continuam a murmurar a liberdade de voar…
Os astros iluminam as noites de Lua Cheia,
enquanto a fecundação das pérolas fecha ,na concha,
o seu grão -de-areia.
As flores dispersam nos ventos
sinais de cio das minhas pálpebras ,
cerradas aos simulacros de cintilação.
Meus sentidos andam à deriva na recordação-de-ti,
dentro da poesia que ‘inda não escrevi…
Meu fogo parou, quando um vulcão vomitou magma-fervente
na cintura que te oferecia pulsações ascendentes
de permanente euforia …
Ciciam sementes, contentes por germinarem na terra que as
cobre
com litanias,
que despertam como as flores, ao nascer do dia!
Vou construindo um poema de teus olhos
numa mágica ilha de orlas sensuais,
onde seremos um teorema de luz no caos das sensações
da natural geometria dos temporais…
Um realismo de seiva quente corre pelas veias das plantas
outonais…
No mar, por trás dos montes, cantam ventos imemoriais…
C14P-11-NOV/012
Maria Elisa R. Ribeiro
(Marilisa Ribeiro)
quinta-feira, 28 de março de 2013
VISITA ÀS NOSSAS ALDEIAS...
Chove em Portugal; chove muito e tão sistematicamente que os nossos lavradores vêem, com apreensão,este contínuo acumular de águas nos terrenos que vai levar ao apodrecimento das sementes.
Aproveitei a tarde para ir dar uma volta pelas aldeias do Concelho de ANADIA, a que pertenço. Passei pela CURIA, minha terra, que ficou mais "limpa" e atractiva depois das obras que a Câmara lá mandou realizar. Mas com tanta chuva nem dá para apreciar e usufruir das mesmas.
Fui à MATA...continuei por Óis do Bairro, São Lourenço e Couvelha. Notei o envelhecimento e o abandono triste a que estes lugares estão votados, pelo envelhecimento das populações e pela nova onda de emigração a que os portugueses estão a ser obrigados, em consequência da catástrofe a que estamos condenados com as políticas deste governo de passos coelho.
Entrei na Igreja de TAMENGOS e na de VILARINHO do BAIRRO.O período pascal faz-se sentir na costumada ornamentação das mesmas. O roxo impera, como é tradição num lugarejo católico. Mas sente-se igualmente o cheirinho dos "folares" da Páscoa, tradição desta região bairradina...caseirinhos, amassados com o suor da força das nossas mulheres que mantém viva a tradição do bolo da páscoa que se oferece aos afilhados ,no próximo Domingo.
Fui até SAMEL... Não vi muitas mudanças , em relação a tempos idos... Há tanto a fazer!
Resolvi fazer este passeio em vosso nome, amigos que sois, destas aldeias.
Notícias boas?
Senti-as em Vilarinho do Bairro onde, tendo família, pude sentir as saudades e a tristeza de ver fora do país, em longínquos horizontes, os nossos familiares. Senti também, não posso deixar de o dizer, a ideia determinada de jovens primos que afirmam que vão emigrar...
Uma Páscoa diferente, esta...pela muita chuva e pela angústia em que se vive...
FELIZ PÁSCOA, MEUS AMIGOS E CONTERRÂNEOS!
Maria Elisa- 28 de Março de 2013
SAUDAÇÃO DE PÁSCOA
Estamos às portas de um novo período pascal.
Com tantos amigos e visitantes do meu Blog espalhados pelo mundo, venho, por este meio , desejar uma Páscoa muito feliz a todos os que comungam da paz desta época do ano e a todos, em geral, que estão em união, fora do país!
Muita Paz para todos os meus bons amigos!
Maria Elisa Ribeiro
domingo, 24 de março de 2013
"NOSTALGIAS"----PARQUE DA CURIA
IDEIAS POR PALAVRAS…
“NOSTALGIAS…
O grande Mahatma
Gandhi, filósofo e pacifista indiano do séc. passado, dizia do ser humano:”A indolência
é um estado maravilhoso, mas perturbante. Temos que fazer alguma coisa para
sermos felizes.”
Talvez por isso e
talvez, também, por uma questão de carácter, dei comigo, depois de me
aposentar, a fazer pequenas viagens pelo território das minhas raízes, esta
ímpar região bairradina, a procurar motivos de recordação de épocas
passadas…nunca longínquas precisamente porque, sempre presentes. A “Bairrada”é,
para além do mais que se possa dizer, uma página da História de Portugal, da
antiga e da mais recente! É uma página de grandiosidade dum povo que sempre
viveu da terra e do mar, da agricultura, pesca, turismo, artes, livros,
monumentos, gastronomia, sublevações contra regimes…tudo me vem à cabeça no
momento em que procuro motivos de sublimação da terra e das gentes.
Nostalgia é o nome
abstracto através do qual, em todo o mundo, se pretende dar um significado ao
estado de espírito que, nós, portugueses, tão bem conhecemos como SAUDADE. Isto
para vos dizer, leitores, que o tempo passa de tal modo veloz como o espaço de
um “ai”…quase não dá por ele! Ainda “ontem”, menina de 14/15 anos, “vivia “o
PARQUE da CURIA. Por lá passaram tantas das minhas ilusões, tantas alegrias e
tantas tristezas, também (por que não admiti-lo?); tudo fez parte da criação do
meu ser, ora brincando com as minhas irmãs e as minhas companheiras de escola,
ora namoriscando, naquela idade em que a Primavera de cada um de nós começa a
florescer…Nem tudo na vida são alegrias…As rosas têm espinhos e a infância que
deveria ser um espaço/tempo de alegria, não o é, para todos…Não é disso, no
entanto, o assunto das minhas lucubrações de hoje. O estar aposentada
proporciona, a quem não sente a velhice, oportunidades únicas de ver a vida com
outros olhos. Tenho-me dedicado, como dizia Garrett, no capítulo 49 de “Viagens
na minha terra”, a procurar revisitar espaços onde não ia, há muitos anos:”De
todas quantas viagens, porém, fizeram, as que mais me interessaram sempre foram
as viagens na minha terra.”
Ora, meus amigos, eu
fui ao…PARQUE da CURIA! E não se riam… que é verdade!
Passaram anos, desde a
última vez que lá tinha ido; com tantas proibições de andar por aqui e por ali,
confesso que desmotivei …Quando lá entrei, na passada semana, não encontrei o
parque dos meus encantos! Vi um lago quase totalmente pantanoso, arvorezitas
sem a pujança de outrora, desbastadas, carreiritos e atalhos cobertos de
vegetação rasteira que reclamou o que era seu, cadeados por tudo quanto é lado,
parecendo querer impedir-nos de testemunhar a degradação, meia dúzia de patitos
dando, ao que já foi o maior lago natural de Portugal, um ar da vida que ele
perdeu…e carpas, muitas carpas, enormes, com a barriga cheia de lodo e de
algumas migalhas de pão, que lhes vão atirando para aquela água paúlica!
Nesse lago, montavam-se,
nos anos 50/60, enormes palcos, que serviam à actuação de artistas da rádio, no
auge da fama; lá se faziam festivais de folclore e de outras artes. Era o tempo
da Simone de Oliveira, do António Calvário, da Madalena Iglésias, do Henrique
Mendes, Artur Garcia…
Era ainda o tempo em
que a volta a Portugal tinha uma etapa, que partia do Largo da Rotunda e em que
o PALACE HOTEL organizava o, então famoso, “Baile das Rosas”, para o qual, como
é lógico! só as elites eram convidadas. Parecendo que não, isso eram eventos
que davam à Curia um ar fino e …um pouco de cultura e animação.Vi, de relance,
na realidade e na imaginação, um pouco desse lago, de então…Nos mais recônditos
cantinhos, hoje, o lago é ,quase todo, um potencial pântano.
Na entrada do parque,
apesar de tudo, as árvores dão já um ar da sua graça, com aragens primaveris;
as flores desabrocham, por todo o lado; os trabalhadores fazem a poda e limpam
aquilo que ainda podemos visitar…Os patitos nadam e refugiam-se na “ilha”.
Resta-nos a recordação
desanimada daquilo que a Curia já foi…Que pena!
Diz o filósofo
SAVATER:” Viver com coragem inteligente na ausência de certezas absolutas.”
Ao ver o Parque da
Curia, a única certeza absoluta é a do nosso envelhecimento com ele, com as
memórias e os, -ainda-sonhos!
Atrevo-me a falar para
os meus conterrâneos: devemos preferir o melhor de tudo, para o
rejuvenescimento do espaço ímpar que é o parque! Exige-o a consciência pública,
exigem-no as memórias das nossas vidas, exige-o a ideia que se tem do paraíso
na terra…A Natureza, nossa única casa, exige-o, também!
Responda quem puder, se
puder, como puder…Mas respondam ao parque da Curia, verdadeiro património
bairradino!
Mealhada,13 de Março de
2013
Maria Elisa Rodrigues
Ribeiro
sábado, 23 de março de 2013
O Pensamento de RAÚL BRANDÃO (1867-1930)-in O Citador
O Assombro da Incoerência do Nosso Ser"Sou um mero espectador da vida, que não tenta explicá-la. Não afirmo nem nego. Há muito que fujo de julgar os homens, e, a cada hora que passa, a vida me parece ou muito complicada e misteriosa ou muito simples e profunda. Não aprendo até morrer - desaprendo até morrer. Não sei nada, não sei nada, e saio deste mundo com a convicção de que não é a razão nem a verdade que nos guiam: só a paixão e a quimera nos levam a resoluções definitivas.
Todos os dias mudamos de opinião. Todos os dias somos empurrados para léguas de distância por uma coisa frenética, que nos leva não sei para onde. Sucede sempre que, passados meses sobre o que escrevo - eu próprio duvido e hesito. Sinto que não me pertenço...
É por isso que não condeno nem explico nada, e fujo até de descer dentro de mim próprio, para não reconhecer com espanto que sou absurdo - para não ter de discriminar até que ponto creio ou não creio, e de verificar o que me pertence e o que pertence aos mortos. De resto isto de ter opiniões não é fácil. Sempre que me dei a esse luxo, fui forçado a reconhecer que eram falsas ou erróneas".
Raul Brandão, in " Se Tivesse de Recomeçar a Vida "NOTA:
Escritor português dos finais do século XIX princípios do século XX, retratou, como ninguém a vida dos povos ribeirinhos ,do nosso país e nomeadamente da beira-mar de Mira, Vagueira, Costa Nova e outras. Via o sofrimento da miséria destes povos que, afirma, "chegava a comer plantas do chão, para matar a fome..."Das suas obras, destaco "HÚMUS", que nos faz encontrar com a finitude da vida, pensamento a que todos fugimos.A ter em conta, também, "OS PESCADORES".
Maria Elisa
quinta-feira, 21 de março de 2013
POEMA: "PROFUNDO FEMININO"-INÉDITO-ESCRITO , ESPECIALMENTE PARA HOJE, "DIA INTERNACIONAL DA POESIA"!
PROFUNDO
FEMININO
.soltam-se fios de ouro do sol à passagem felina das
estrelas
perfumadas de luar,
que se instalam numa especial redoma de palavras de amor.
Alarga-se um cerco de ternura que ganha corpo na doçura do
odor
da minha mão, que pede à tua um beijo
ao estender-se para a força da luz da lua
quarto-crescente, a rebolar pelas pedras de uma
nascente-em-flor…
…dentro de mim…dentro de nós…ao som de um botão a explodir rubra cor!
Profundo-feminino-lírico!
_________________onde
nossas bocas são o centro de um universo___________________
______________onde
teu rosto se desenha nas searas e campos lavrados______________
_________________________no
verso-do-meu-inverso___________________________
___________________________nascente
a explodir prazer
_______________________________prazer
de existir a ser
___________________________________hora
a anoitecer
________________________________o
profundo feminino
__________________________________do
meu querer-te
_________________________________no
dia a desvanecer
_______________________________em
meu corpo vertical!
Noite recta
noite
erecta noite inacabada
nos desmaios de queimar cinzas das bibliotecas, que ruíram
ao anoitecer!
Noite vermelha…
vermelho odor de seios de brancas rosas…
sangue rubro dentro de um Sonho!
Que belo é o anoitecer da seara onde volteia, rodopiando,
o perfume de Florbela-Mulher-Amor!
.perfume aceso. sorriso de trigo quente. olhar ardente
no rosto rubro da nossa voz –que-diz-SIM!
DEPOIS…
…um clarão cresce dentro do florear da madrugada ,nos campos
magnéticos
que são teus braços nos meus, dentro de sombras que um céu
protegeu
e…
…há uma busca de permanente harmonia no reconhecer cada
fresta de nós,
sem querer saber do Tempo
que pode durar uma hora-de-nós-sem-voz…
…porque o amor dura sempre uma
eternidade frenética
e eu não conheço o mapa do teu coração…
Mas sei que ouves a voz que se desprende das clareiras floridas,
e dos rios sussurrantes de brisas entontecidas…
Maria Elisa R. Ribeiro
(Marilisa Ribeiro)
CQ16-(ERTS)- MARÇO/013
segunda-feira, 18 de março de 2013
POEMA: SE...(II)
SE…(II)
Se ao menos uma palavra iluminada soubesse
ensinar-me o caminho…
Se as flores não desmaiassem de cor perante
o brilho quente do
sol…
Se ao menos o vento te fechasse na força
de um abraço, contra meu peito…
Se teus dedos soletrassem os meus sentidos, perdidos
no magma de sulcos de lava…
…as areias do mar, ao longe, perder-se-iam no canto
das sereias prateadas…
...os rios deslizariam por
cima de seixos quentes, obstinados,
sempre presentes na trajectória dos dias…
…o orvalho sensual perdido nas folhas das árvores, escorreria ,
natural, pela folha de papel onde me escondo-a- sentir
a fugaz, pálida , luz do teu olhar, ao encontro do viver…
Oh, se caminhássemos nesta bruma, que anuncia o dia onde já
nos perdemos…
Talvez tivéssemos mudado a mão do vento que sufoca as
árvores…
E outros poderiam ter sido ser os rios, as montanhas, as
florestas dos desertos
onde o desalento e a erosão dão as mãos…
e talvez, das nossas memórias se tivesse ausentado o
esquecer-as-flores-rubras a vicejar…
………………………………………………Se não tivéssemos sido
pedra-arruinada-entre-ruínas
………………………………………………talvez o sangue continuasse a fluir no corpo dos cactos
……………………………………………..e voltássemos a ouvir um piano no meio
das águas
……………………………………………..um violino a dançar num céu de espumas
esbranquiçadas
……………………………………………..uma sonata de amor num poema de noites
exaustas….
Maria Elisa R. Ribeiro
(Marilisa Ribeiro)
CQ16-ERTs-OUT/012
sábado, 16 de março de 2013
PORTUGAL DEPOIS DA 7a AVALIAÇÃO DA "TROIKA"
PORTUGAL DEPOIS DA 7ª
AVALIAÇÃO da “TROIKA”
De mal a pior!
Esteve ,por cá, durante quase três semanas, o trio falhado
de observadores internacionais, que encontraram o país, apesar de toda a
terrível austeridade a que temos sido submetidos, pior que nunca!
Digo “trio falhado” , porque ,agora, não querem reconhecer
que as decisões tomadas para Portugal,
estavam erradas e têm contribuído para a
miséria em que nos encontramos .
Falhado, também, estre desgoverno cego que nos quer ver a
todos de mão estendida e cujo ministro das finanças não acerta nenhuma das
previsões que faz; não consegue pôr de pé políticas de desenvolvimento e a única coisa que sabe fazer é cortar nas
pensões, roubar aos pobres e
funcionários públicos, ir decrescendo o
que ganhamos, de tal modo que, dentro em pouco, teremos que pagar para ir
trabalhar. Pessoalmente, vi-me roubada, este mês, em mais de 70 Euros,
novamente! (mais 14 contos antigos!). Como eu, milhares de aposentados e
pensionistas, que ganham muito menos que eu! No mês passado, levaram mais de
1000 Euros em impostos relativos a Janeiro e Fevereiro!
Estimam os entendidos que, no fim de 2013, o desemprego vá
chegar aos 20%! Mas, outros que já fizeram as contas, dizem que já lá estamos e
que o desgoverno está a apresentar as estimativas “POR BAIXO”!
As manifestações de desagrado aumentam e sucedem-se, agora
já com idosos, jovens, crianças ao lado dos pais, militares, polícias,
professores, empregados e desempregados, todos contra este estado de coisas e
contra “as coisas” deste estado!
Não sabemos que fazer perante tantos impostos, tantos aumentos
da luz, da água, do gás, bens essenciais sem os quais a sociedade moderna não
pode já viver.Do mês passado para este, passei de um pagamento de 69 Euros de
luz para 83 este mês! Como? Porquê? Ando pelos corredores encostada às paredes
para, com o braço sentir a porta onde quero entrar!
O Imposto sobre a casa, subiu de 35 Euros do passado ano
para 132, este ano, a pagar em Abril! Onde vamos roubar o dinheiro? Eu quero
“assaltar” um “banco”!
Os reformados ultramilionários das chefias bancárias,
liderados por filipe vinhal fizeram um movimento “DE REFORMADOS
INDIGNADOS”!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!porque não querem que o governo lhes roube
tanto dinheiro, nas reformas ultramilionárias! Ao que nós chegámos! Há
desgraçados com reformas de DUZENTOS E POUCOS EUROS! Há milhares e milhares de
desempregados sem receberem qualquer tipo de ajuda do desgoverno! POBRE POVO!
Muitas são as vozes, da Esquerda à Direita, a pedir a
demissão destes tipos que não estavam nem estão preparados para liderar o país
nesta Europa de crise, de guerras sociais, de uma miséria como nunca se viu, no
velho continente!
Jean Claude Junker, da União europeia, alerta para os
perigos de guerra, nesta europa destroçada por quem a tem saqueado. E reparem,
amigos leitores, é a Alemanha, mais uma vez! a estar por detrás da nossa
miséria…A Alemanha que viu 2/3 da dívida perdoada, depois da Guerra, para poder
reconstruir o seu território e que hoje, século XXI, não tem vontade de se
integrar nessa mesma europa ,que a ajudou.
Diz um conhecido provérbio popular; “ Nunca lembres a um
rico que ele, se calhar, já foi pobre!”
A situação política/social do nosso país, porém, é de tal
ordem que, seria hora de chamar Sua Exa, o Sr. Presidente da República, a
mostrar que sabe destas histórias e a dizer-lhe que deve “dar um murro na mesa”
desta Alemanha, lembrando-lhe estas situações e o dever de olhar para o
continente em que se integra, e a viver repartindo a solidariedade. Mas em
Belém mora um “espectro”do que deveria ser um Presidente da República! Dele só
esperamos que se preocupe em acabar o mandato, para ter mais uma pensão de
reforma! Então, não querem saber que o Senhor ontem declarou que não fazia
ideia de que a “água estivesse tão cara”?!!!!!
Depois, quando uma vez por mês se digna sair à rua, fica “abananado”
por ver que há manifestações de desagrado popular e diz que “é necessário ter em atenção o desagrado do
povo”!
Prenuncia-se, cada vez com mais visibilidade, o desastre
económico e social para que caminha, a passos cada vez mais largos , este pobre
país.
O filósofo Edgar Morin pediu-nos para estarmos vigilantes
quanto à imprevisibilidade dos tempos e das situações. Como pode estar um povo
que tem certas as calças que veste tal como o copo de água que bebe ou o pão
que come?
Mealhada,16 de Março de 2013
Maria Elisa R. Ribeiro
sexta-feira, 15 de março de 2013
POEMA: PORTAL
PORTAL
É o deserto um mar feito de areias do próprio mar.
Encriptados pelo sol sob as patas da Esfinge
há segredos dos livros de Alexandria, a conhecer,
quando o mar de areia se tornar água de fonte, límpida e corredia.
A lua, presa ao céu lavado de fresco pela força das trovoadas
trespassa a noite de solidão fria, para inundar de luz as areias do caos.
A noite dará lugar ao dia quando as frésias florescerem e
as primaveras
puderem entrar no mar cheio de areias do calor.
A orla das ilhas salpicadas de tufos de harmonia
recebe
sem qualquer dramática filosofia,
a espuma cinzenta das ondas a lutar,
fugindo
dos pés da Esfinge-louca-por-saber…
O magma das sílabas em plena conexão ordena
os verbos do mundo, numa gramática preliminar que , só no poema, se pode agregar.
O sol abre o portal do mundo!
As aves espantam-se e desatam a voar!
Os golfinhos despertam as ondas libertinas
despidas em tons de beleza felina…
Os mares acordam as águas azul prateadas.
que correm para o portal da verdade
levando no dorso o poema .
que tenta saber da eternidade há tanto prometida
nas ondas do silêncio,
prolongadas pelo decorrer da vida…
Maria Elisa Ribeiro
(Marilisa Ribeiro)
CQ16-FEV/013
quarta-feira, 13 de março de 2013
terça-feira, 12 de março de 2013
segunda-feira, 11 de março de 2013
sexta-feira, 8 de março de 2013
DIA INTERNACIONAL DA MULHER/013
DIA INTERNACIONAL DA MULHER/013
Escrevi um textinho para todas nós. Mas dedico-o também aos homens da nossa vida que nos amam e respeitam e aos amigos do Facebook que me têm recebido, Sempre, com muito carinho e respeito.
Este ano, resolvi dedicar um poema à menina- mulher ANNE FRANK, que podeis comentar, se assim o entenderdes. Não farei notificações, como entendo ser a atitude mais correcta na passagem deste dia em que tantas de nós , por todo o mundo. estamos unidas .
"“DIA INTERNACIONAL DA MULHER”- (2013)
“Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer.”
Carlos Drummond de Andrade
Comemora-se, hoje, o “Dia Internacional da Mulher”.
Sou um pouco ave
ssa a comemorar “dias especiais”, pois entendo que todos os dias da vida do mundo deveriam ser dias para pensar na Arte, na Música, nas Mulheres, nos Homens, nos Poetas, nas Crianças Especiais…nas flores, nos mares, nas árvores, etc.
Integrada, no entanto, no sistema social, entendo que não me posso alhear de realidades que o Mundo destaca e, por conseguinte, aqui estou para dar uma palavrinha aos seres que, como Mulheres, são hoje lembrados, mais particularmente.
A intenção que subjaz à criação institucionalizada destes dias especiais é, a meu ver, a de dar”um murro no estômago” das sociedades e forçá-las, ao menos num certo dia do ano, a pensar naquilo que muitos se abstêm de enfrentar, nas coisas especiais e importantes e que o ego social tem tendência a esquecer.
Todos sabemos que as sociedades são um mundo “a preto e branco”, um mundo onde o Bem coabita com o Mal…Mas é sobre esses mosaicos de cores opostas que pomos os pés, diariamente, pisando uns e outros a bel-prazer de cada um de nós.
Sendo o mundo habitado por seres racionais e irracionais, reconhecemos que a Criação nos juntou para que nos víssemos todos, uns aos outros, nas nossas especificidades, qualidades e defeitos.
E …não somos nada perfeitos … temos virtudes e defeitos…nós, mulheres e homens…que não existimos uns sem os outros!
…e as flores são lindas! as árvores , os rios, os mares, as neves , são lindas! os pássaros, as montanhas, os bebés…são lindos!
Feio , é o HOMEM-SER! O Homem que domina, que corrompe, que destrói tudo em que toca com a “inteligência” que o deveria tornar humano! E como lhe faltam “CAUSAS”…criaram-se os dias disto e daquilo!
Tomo a liberdade de, como Mulher e junto de todas as Mulheres, comemorar este dia deste ano de 2013, com uma humilde e sentida homenagem a ANNE FRANK, a tal menina do “Diário de ANNE FRANK”, livro mais lido e traduzido do Mundo e considerado património da HUMANIDADE. Faço-o em termos poéticos também, num poema que me atrevo a amar, pois esta Menina-que-foi-sendo-Mulher não o pôde ser integralmente por vontade do SATANAZ- HITLER, que a matou no campo de Concentração de BERGEN-BELSEN, dois meses antes de os Aliados terem libertado a HOLANDA do jugo nazi.
Neste livro, que descreve o sofrimento e o horror desta época sob HITLER, escrito de modo fascinantemente maduro desde 14 de Junho de 1942 a 1 de Agosto de 1944, a menina que há em todas nós, mulheres, debateu-se “num feixe de contradições”, como afirma no último dia em que teve a oportunidade de “fugir” para junto da “amiga” Kitty e registar o pouco que registou, desse fatídico 1 de Agosto…Menina-Mulher…Lua incompletamente perfeita, pois nunca chegou ao QUARTO – CRESCENTE do desabrochar para a vida…
Queria ser escritora. E se o Mundo imperfeito da ditadura o tivesse permitido, sinto que o teria sido de um modo grandioso, pelo registo de Emoções - em-crescendo que a foram tornando mulher ao observar a angústia e o sofrimento que a levaram, a ela própria, a ver a morte, para além da morte. Aquele “RESTO” de página-em-branco, no último dia, mostra-nos o modo horrível como morreu… Sentimo-lo, olhando sempre outra vez para o que foi crescendo nela, nos dias anteriores de medo, angústia, ansiedade e prenúncio triste…
Diz ela a 20 de Junho de 1942:
…”Por tudo isto é que escrevo um diário. E para evocar, na minha fantasia, a ideia da amiga há tanto tempo desejada, não como uma pessoa qualquer e não só para descrever factos. Este diário é que vai ser “a minha amiga2 e vou pôr-lhe um nome. Essa amiga chama-se KITTY.”..
Nunca esqueçamos, mulheres-minhas -irmãs- de -sexo, que continuam a existir “campos de concentração” à nossa volta e que há mulheres que são impedidas de aceder aos mais básicos direitos da dignidade humana! Encontraremos “burkas” por todo o lado configuradas em todo o tipo de violências, das quais a violência doméstica é, no nosso país , a causa de dezenas de assassinatos por ano, que ficam impunes a maior parte das vezes…
Ponhamo-nos, por isso, em frente de um “Mapa-Mundi”, uma espécie de “espelho” imaginário onde possamos ver as barbaridades contra as mulheres, nomeadamente fora do território europeu… mas nele, também!
Saibamos reconhecer o Amor e a Ternura de quem nos está mais próximo como Maridos, pais, noivos, amigos…Esses representam a “parte branca” do mosaico-mundo, ao darem força à luz que dimana duma “seara-trigo”, de seu nome MULHER!
( É claro que o joio existe em qualquer seara…simplesmente para ser banido das “sociedades-trigais”…)
E recordemos o que dizia Júlio Diniz:
“Um amor bem verdadeiro, uma vida bem íntima com uma mulher, a quem se queira como amante, que se estime como irmã, que se venere com mãe, que se proteja como filha, é evidentemente o destino mais natural ao homem, o complemento da sua missão na terra.
Júlio Dinis
FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER!
Mealhada, 8 de Março de 2013
Maria Elisa R. Ribeiro
POEMA:IN MEMORIAM-ANNE FRANK
POEMA da série "DE UM SOPRO"
IN MEMORIAM
ANNE FRANK
"POEMA :
IN MEMORIAM
ANNE FRANK
De um sopro…
-----------------------------------meus olhos castanhos acendem-se
-----------------------------------na luz de um súbito Verão
-----------------------------------num canal, em AMESTERDÃO.
----------------------------------.raízes de árvores despontam
----------------------------------e entram vigorosas pelo poema-dor.
Grossas, imensas, inusitadas, atormentam lexemas na alma de um escritor.
De um sopro…
------------------------------------a Natureza lacrimeja o frio
-------------------------------------da noite, no orvalho deslizante
-------------------------------------das verdes folhas , a renascer,
-------------------------------------longe do rosto-mártir,
------------------------------------nos canais de AMESTERDÃO.
------------------------------------a linguagem verde das folhas e flores
------------------------------------incendeia-se, como uma infiltração
------------------------------------musical, ao som do Diário dum canal.
De um sopro…
------------------------------------os olhos das árvores, na linguagem
------------------------------------do pranto,
------------------------------------encontram-se na pureza do rosto
------------------------------------de ANNE FRANK!
------------------------------------e há comboios lotados
------------------------------------a deslizar pela neve…
------------------------------------ corpos tristes, desmaiados
------------------------------------de auras de ancestralidade,
------------------------------------ sentem –se já condenados
------------------------------------a um destino selvagem.
De um sopro… choro lágrimas de fel!
E o Tempo-do-não-Mundo da barbárie total
ficou suspenso num-Tempo-sem-Tempo…
Ali…num trágico Portal…
NOTA: em memória de ANNE FRANK, a mulher-menina que não pôde ser Quarto -Crescente
de uma Lua destroçada ,porque vermelha de ensanguentada!
(Maria Elisa Ribeiro)
Marilisa Ribeiro- CQ16/FEV/013
terça-feira, 5 de março de 2013
OS HETERÓNIMOS EM FERNANDO PESSOA
FERNANDO PESSOA (1888-1935): OS HETERÓNIMOS. (REP)
NOTA: este trabalho é, simplesmente SIMPLES! É apenas um aflorar do tema , que é muito profundo!
Afirma a crítica brasileira NELLY NOVAES COELHO (NNC), estudiosa da obra de FERNANDO PESSOA (FP):”Fernando Pessoa foi um ser-em-poesia”, isto é, alguém que criou e viveu “quase todas as possibilidades de Ser e Estar-no-mundo”, através dos diversos poemas e culturas que exprimiu. O seu temperamento levou-o a criar dramas, em actos e acção, com personalidades diferentes, que se revelam na heteronímia.”
A heteronímia é, em FP, um fenómeno que não se explica. Tentou, o poeta, na carta a Adolfo Casais Monteiro (ACM) dar uma explicação, digamos assim, do processo de personalidade OU não, que conduziu à existência de um CHEVALIER DE PAS, aos seis anos de idade, e ao aparecimento de tantas outras personagens-dentro-de- Pessoa, que são FP, como foram FP, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos ou Bernardo Soares.
Já me referi a esse processo da génese dos heterónimos e à poesia ortónima, embora de modo sucinto, em artigos modestos, há pouco tempo. Sei que o que disse não é “nada” desse mundo conhecido/ desconhecido, sobre o poeta; os nossos amigos e leitores não gostam de textos longos…Hoje, tentarei ser o mais breve possível, no estudo das principais características desse mundo, que é a poesia heteronímica de FP.
Pessoa viveu a fase mais importante da sua vida literária depois de Cesário Verde (1855-1887) ”O poeta do olhar”; é de notar, no entanto, que Cesário o influenciou verdadeiramente, pelo menos na poesia de ALBERTO CAEIRO, o “GUARDADOR DE REBANHOS”, o poeta heterónimo na sua genuinidade telúrica, no seu gosto pelo deambular pela Natureza…
Não poucas vezes o referiu nos seus poemas, tanto nos heterónimos, como na obra ortónima.
E aqui lembro o poema em que escreve:”Ao entardecer, debruçado pela janela, / E sabendo de soslaio que há campos em frente, /Leio até me arderem os olhos/O livro de Cesário Verde. Pastor sem rebanho, que não o das suas palavras, somente, Caeiro deambula, errática e bucolicamente pelos campos, numa perfeita comunhão com a Natureza que o poeta realista-parnasianista tanto cantou. Depois de conhecer a sua poesia, Pessoa tratava-o por MESTREtal a sabedoria de vida que reconhecia haver em CV, que a tuberculose cedo ceifou das nossas LETRAS.
Caeiro distancia-se, no entanto, voluntariamente, de CV, pelo vocabulário simples, quase rudimentar (voluntariamente, também!) para nos dizer que não acredita senão nas sensações, no ver e ouvir, no não atribuir pensamento ao que escreve, pois que (poema I de O GUARDADOR DE REBANHOS) …Pensarincomoda como andar à chuva…pensar é estar doente dos olhos…pensar é não compreender…E assim, por aí adiante, numa recusa de pensar na origem das coisas, na Metafísica, no significado dos “porquês”…Portanto, diz : “Há metafísica bastante em não pensar em nada…O único sentido íntimo das coisas/ É elas não terem sentido nenhum”.
No poema VI, está latente, a sua filosofia de vida:”O meu olhar é nítido como um girassol. /
Tenho o costume de andar pelas estradas/ Olhando para a direita e para a esquerda, / E de vez em quando olhando para trás…”
Versilibrismo, (ausência de rima ou ritmo) muitos “e”, para dar a ideia de falta de cultura, paganismo ao deificar a Natureza, não impediram, que os outros heterónimos o considerassem O MESTRE, pela ciência simples de vida.
Nota-se na poesia de FP, que o poeta “passeia” em dois planos, perfeitamente perceptíveis, distintos: o interior, o do seu EU, e o plano das projecções ou exterior.
No plano íntimo, o poeta como que se decide a “peregrinar” por si próprio, em busca de uma espécie de “GRAAL” que é a sua alma multipartida (Não sei quantas almas tenho…/ (Poema NÃO SEI QUANTAS ALMAS TENHO) “Sentir? Sinta quem lê…/ (Poema ISTO ou “Minha alma procura-me/ Mas eu ando a monte…”( do poema SOU UM EVADIDO)
É como se fossem uma ou muitas MÁSCARAS de si próprio, nas PERSONAS que dentro, encontra.
E esta temática leva-nos, decididamente, às questões da eterna pergunta do homem: quem sou? Caso decidisse, neste momento, entrar por essa via, iria ter ao EXISTENCIALISMO, assunto que já tratei no nosso jornal.
Falar do plano projectivo não é difícil, se nos lembrarmos das impressões da vida exterior que condicionaram e influenciaram a vida dos modernistas e que eles pretenderam projectar nas sociedades, para verem, definitivamente banidas atitudes decadentistas e falsamente românticas. Foi a época do “ULTIMATO INGLÊS, DA Iª GRANDE GUERRA, DO ASSASSINATO DO REI D.CARLOS E da IMPLANTAÇÃO da REPÚBLICA, em 1910. As dores exteriores incidem, profundamente, no mundo interior!
Tanto é verdade, que o próprio FP, a respeito dos heterónimos, diz:” É sério, tudo o que escrevi, sob os nomes de CAEIRO, REIS E CAMPOS. EM todos pus um perfeito conceito de vida, diferente de um para os outros, mas em todos seriamente preocupados com o mistério da existência.”
Na realidade, um leigo na matéria pode ver três personalidades diferentes, três estilos poéticos diferentes, três “persona” com características próprias mesmo que divergentes,
mas que, pela temática, se apresentam seriamente angustiados com as questões da existência humana, o que transforma o POETA numa só entidade: FERNANDO PESSOA, ELE-MESMO!
Falemos um pouco de Ricardo Reis, o heterónimo clássico, o Dr.Ricardo Reis, que FP viu “ nascer”em1912, todo voltado para o Passado clássico e nebuloso poeta pagão, por conseguinte.Nos seus poemas tristes entram os deuses e outras figuras míticas, fala-se do Fado (Destino), da transitoriedade da vida, de como o tempo passa correndo como as águas de um rio, da mudança que se opera, consequentemente, no ser humano, sempre à mercê dos deuses… da MORTE, inevitavelmente. Por, isso, o poeta sente que deve viver todos os momentos da melhor maneira possível, sem compromissos, gozando o Momento e tentando superar a dor (estoicismo e epicurismo, Carpe diem e magna quies)já que os deuses é que comandam a vida humana com uma indiferença pasmosa! Acima deles, sóo FADO, a que todos obedecemos e que comanda os nossos passos, até à morte!
Nos seus poemas, vemos expressões como estas:”Amemo-nos tranquilamente…Colhamos flores…pensemos que a vida passa…não fica nada, nada deixa e nunca regressa….”Só esta liberdade nos concedem os deuses: submetermo-nos ao seu domínio….No mesmo hausto em que vivemos, morremos….Colhe o dia, porque és ele….gozemos o momento…aguardando a morte, como quem a conhece…Nada fica de nada…nada somos….cadáveres adiados que procriam…este é o dia. Esta é a hora, este o momento, isto é quem somos e é tudo…Perene flui a interminável hora…Cada um cumpre o destino que lhe cumpre…ETC…
RR, um homem pouco feliz, um exilado, porque o seu Tempo é outro, é o da antiguidade clássica!
NOTA: impossível, tendo em conta o espaço deste artigo, concluir o estudo dos heterónimos e falar de Álvaro de Campos (AC) e de “MENSAGEM” (obra ortónima).
Falarei desta matéria, brevemente, pois em AC há três partes distintas. Depois, é preciso “unificar”, digamos assim, a poética pessoana.
Para já, termino com esta opinião do estudioso da obra de FP, ANGEL CRESPO:” Pessoa é um dos poetas mais enigmáticos de qualquer tempo e lugar! Os heterónimos conferem-lhe um prestígio oracular, de uma aura absolutamente fantástica…”
Mealhada, 22 de Novembro de 2012
Maria Elisa Rodrigues Ribeiro
maria.elisa.ribeiro@iol.pt
sábado, 2 de março de 2013
sexta-feira, 1 de março de 2013
INDIGNAÇÃO...
A INDIGNAÇÃO…
Disse HERÓDOTO (-485-425):
“São as circunstâncias que governam os homens e não o contrário. “
Com toda a bacoca arrogância que o caracteriza, para além do
cinismo e da falta de competência, passos coelho tem feito saber que não pede desculpas
aos portugueses por ter enganado o povo na campanha eleitoral, porque não deve
desculpas a ninguém!
(Quanto a mim, que não votei nele nem em relvas ou gaspar,
não tem que pedir desculpas senão de ainda não ter percebido que todos o
odiamos de tal ordem, que não o podemos ver, ouvir ou ver, nas cadeiras do
poder!)
Amanhã, dia 2 de Março de 2013, terá lugar mais uma grande
manifestação contra esta “trupe”, que se apoderou do sangue do povo! Necessário
se torna que os portugueses não se mantenham em casa a ver o futebol e saiam
para a rua a gritar a indignação que sentimos por nos vermos continuamente
roubados, por vermos o desemprego a subir para lá do milhão de pessoas, por
sabermos que as nossas crianças chegam às escolas sem comer, porque os pais não
podem alimentá-las, por vermos escolas fechadas por falta de Professores, pois
que a “trupe” mandou-os para casa, aos milhares! por vermos que não há justiça
para os ladrões e os corruptos mas há-a para a pobre mulher que , ingenuamente,
roubou duas maçãs no valor de 0’98 cêntimos…por nos roubarem nas pensões com a
desculpa de que ganhamos muito! e não
vêem as pensões escandalosamente milionárias dos grandes ladrões da Banca de
Portugal! Só de pensar que Ricardo Espírito Santo teve que corrigir o documento
de IRS de ganhos de um milhão de euros para OITO MILHÕES E MEIO, fico com dores
de coração para além das dores de barriga!
Acaba de ser anunciada uma nova taxa de desemprego: do
passado mês para hoje, o desemprego subiu para 17,3%!E podem crer que, não
tarda muito, estaremos nos 20% pois o desgoverno não sabe o que fazer, não
implementa a economia, não nos permite consumir porque nos rouba tudo!
NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA: FORAM ABSOLVIDOS, POR FALTA DE
PROVAS! OS ARGUIDOS DO PROCESSO “CASA DA BEIRA”!
Mas o que, realmente, comecei com o título, vou continuá-lo
com as minhas palavras: ontem, num discurso qualquer, esta “coisa” a que chamam
primeiro-ministro, disse: “ A INDIGNAÇÃO NÃO É RESPOSTA À CRISE!”
Até o direito à indignação nos querem roubar? Então, que
resta ao povo com fome, senão sair à rua e manifestar a sua indignação? Se um
governo como o que temos, não consegue dar respostas às calamidades públicas do
empobrecimento contínuo, da falta de ajudas na saúde, do desemprego ascendente
e calamitoso, querem pôr-nos a “canga” ao pescoço e arrancarmos a língua?
O Presidente da República, emparedado em Belém, nem se faz
“cheirar”!
O povo não tem dado descanso aos membros do desgoverno,
esperando os ministros e protestando a cantar o “Grândola, vila morena”! O
primeiro-ministro anda de tal modo louco que passou, ontem, a entrar por portas
laterais… Ao sair, lá estava a tal meia dúzia de cantantes que fizeram
reforçar, para níveis nunca imaginados o número de “seguranças” do senhor…
Estamos numa Europa que não sabe o que dizer das trágicas
medidas de recessão a que tem submetido os países como Portugal! Enquanto tudo
lhe demos, eles foram amealhando … Agora, que precisamos de ajuda, atiram-nos
para tais extremos de miséria que , na verdade, temos que dar razão ao
banqueiro ULRICH e reconhecer que, mais dia menos dia, seremos todos “sem
abrigo”!
Ao fazer as contas ao que me foi roubado em impostos este
mês, face ao que o governo determinou, vi que, nos meses de Janeiro e
Fevereiro, perdi mais de 1000 Euros…paga-se, daqui a mais, cada passo que damos
na estrada… pagar-se-á pelo ar que respiramos… e , entretanto, as lojas e
restaurantes , pensões, hotéis , tascas, etc…aquilo que pertence ao sector do
comércio e da restauração…vai fechando portas, vai deixando mais miséria e
desemprego, vai continuando a acabar com tudo o que conhecemos como PORTUGAL…
Voltarei, amigos!
Dizia SARAMAGO: “ SE TENS UM CORAÇÃO DE OURO, BOM PROVEITO!
O MEU, FIZERAM-NO DE CARNE E SANGRA TODO O DIA”!
Mealhada, 1 de MARÇO DE 2013-03-01
Maria Elisa Rodrigues Ribeiro
http:// lusibero.blogspot.com
POEMA
Poema:
EU e mais EU
Não imito!
Reciclo ideias,
gestos, atitudes,
mesmo que banais...
Amo a VERDADE na LIBERDADE!
Sou um duo:
EU e mais EU,
meu alter-ego,
por vezes...cego!
Voo bem alto
do sobressalto
da água parada,
paúlica,
sem vida!
Corro nas asas do rouxinol,
que morre, cansado
de tanto correr...
...Sinto as tremuras
dos ares do tempo,
que passa, apressado,
para não cair...
Parar é morrer!
Tempo não morre...
Passa a correr!
Ó Natureza
da minha vaidade
de ser flor!
- árvore amiga
...giesta rosada...
urze violeta!
Dou-me, lasciva,
à tua beleza
que cheira a resina,
erva -menina
...rosa florida!
E renasço...
e reciclo-me...
...e revisto-me ...
...de MIM-OUTRA!
C8H- 117/NOV(mqc)-2010
Maria Elisa Rodrigues Ribeiro
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