Poema de Antero de Quental (1842-1891), in O Citador
O Palácio da Ventura
Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas d'ouro com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!
Antero de Quental, in "Sonetos"
Foto net-Diz-se que Columbano "via" a alma de quem retratava, nas suas pinturas. Se repararmos na expressão de Antero, na face macilenta, nos olhos depressivos e na expressão ausente, veremos o homem que, dois anos depois, deu um tiro na cabeça. Este soneto é uma metáfora da constante busca da felicidade, que o poeta não encontrou. Quando pensava tê-la encontrado, era sempre mentira.(Maria Elisa Ribeiro )
Sem comentários:
Enviar um comentário