terça-feira, 5 de junho de 2012

POEMA: TEMPO IMPERFEITO



TEMPO IMPERFEITO


Queria um tempo sem relógios
onde pudesse mover-me através das memórias,
regando-as com raios de sol e brisas de gotas dos regatos.
Queria encontrar a poeira granítica da história
e desfazê-la com a força do sopro das veias,
recheadas de palavras-das-ideias.
Queria falar-te de um túnel
onde escondi a solidão das areias dos desertos,
que deixaram as águas do mar
para se prostrarem perante as esfinges despertas.

Queria arder no ouro do amor
que os ventos, impiedosos, levaram com ardor,
nos rubros cantos do entardecer…

O vento não tem alma nem calma
para ver a tessitura de uma teia, nas curvas do corpo da árvore.
Não sente a dor da flor a germinar…
Não se alegra com o desfilar harmonioso das águas
do ribeiro, macio e sedoso…

Queria manter a permanente vontade de Querer!

Queria permanecer-Me na ausência-de-Mim,
sem esquecer as rotas do Além no Tempo,
ao leme dum barco que não navega na tua rota
e que se perde nas doiradas areias dos mares
tão já percorridos pelos sentidos…

Tudo o que perdi vive comigo na essência…
Demência poética escorrega pelos dedos que tocaram
teus cabelos, ao perderem-se pelos ares do teu corpo
…doce magnificência…

E és o Poema que queria escrever
e que o Tempo não-permitiu-SER.

Marilisa Ribeiro- MARÇO/012

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