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"O Homem Pensador e a Mulher Faladora
O homem pensador é necessariamente taciturno. A mulher faladora não consegue atordoar-lhe o espírito, mas faz-lhe nos ouvidos a traquinada intolerável de uma matraca. A matraca afugenta do coração todas as quimeras do amor. Não vos caseis com homem pensador, mulheres que falais um momento antes de pensar o que direis. O amor —se vo-lo pode inspirar tal homem—fará que não fecheis olhos velando-lhe a doença; fará que lhe sacrifiqueis os haveres, a reputação e a vida; fará tudo que humanamente pode fazer um anjo de sacrifício, mas não vos fará calar. O feudo mais pesado que uma tal mulher pôde impor a um homem é — a obrigação de ouvi-la.
O homem pensador é necessariamente taciturno. A mulher faladora não consegue atordoar-lhe o espírito, mas faz-lhe nos ouvidos a traquinada intolerável de uma matraca. A matraca afugenta do coração todas as quimeras do amor. Não vos caseis com homem pensador, mulheres que falais um momento antes de pensar o que direis. O amor —se vo-lo pode inspirar tal homem—fará que não fecheis olhos velando-lhe a doença; fará que lhe sacrifiqueis os haveres, a reputação e a vida; fará tudo que humanamente pode fazer um anjo de sacrifício, mas não vos fará calar. O feudo mais pesado que uma tal mulher pôde impor a um homem é — a obrigação de ouvi-la.
A ofensa que tal mulher nunca perdoa é — a insolência de ouvi-la, sem escutá-la. Vejam num dicionário a diferença das duas palavras. Escutar é querer ouvir. Uma bela mulher, capaz de extremos, tentou a franqueza do amante que, em vésperas de matrimonio, lhe disse: «não faltes tanto.» A noiva pesou estas palavras, reflectiu, calculou as suas forças, chorou, atormentou-se, e disse: «não me casarei: é impossível calar-me.» Para que me não tomem isto como anedota, é preciso dizer-lhes que esta mulher foi acerbamente ferida no seu orgulho. O orgulho da mulher faladora, uma vez ferido, é incurável. O orgulho da mulher é a sibila de todos os seus segredos.
Uma mulher bonita entretem, silenciosa.
Perguntei uma vez a um meu amigo:
—Aquela mulher sabe falar?
—Com os olhos—respondeu ele.
Era verdade. A natureza, para a não fazer perfeita, dera-lhe a língua. Conforme ia falando, a magia dos olhos perdia-se. Por fim, dez erros de gramática em doze frases de murmuração sobre a vizinha fronteira, fizeram-me cair lá de cima da altura onde eu subira procurando a fonte de luz que se lhe irradiava dos tão lindos olhos!"
Uma mulher bonita entretem, silenciosa.
Perguntei uma vez a um meu amigo:
—Aquela mulher sabe falar?
—Com os olhos—respondeu ele.
Era verdade. A natureza, para a não fazer perfeita, dera-lhe a língua. Conforme ia falando, a magia dos olhos perdia-se. Por fim, dez erros de gramática em doze frases de murmuração sobre a vizinha fronteira, fizeram-me cair lá de cima da altura onde eu subira procurando a fonte de luz que se lhe irradiava dos tão lindos olhos!"
Camilo Castelo Branco, in 'Um Homem de Brios (1856)'
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