terça-feira, 8 de agosto de 2017

Agustina Bessa-Luís

«Eu fui desses leitores, aprendizes danados desde a infância, que se acomodaram ao francês para poder ler os clássicos e outros que o não eram. Os tempos mudaram, mudaram as fortunas que intercedem pela cultura dos povos. Mas continuamos na indigência de edições que honrem na língua pátria os grandes autores, tidos, no entendimento geral, como exclusivo de especialistas e de snobes. (...)
Não se traduzem nem divulgam, pois, os grandes clássicos, fonte de inteligência moral, emenda à lei da morte humana. É um erro. A cultura não se faz ao nível das limitações das pessoas. Ensina-se a ler um povo, mas não se ensina a ser sábio. (...)
Mais do que orientar pessoas num firme reconhecimento da beleza e do sentimento da sua aspiração interior, que é a perfeição, parece interessar moldar as multidões para o alcance de uma cultura competitiva e estatística (...). Mas da modéstia do nosso destino podia constar uma pastoril curiosidade para ver o que há para além das montanhas - o que às vezes só lendo os mestres se consegue. E, mais do que lê-los - não temer por isso tornar-se notado, profano no seu verde prado, apontado como uma planta de jardim num profícuo nabal soberbo dos seus frutos.»

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