sábado, 7 de outubro de 2017

DE Rudyard Kipling



Se...

Se podes conservar o teu bom senso e a calma
Num mundo a delirar para quem o louco és tu...
Se podes crer em ti com toda a força de alma
Quando ninguém te crê...Se vais faminto e nu,

Trilhando sem revolta um rumo solitário...
Se à torva intolerância, à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bençãos de perdão...

Se podes dizer bem de quem te calunia...
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor
Mas sem a afectação de um santo que oficia
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor...

Se podes esperar sem fatigar a esperança...
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho...
Fazer do pensamento um arco de aliança,
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho...
Se podes encarar com indiferença igual

O triunfo e a derrota, eternos impostores...
Se podes ver o bem oculto em cada mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores...
Se podes resistir à raiva e à vergonha

De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste...
Se podes ver por terra as obras que fizeste,

Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio a construir de novo...
Se puderes obrigar o coração e os músculos

A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar: Avante...
Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre...

Se vivendo entre os reis, conservas a humildade...
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade...
Se quem conta contigo encontra mais que a conta...

Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minuto se espraie em séculos fecundos...
Então, oh ser sublime, o mundo inteiro é teu!

Já dominaste os reis, o tempo e os espaços!
Mas, ainda mais além, um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.
Pairando numa esfera acima deste plano,

Sem receares jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um Homem!...”
"If..." - Rudyard Kipling (1865-1936), traduzido por Félix Bermudes.

Este lindo mas difícil poema do grande poeta, fala da vida e das nossas possibilidades e atitudes, perante a mesma. Considero-o dividido em duas partes. A primeira parte vai do princípio do poema até"Então, oh ser sublime, o mundo inteiro é teu!"Nesta primeira parte, servindo-se da ANÁFORA "SE", (Conjunção Condicional), o poeta explica o que nos pode acontecer"!se" formos vivendo como ele pensa.

Na segunda parte do poema, já não há "SE"...esgotaram-se as possibilidades...e há sempre algo superior a nós...o que significa que estamos condenados a nunca realizar mais do que nos é permitido. Começa em "Já dominaste os reis...até""Alegra-te, meu filho,então serás um Homem!"

Afinal, precisamos de errar, de não ter alma nem sentimentos, para sermos um "HOMEM"...

Maria Elisa Ribeiro

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