quinta-feira, 15 de dezembro de 2016



OPINIÃO
O Atlas, a língua e os seus delírios


A dita “padronização” é não só uma falácia como uma arma contra o progresso da língua.
17 de Novembro de 2016, 7:00
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Acaba de ser lançado, com orgulho e devoção, o Novo Atlas da Língua Portuguesa, obra que é fruto de uma parceria ISCTE-IUL com o Instituto Camões. Para os que vêem no português uma língua em franca expansão, é a “bíblia” feita à medida. Mas mesmo para os cépticos no assunto, há-de ser útil pela profusão de material ali reunido. Para lá dos muitos números e considerações (dêem-se ao trabalho de os ler e conferir, por favor), assume particular relevo o prefácio assinado pelo ministro Augusto Santos Silva, intitulado “Da língua como solo e como horizonte”. Há nele afirmações lúcidas, como esta: “A proclamação, o panegírico e o discurso que se limita a repetir dois ou três estereótipos ou palavras de ordem, por mais mobilizadoras que sejam, servem para muito pouco, tendo aliás o efeito contraproducente de criar uma ilusão de suficiência e facilidade.” (pág. 22) Aviso que o leva a esta conclusão: “Não chega, por conseguinte, dizer que a língua portuguesa é uma das mais faladas, em todos os continentes e com enorme potencial económico. Tudo isso é verdade, como são reais as dificuldades que a sua difusão enfrenta, quer nalguns países lusófonos, quer fora deles. Cada caso é um caso e requer uma estratégia cuidada, coerente e duradoura.”
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No mesmo texto, no entanto, há esta passagem verdadeiramente extraordinária: “A possibilidade de uma ‘deriva’ da variante brasileira face à europeia e africana, de tal dimensão que poderá colocar em causa o mínimo de intercompreensão indispensável à unidade linguística, é um risco real, que as políticas públicas dos países e a cooperação multilateral na CPLP não devem ignorar. Analogamente, a evolução do português oral falado em Portugal, por exemplo ‘fechando’ as vogais pré tónicas quase até à eliminação fonética delas, representa um risco de incompreensão que só convívio e a troca frequentes entre os diferentes povos falantes da nossa língua pode ajudar a ultrapassar.” Como obrigar os portugueses a deixarem de falar como falam e os brasileiros a “derivar” como “derivam”? Ele dá-nos três pistas: a “investigação científica, desde logo linguística, formal e pragmática, gramatical e discursiva”; a “padronização, certamente respeitadora da diversidade estrutural das variantes”, nela se inscrevendo “a aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 [AO], mas também vários outros instrumentos de unificação e regulação”; e, por fim, “o ensino e, em particular, a formação de professores do ensino básico e secundário.” Querem melhor?
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