segunda-feira, 13 de abril de 2009

Hino a Miguel Torga1907/1995


(FOTO DO GOOGLE)

Homenagem a Miguel Torga

São Martinho de Anta acorda!
Chega o poeta e tudo se move: a terra, o ar, a água e o fogo.
A alegria do seu retorno provoca a desorientação discreta
da “mãe -natureza".
Riem torgas, urzes, rosmaninhos, pelos montes!
Ruge o vento ao bater nas pontes!
Inclinam-se as fragas, em sentida emoção!
Cantam as fontes no perene correr
das suas águas,em sinal de saudação.
A Natureza revive pela força da presença do homem
com ela sempre em união!
A Terra-mãe, ventre profícuo da semente escondida,
promete searas vivas, plenas, pujantes,
na serena convicção de que é assim, sem medida,
que agrada ao poeta, que ali arriba!
Vergam-se as árvores, prenhes de fruto,
à passagem desta personagem de vulto,
Que faz despontar a “vida - terra”…
Que poder tens tu, homem de São Martinho,
que tal caos provocas,
na “ terra - pó”, onde tens teu ninho ?
Os teus pés pisam vinhedos do Douro,
desencantando velhos segredos do “ ar -mosto”,
que respiras, suspirando…
As tuas mãos,
misterioso elemento da criação do teu mundo,
legam-nos, no ar do teu pensamento profundo,
todos os “nadas” que são, afinal, “tudos”…
Parece fugir-te o Mar,
que deu vida à vida do teu rectângulo sofrido!
Mas é nas claras águas do Mondego
que revive a tua memória sem medo;
tempos de saber…de poesia e de segredo!
Abrasam-te ares do Norte ,
com a força da lareira que arde,
no teu viver forte…
Vive, poeta! Vive ainda e sempre, em nós,
pela “ obra -terra”que nos legaste,
em momentos de vivo confronto, a sós,
com Aquele que nunca encontraste!
Que presença tão constante advém da tua aura!
Se fujo, tu vens comigo(dura ilusão...)
dando-me a força telúrica, de quem não abandona-nunca!-
a terra-mãe, que se ama, até à loucura,
por ser o berço da constante Procura.

Com essa tua aura, chega também,
o doce cheiro do orvalho das manhãs.
Contigo, na neblina, comungo das sensações
da pureza dos elementos!
Quando me estendes a mão, encontro, por fim, então,
todos os meus alimentos: terra, ar, fogo e água!
E, sem surpresa, as torgas rejuvenescem,
os ares purificam,
o fogo vivifica,
as águas deslizam, cantantes, saltitantes...

SET./08-Cad.5C

3 comentários:

  1. era adolescente...13 anos...8.º ano...li os "Bichos" e não contigo uma lágrima na "Madalena"...grande Miguel Torga...foi há tanto tempo, nem sequer me lembro dos colegas de turma...mas não esqueci as palavras do escritor...

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  2. onde se lê "contigo" deve ler-se "contive"

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  3. Um homem das pedras rijas do Douro, e da aldeia como eu (obviamente que não me estou a comparar a Miguel Torga), caramba como eu admiro Miguel Torga.

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