segunda-feira, 30 de setembro de 2013

POEMA: LOROSAE






POEMA: LOROSAE

LOROSAE

Bocas de sândalo amansaram as rugas feridas dos bosques e irrigaram pedras das florestas nas asas da rima de um choro-horror.

Choveu sangue nas pétalas dos meninos-gente de Timor!

As árvores da noite acordaram-a-escurecer e as folhas, temerosas, correram por túneis -de-esconder-almas, a procurar o azul liberdade das águas do mar.

Os pássaros beberam as luzes dos voos livres, e as estrelas, amedrontadas, anularam-se como realidade da PALAVRA.

Tenebrosos, os sussurros da besta entravam na alma da floresta, em corpo serpente ondulante a sugar a beleza da alma azul-turquesa, sob uma lua oriental, sem armas…indefesa.

Verdejantes arrozais colapsaram, em pausa forçada, para a hora dos festins habituais.
Uma poeira incessante projecta-se num espelho-máscara-negra, perturbante, esperando que os ventos abram o sol, nos lábios dos sorrisos das crianças; a vida vai-sendo, sempre que um punhado de lótus e de jasmins se derrame a cobrir estradas de sangue-púrpuro-terror, com milhões de pétalas coloridas em tons de fraternal odor.

Os rios retomam o curso da rota do natural percurso…
As aves nidificam e alegram os ares, num arranque atrasado para a nova vida…
Tossem os ventos das monções a dar sinal destemido de presença e as ancas das largas montanhas voltam a contar fábulas, dando as mãos às sombras da bonança, enquanto os rouxinóis cantam a verdade da Poesia!

Uma bandeira LOROSAE impôs-se aos ventos da universal humanidade e mira, orgulhosa, novas auroras-boreais!

Maria Elisa rodrigues Ribeiro
(MERR)-VDS-JLH/013-REG: CR — com Susana Duarte e 49 outras pessoas.

AUTÁRQUICAS 2013

OPINIÃO


A noite de Rui Moreira e do descalabro da maioria


MIGUEL GASPAR

29/09/2013 - 20:41







10







TÓPICOS

António Costa
Rui Moreira
Autárquicas 2013


A surpreendente vitória de Rui Moreira no Porto, o descalabro dos candidatos da maioria nas primeiras autarquias para as quais as televisões fizeram projecções e o triunfo estrondoso de António Costa em Lisboa são as notas salientes deste início de noite eleitoral.

Há um candidato independente a dirigir uma das duas maiores cidades do país – e isto é suficiente para sublinhar a relevância das candidaturas independentes nestas eleições. Marco Almeida, outro independente, está a disputar a vitória em Sintra, palmo a palmo, com Basílio Horta. Não vamos ficar por aqui.

Mas a candidatura de Moreira, mesmo que contando com o apoio de um partido, o CDS, é radicalmente diferente de outras candidaturas independentes. Muitas destas, na verdade, são dissidências partidárias motivadas por divergências com as escolhas dos aparelhos partidários a nível nacional.

No caso do Porto, tratou-se de um movimento da cidade, em grande parte para impedir que Luís Filipe Menezes atravessasse o rio Douro. Moreira agregou apoiantes de Rui Rio, elites económicas e culturais da cidade, desfez o PSD e partiu a candidatura do Partido Socialista – Pizarro teve um resultado muito fraco, comparativamente ao de Elisa Ferreira, em 2009.

Pela sua natureza, a vitória de Rui Moreira abre um precedente extraordinário, quanto à capacidade de uma cidade gerar um movimento no essencial autónomo, com uma representatividade e ideias próprias, que agora terá de aplicar o seu programa no terreno.

Os números das projecções de Moreira são importantes e mostram como o candidato independente desfez o quase-empate que as sondagens davam para o Porto.

A vitória de Moreira é a derrota de Luís Filipe Menezes, que desde o princípio acreditou que a sua campanha iria ser um passeio olímpico. Menezes tinha 32% das intenções de voto na sondagem do Expresso divulgada em Agosto. A melhor projecção dá-lhe 22 a 25%. Poderá ser derrotado por Manuel Pizarro. É uma enorme humilhação.

Mas o antigo presidente de Vila Nova de Gaia pagou também o preço da enorme penalização que os eleitorados urbanos parecem estar a impor aos candidatos apoiados pela maioria. Os resultados de Fernando Seara em Lisboa, de Pedro Pinto em Sintra e de Abreu Amorim em Gaia são no mínimo desoladores. Poderemos estar no princípio de uma noite catastrófica para o PSD e o CDS.

As ondas de choque do terramoto não deixarão de afectar a estabilidade da coligação, quando, na segunda-feira, o país despertar de novo para as duras realidades da troika e dos juros.

O maior partido da oposição consegue, para já, dois enormes triunfos. A vitória de António Costa é simplesmente esmagadora: reforça a votação de 2009 e conseguiu a cereja no cimo do bolo, ou seja, aumentar o número de vereadores para dez ou talvez 11.

A vitória de Eduardo Vítor Rodrigues, antecipada pelas projecções, terá alcançado também números muito expressivos, face às sondagens, quando se esperava que o independente Guilherme Aguiar estivesse em condições de se bater pela vitória.

POEMA DE GUERRA JUNQUEIRO (1850-1923)





















Poema de Guerra Junqueiro (1850-1923):

in O Citador


Elegia

"A alegria da vida, essa alegria d'oiro
A pouco e pouco em mim vai-se extinguindo, vai...
Melros alegres de bico loiro,
Ó melros negros, cantai, cantai!

Ando lívido, arrasto o pobre corpo exangue,
Que era feito da luz das claras madrugadas...
Rosas vermelhas da cor do sangue,
Rosas abri-vos às gargalhadas!

Limpidez virginal, graça d'Anacreonte,
Mimo, frescura, força, onde é que estais?... não sei!...
Ó águas vivas, águas do monte,
Ó águas puras, correi, correi!

Eu sinto-me prostrado em lânguido desmaio,
E a minha fronte verga exausta para o chão...
Cedros altivos, sem medo ao raio,
Cedros erguei-vos pela amplidão! "

Guerra Junqueiro, in 'Poesias Dispersas'

EXCERTO DE UM TEXTO SOBRE O PENSAMENTO DE TEÓFILO BRAGA (1843-1924)






Através de www.institutocamoes.pt, um extracto de artigo sobre o pensamento de Teófilo Braga :



...

"A ânsia de somar títulos e de engrossar a sua bibliografia não lhe prejudicou a humildade. Assim se compreende que desde 1909 tenha querido realizar uma “recapitulação” da História da Literatura Portuguesa, revendo em profundidade e refundindo muito do que escrevera, por forma a suprimir erros e a corrigir imprecisões. Por outro lado as questões da identidade nacional tinham-no fascinado desde cedo. Assim, teimou em encontrar um substracto étnico em que pudesse sustentar a “essência da nação portuguesa”. Julgou tê-lo identificado na raça mosárabe ou moçárabe, que se teria originado, em seu entender, através da fusão entre a população goda mais humilde, que não acompanhara a retirada dos aristocratas para as Astúrias, e a população árabe. Esta muito questionável teoria encontra-se sustentada em títulos como as Epopeias da Raça Mosárabe, de 1871, e A Pátria Portuguesa. O Território e a Raça, de 1894. Tal patriotismo não foi uma singularidade ou uma bizantina expressão de subjetividade. Foi, outrossim, uma explícita e elevada reivindicação republicana, impregnando o ideário das diversas gerações militantes. No caso de Teófilo Braga, este pendor também se concretizou nos temas de toda uma literatura de imaginação ou de refiguração, cuja matéria-prima lhe foi fornecida por episódios ou figuras do nosso passado histórico. Isto explica a publicação, em 1902, do poema Os Doze de Inglaterra, da “narrativa epo-histórica” Viriato, de 1904, e do drama Gomes Freire, de 1907. A publicação, entre 1892 e 1902, dos quatro grossos volumes onde traçou a História da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrução pública portuguesa não correspondeu apenas à vontade de fixar os grandes momentos do desenvolvimento do ensino superior em Portugal; significou também um desforço, um ajuste de contas com a instituição que o preteriu num concurso público de candidatura à docência, baseando-se em critérios de antiguidade nos termos dos quais, segundo a sua ironia, “um velho banco da Universidade ” poderia “valer mais do que o Herculano”.

O sistema filosófico perfilhado por Teófilo, firmado numa depurada racionalidade positivista e no culto do cientismo, conduziu-o à defesa do materialismo e à adoção do ateísmo. Mas isto não equivaleu à impossibilidade de se aperceber da carga poética inerente ao catolicismo. Não espanta, portanto, que tenham jorrado da sua pena de pensador ateu algumas interessantes páginas consagradas às Origens poéticas do Cristianismo (1880), que mais tarde se completaram com um outro volume, intitulado As Lendas Cristãs (1892).

Realizar na idade madura o projeto de vida que se formulou na juventude, não é ventura que todos os seres humanos possam ter. Se a resposta dada por Joaquim Teófilo Braga a um dos seus professores do Liceu de Ponta Delgada, de querer, no futuro, ser doutor, primou pela sinceridade, então encontramo-nos perante uma venturosa criatura. Trabalhador incansável, titã da escrita, ainda que revelando os pés de barro da sua precipitação impetuosa, Teófilo teve um perecimento digno de si, uma vez que podemos afirmar, com propriedade, que morreu a trabalhar. Nos seus últimos tempos de vida queixava-se amargamente das suas enormes dificuldades de visão. Recorria aos préstimos dos seus amigos ou antigos discípulos mais fiéis para lhes ditar os textos que ia mentalmente arquitetando. O seu último projeto de investigação consistiu em tentar reconstruir a vida e a obra do livre-pensador Uriel da Costa. Logrado intento, visto que faleceu, rodeado dos seus papéis, no refúgio da Travessa de Santa Gertrudes, em 28 de janeiro de 1924.

Cuidem-se os que se comprazem em denegrir e ridicularizar Teófilo. Ele poderia esmagá-los com o simples peso dos seus incontáveis livros e artigos. Seria triste que pigmeus morressem desta forma. E, sobretudo, seria muito injusto, atendendo à desproporção...


Bibliografia Básica

BRAGA, Teófilo, Visão dos Tempos, Porto, Em Casa da Viúva Moré-Editora, 1864.

BRAGA, Teófilo, Tempestades Sonoras, Porto, Em Casa da Viúva Moré-Editora, 1864.

BRAGA, Teófilo, As Theocracias Litterarias, Lisboa, Typographia Universal, 1865.

BRAGA, Teófilo, Theoria da Historia da Litteratura Portugueza, Porto, Imprensa Portugueza-Editora, 1872.

BRAGA,Teófilo, Traços Geraes de Philosophia Positiva comprovados pelas descobertas scientificas modernas, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1877.

BRAGA, Teófilo, Soluções Positivas da Política Portugueza. Da aspiração revolucionaria e sua disciplina em opinião democrática, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1879.

BRAGA, Teófilo, Historia das Ideas Republicanas em Portugal, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1880.

BRAGA, Teófilo, Dissolução do Systema Monarchico-Representativo, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1881.

BRAGA, Teófilo, Systema de Sociologia, Lisboa, Typographia Castro Irmão, 1884.

BRAGA, Teófilo, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza, Lisboa, Por ordem e na Typographia da Academia Real das Sciencias, 1892-1902 (4 vols).

BRAGA, Teófilo, As Modernas Ideias na Litteratura Portugueza,Porto, Livraria Internacional de Ernesto Chardron, 1892 (2 vols).

BRAGA, Teófilo, Discursos sobre a Constituição Politica da Republica Portugueza, Lisboa, Livraria Ferreira, 1911.

BASTOS, Teixeira, Theophilo Braga e a sua Obra, Porto, Casa Editora Lugan & Genelioux, Successores, 1892.

CARREIRO, José Bruno, Vida de Teófilo Braga. Resumo Cronológico, Coimbra, Coimbra Editora, 1955.

CIDADE, Hernâni, Doutor Teófilo Braga. As directrizes da sua obra de história literária, Lisboa, Faculdade de Letras, 1935.

COELHO, A. do Prado, Teófilo Braga. Notas de estudo, Lisboa, Faculdade de Letras, 1936.

FERRÃO, António, Teófilo Braga e o positivismo em Portugal (com um núcleo de correspondência de Júlio de Matos para Teófilo Braga), Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa, 1935.

HOMEM, Amadeu Carvalho, A ideia republicana em Portugal. O contributo de Teófilo Braga, Coimbra, Livraria Minerva, 1989.

In Memoriam do Doutor Teófilo Braga. 1843-1924, Lisboa, Imprensa Nacional, 1934.

ORTIGÃO, J. D. Ramalho, Theophilo Braga. Esboço biographico, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1879.

Quarenta annos de vida litteraria (1860-1900). Com um prologo Autobiographia Mental de um Pensador Isolado por Theophilo Braga, Lisboa, Typographia Lusitana-Editora Arthur Brandão, MCMII.

Quinquagenario.1858 a 1908. Cincoenta annos de actividade mental de Theophilo Braga julgados pela critica contemporanea de tres gerações litterarias, Lisboa, Antiga Casa Bertrand, José Bastos & C.ª, 1908.

SOARES, Mário, As ideias políticas e sociais de Teófilo Braga, Lisboa, 1950.




* Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra
http://www.institutocamoes.pt/

domingo, 29 de setembro de 2013

POEMA: GOTAS POÉTICAS (LX)








POEMA:


GOTAS POÉTICAS… (LX)


…suspensas dos olhos
brilhantes
a sussurrar o sangue
das veias deslizantes…

…pálpebras cerradas
…sentidos despertos
…canções murmuradas
…mãos entrelaçadas na penugem do ninho
[de ardores esculpido...


…brisas
…rumores do vento inquieto
…águas correntes
a ferver nos sentidos
[das baías do sonho...


…flores de orvalho
a descobrir o som do silêncio,
música-essência de um sóbrio
[desejo…



…pingos que Me banho…
…folhas-sombras que Me chovo…
…saliva que Me humidifico…


Gotas-de-Mim-em-Ti…
…abelha voraz que Me afogueia…
…sentidos-a-desfalecerem
…sementes-de-germinar -em-cadeia …


Maria Elisa R. Ribeiro
GTS (LX )-REG: CR-SET/013

SOBRE O ESCRITOR PORTUGUÊS AUGUSTO ABELAIRA

Sobre o romance "BOLOR", de AUGUSTO ABELAIRA, uma opinião em O Citador :


" Opinião
Segundo os críticos e estudiosos este romance de Augusto Abelaira é considerado um dos livros que marcaram a passagem à pós-modernidade na literatura portuguesa. Foi editado pela primeira vez em 1968. Pelo estilo muito próprio do autor, estilo este presente ao longo da sua obra, trata-se, sem dúvida, de um romance criativo que ultrapassa qualquer classificação ou estilo que se queira atribuir, e que aponta a um modelo de sociedade cujos valores, à época em que foi escrito (também o tempo da acção), quase nada já tinham a ver com as mudanças que surgiram no quotidiano, na consciência e no comportamento das pessoas.

É o retrato da decadência do casamento, tema muito abordado em vários romances de Augusto Abelaira. Através de um diário, Humberto, personagem central de um triângulo amoroso, coloca-se perante algumas questões relacionadas com a sua relação conjugal, observando o seu comportamento e o de sua mulher, Maria dos Remédios. Ao mesmo tempo vai tomando consciência do terceiro elemento, Aleixo, amigo íntimo, que de forma subversiva leva Humberto a expor-se perante a evidência da desagregação do seu casamento.

A dada altura, o diário é tomado pelas outras duas personagens, e o jogo narrativo assume contornos irónicos, onde cada um defende a sua perspectiva perante os outros pólos. A ironia estará se o diário, começado pela mão de Humberto, e desviado do seu propósito original para dar lugar a uma confissão a três vozes, não será de todo a imaginação do próprio Humberto face aos factos reais – numa atitude de auto-desculpa e vitimização?

A certeza que temos é que os factores para o desmoronamento conjugal estão lá todos: a monotonia, os clichés, o conformismo e o inconformismo, a insegurança, a solidão, o desejo de um recomeço. O próprio conceito de amor conjugal é colocado em questão. A busca da resposta a um porquê elucida-nos sobre a frustração que precipita o fim.

Não se trata de saber como se desenvolve e acaba uma história onde um casal se afasta pela acção de um terceiro elemento, mas antes da tomada de consciência, pelos três pólos deste triângulo, dos elementos que determinam uma ruptura e exigem uma mudança. Elementos esses arrastados, esticados, desgastados, bolorentos. "

Uma leitura para introspecções. Um livro sobre a crise conjugal, infinitamente actual.


Excerto
"– Porque casaste comigo em vez de casar com outra? Por que me escolheste a mim como imagem da vida quotidiana, ponto de referência em relação ao qual uma diferente vida é possível – vida, parêntesis, na realidade inútil de todos os dias? Por que me sacrificaste ao casares comigo, em vez de casares com outra? Outra, portanto, o ponto de referência em relação ao qual eu seria agora o parêntesis, o sonho…?"

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sábado, 28 de setembro de 2013

O DESABAFO DA MÃE DO MINISTRO PAULO PORTAS

HELENA SACADURA CABRAL, MÃE DE PAULO PORTAS DIZ QUE É UMA MÃE INFELIZ...
LEIA O TEXTO ESCRITO POR ELA ... E PERCEBERÁ PORQUÊ...!

"Ontem tive o azar de apanhar o PM do país onde nasci, a explicar das suas razões para uma mais que certa retroactividade de cortes aos pensionistas "que estão a receber".(sic)

Fui educada numa família de gente séria que trabalhava para sustentar os seus e que considerava ser essa a obrigação de todos aqueles que tinham decidido constitui-la.

Trabalho para viver do modo que sempre vivi, pois a reforma que recebo e o que este Estado me tira - estou a ser educada - não me permitiriam viver apenas dela. E tenho a sorte de ainda haver quem prefira comprar um livro meu a uma camisola básica.Essa é que é essa.

Dito isto, desliguei a televisão irritadíssima. Pronunciei alto umas palavras que não costumo usar e deitei-me. Tive uma noite de insónia, revoltada com o que ouvira e decidi que ninguém me poria a vista em cima nesta fim de semana. Era a minha única forma de evitar eventuais desaguisados.

Hoje levantei-me e fui à missa pela minha Mãe, que faria anos se fosse viva. E sabem que mais? Fui comer sardinhas assadas lá para as bandas do Tejo, beber sangria e caminhar ao sol. Desanuviei

O Dr Gaspar e a reforma do Estado podem levar-me a pensão, podem levar-me o pouco que tenho no banco para uma doença, mas não hão-de conseguir nem levar-me a voz, nem levar-me a alegria de estar viva. Porque eu não quero e porque eu não deixo!
(Helena Sacadura Cabral)
Foto: HELENA SACADURA CABRAL, MÃE DE PAULO PORTAS DIZ QUE É UMA MÃE INFELIZ...
LEIA O TEXTO ESCRITO POR ELA ... E PERCEBERÁ PORQUÊ...!

"Ontem tive o azar de apanhar o PM do país onde nasci, a explicar das suas razões para uma mais que certa retroactividade de cortes aos pensionistas "que estão a receber".(sic)

Fui educada numa família de gente séria que trabalhava para sustentar os seus e que considerava ser essa a obrigação de todos aqueles que tinham decidido constitui-la.

Trabalho para viver do modo que sempre vivi, pois a reforma que recebo e o que este Estado me tira - estou a ser educada - não me permitiriam viver apenas dela. E tenho a sorte de ainda haver quem prefira comprar um livro meu a uma camisola básica.Essa é que é essa.

Dito isto, desliguei a televisão irritadíssima. Pronunciei alto umas palavras que não costumo usar e deitei-me. Tive uma noite de insónia, revoltada com o que ouvira e decidi que ninguém me poria a vista em cima nesta fim de semana. Era a minha única forma de evitar eventuais desaguisados.

Hoje levantei-me e fui à missa pela minha Mãe, que faria anos se fosse viva. E sabem que mais? Fui comer sardinhas assadas lá para as bandas do Tejo, beber sangria e caminhar ao sol. Desanuviei

O Dr Gaspar e a reforma do Estado podem levar-me a pensão, podem levar-me o pouco que tenho no banco para uma doença, mas não hão-de conseguir nem levar-me a voz, nem levar-me a alegria de estar viva. Porque eu não quero e porque eu não deixo!
(Helena Sacadura Cabral)O DeSBAFO

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

BOA NOITE, AMIGOS DE TODO O MUNDO, QUE ME VISITAIS!


POEMA: AMANHÃ

POEMA:AMANHÃ


AMANHÃ


O Amanhã é sempre inesquecível…
…é imprevisível o tempo-do-seu-SER…


No Amanhã podem colher-se os frutos que não
amadurecem Hoje…
Pode limpar-se o espelho empoeirado,
cheio de amarras
que ignoram a vida dos homens,
que andam a mudar os caixilhos do mundo.


No Amanhã imprevisível, talvez eu seja [capaz

de completar o poema de fogo da vida
que ‘inda não escrevi,

por ser segredo a tua verdade nos meus [versos,

submersos em interrogações!


(É segredo o amor que fizemos, como da primeira vez…)


Mas, só no Amanhã possível, de todo imprevisível,
o poderei confessar… para te recordar…e perturbar, também…

Depois de ti, o céu foi embora…não mais voltou…
Eu fiquei a contemplar…
…a contemplar-desejar…
… desejar a Vida quente que hibernou no mistério do teu corpo,
absorto na contemplação de milhentas belas flores…

Quase perdi o verbo brilhar, que o [sol

mandava para me animar…

onde contemplei
a memória dos atalhos da montanha
onde te percorri…


( Minha fome-de-Ser!)


E vejo os frutos-seios-das-árvores a sorrirem ao sol,
…que possui as águas das puras cascatas
que têm por dentro o Sonho-das-matas.

Os meus sonhos?


…esses vivem nas asas das aves
que se estendem
aos ventos de Ontem …

Os de Amanhã permanecem imprevisíveis, na dúvida fatal !


Volto ao leme da vida…
…o homem do leme não pode sonhar…
…não anda à deriva!


Guardo o meu Poema…minha viagem que devo completar
ao leme das tuas mãos, num Amanhã que se esqueça
que- foi- a- dúvida- de- Hoje !




Maria Elisa Rodrigues Ribeiro


Marilisa Ribeiro-SET/012-C 15P-8(VDS)

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Poema de Afonso Duarte(1884-1958)

Poesia de Afonso Duarte (1884-1958):

in O Citador


Paisagem Única

Olhas-me tu: e nos teus olhos vejo
Que eu sou apenas quem se vê: assim
Tu tanto me entregaste ao teu desejo
Que é nos teus olhos que eu me vejo a mim.

Em ti, que bem meu corpo se acomoda!
Ah! quanto amor por os teus olhos arde!
Contigo sou? — perco a paisagem toda...
Longe de ti? — sou como um dobre à tarde...

Adeuses aos casais dessas Marias
Em cuja graça o meu olhar flutua,
Tudo o que amei ao teu amor o entrego.

Choupos com ar de velhas Senhorias,
Castelo moiro donde nasce a Lua,
E apenas tu, a tudo o mais sou cego.

Afonso Duarte, in "Ritual do Amor"

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

POEMA: PROFUNDO-FEMININO-LÍRICO







POEMA:


PROFUNDO- FEMININO-LÍRICO

.soltam-se fios de ouro do sol à passagem felina das estrelas
perfumadas de luar,
que se instalam numa especial redoma de palavras de amor.

Alarga-se um cerco de ternura que ganha corpo na doçura do odor
da minha mão, que pede à tua um beijo
ao estender-se para a força da luz da lua
quarto-crescente, a rebolar pelas pedras de uma nascente-em-flor…
…dentro de mim…dentro de nós…ao som de um botão a explodir rubra cor!

Profundo-feminino-lírico!

_________________onde nossas bocas são o centro de um universo___________________
______________onde teu rosto se desenha nas searas e campos lavrados______________
_________________________no verso-do-meu-inverso___________________________

___________________________nascente a explodir prazer
_______________________________prazer de existir a ser
___________________________________hora a anoitecer
________________________________o profundo feminino
__________________________________do meu querer-te
_________________________________no dia a desvanecer
_______________________________em meu corpo vertical!


Noite recta noite erecta noite inacabada
nos desmaios de queimar cinzas das bibliotecas, que ruíram ao anoitecer!


Noite vermelha…
vermelho odor de seios de brancas rosas…
sangue rubro dentro de um Sonho!


Que belo é o anoitecer da seara onde volteia, rodopiando,
o perfume de Florbela-Mulher-Amor!


.perfume aceso. sorriso de trigo quente. olhar ardente
no rosto rubro da nossa voz –que-diz-SIM!


Depois…
…um clarão cresce dentro do florear da madrugada ,nos campos magnéticos
que são teus braços nos meus, dentro de sombras que um céu protegeu


e…
…há uma busca de permanente harmonia no reconhecer cada fresta de nós,
sem querer saber do Tempo que pode durar uma hora-de-nós-sem-voz…

…porque o amor dura sempre uma eternidade frenética
e eu não conheço o mapa do teu coração…

Mas sei que ouves a voz que se desprende das clareiras floridas,
e dos rios sussurrantes de brisas entontecidas…

Maria Elisa R. Ribeiro
(Marilisa Ribeiro)
CQ16-(ERTS)- MARÇO/013

Poema de FERNANDO NAMORA (1919-1989)



Por Todos os Caminhos do MundoA minha poesia é assim como uma vida que vagueia
pelo mundo,

por todos os caminhos do mundo,
desencontrados como os ponteiros de um relógio velho,
que ora tem um mar de espuma, calmo, como o luar
num jardim nocturno,

ora um deserto que o simum veio modificar,
ora a miragem de se estar perto do oásis,
ora os pés cansados, sem forças para além.

Que ninguém me peça esse andar certo de quem sabe
o rumo e a hora de o atingir,
a tranquilidade de quem tem na mão o profetizado
de que a tempestade não lhe abalará o palácio,
a doçura de quem nada tem a regatear,
o clamor dos que nasceram com o sangue a crepitar.

Na minha vida nem sempre a bússola se atrai ao mesmo
norte.
Que ninguém me peça nada. Nada.
Deixai-me com o meu dia que nem sempre é dia,
com a minha noite que nem sempre é noite
como a alma quer.

Não sei caminhos de cor.

Fernando Namora, in 'Mar de Sargaços'

terça-feira, 24 de setembro de 2013

POEMA DE EDGAR ALLAN POE (1909-1949)





















Santa Maria! Volve o teu olhar tão belo,
de lá dos altos céus, do teu trono sagrado,
para a prece fervente e para o amor singelo
que te oferta, da terra, o filho do pecado.

Se é manhã, meio-dia, ou sombrio poente,
meu hino em teu louvor tens ouvido, Maria!
Sê, pois, comigo, ó Mãe de Deus, eternamente,
quer no bem ou no mal, na dor ou na alegria!

No tempo que passou veloz, brilhante,
quando nunca nuvem qualquer meu céu escureceu,
temeste que me fosse a inconstância empolgando
e guiaste minha alma a ti, para o que é teu.

Hoje, que o temporal do Destino ao Passado
e sobre o meu Presente espessas sombras lança,
fulgure ao menos meu Futuro, iluminado
por ti, pelo que é teu, na mais doce esperança.

Edgar Allan Poe

POEMA: MAIOR QUE UM CHORO...






MAIOR QUE UM CHORO


Abrir caminho ao longo das memórias é ir, fatalmente,
ao nosso encontro ao Tempo-Passado e
ao percurso que fizemos,  a partir do-que-fomos-sendo.
Com plena consciência, assumo que sou somente o Agora
em que me movo, em cada Segundo- Presente-Futuro,
lago obscuro, onde não sei se ainda existe um verbo nadar.

O céu brilha a vida dos raios de sol.
A Natureza É…naturalmente bela
 como foi-nascendo,
a  amadurecer na beleza natural de SER.

Do pensamento, sopram-me ideias de jardins belos, eternamente  viçosos,
onde as flores vivem a abanar ao som das brisas precisas -no-existir
e as árvores ramalham músicas do cantar das aves, em suaves sinfonias,
constantes-no-porvir.

Olho, além, onde umas tiritas do rio refrescam as velas do veleiro a deslizar…
Nada me engana…vejo o mundo-a-ser, passando por mim como as águas a correr…
…mas sofro!
E intrigam-me as palavras que mordo e me borbulham na língua,
 caindo para o papel…
amor      desamor        libertação       vida       morte…OUTONO!

…Outono-regra das folhas douradas a cairem-para-voltar-a-Ser…
…ruído de um silêncio maior, que a Vida sabe de cor…um silêncio sabedor
do marulhar dos pensamentos,
 em tímidos ribeiros- do- chocalhar dos rebanhos …

Hoje, meu poema é um segredo, onde choro.

No meio do fumo de um cigarro, entranha-se o sol langoroso e quente,
imune às humanas crises…permanentes…persistentes…doentes -de -Ser!



Maria Elisa Rodrigues Ribeiro

(MERR)—REG (MST)-SET/013-(CR)

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Artigo sobre a morte de ANTÓNIO RAMOS ROSA





ANTÓNIO RAMOS ROSA



Este não é o artigo que eu gostaria de escrever sobre o grande poeta, acabado de desaparecer. Isso, fica para mais tarde, com outra preparação. Estas são palavras deste momento, ditadas pela emoção do seu afastamento físico, do nosso meio.

Quero que sejam vistas como palavras “de circunstância” que o coração me dita, sem pretensões a saber o mais apropriado, em termos de grandeza literária, para honrar o nome de Ramos Rosa.

Fui ler a “ADVERTÊNCIA”, de Almeida Garrett, às “FOLHAS CAÍDAS”, sua obra poética em honra de Rosa de Montufar.
Trancrevo:
…”Antes que venha o Inverno…= morte…
“Deixai-o passar(o poeta), gente do mundo, devotos do poder, da riqueza, do mando, ou da glória. Ele não entende bem disso, e vós não entendeis nada dele.
Deixai-o passar, porque ele vai onde vós não ides;(…) vai, porque é espírito e vós sois matéria.
E vós morrereis,  ele não.(…) Mas não triunfais, porque a morte não passa do corpo que é tudo em vós, e nada ou quase nada no poeta”


Ainda hoje estive a ler os poemas da obra “Gravitações” do autor, publicada por “LITEXA PORTUGAL”, 1983, que, estranhamente, suscitaram em mim uma vontade “normal” de, pela primeira vez, aflorar o tema que mais aterroriza o Homem, a morte inexorável, o fim de tudo o que nos foi destinada, desde a hora em que nascemos, sem ter pedido a Ninguém.

No poema “Celebração da terra” , escrito naquele estilo incomparável que só o poeta podia usar, diz ele, a terminar:
“Não há labirintos mas carreirinhos e horizontes clareiras/
Tudo o que se agita é leve e confirma o silêncio/”
Na verdade, os carreirinhos, os labirintos da vida que se agita, nos dias, apenas confirma que o silêncio reinará, no Momento…

O Poema “O lugar”, também ele num estilo inconfundível, saído das raízes mais profundas da subjectividade poética de Ramos Rosa, afirma, a certa altura da 2ª estrofe:
“Algo está por dizer(…)

É verdade, poeta! Algo fica sempre por dizer, quando o espírito é como o teu e o de todos os que “por obras valerosas se vão da lei da morte libertando…”
“Não busques não esperes” dizias no poema “Onde os deuses se encontram”…Buscaste sempre, mas inexoravelmente, não podias, como todos nós, “esperar”…Esperar , o quê, meu amigo, meu “familiar” da Cultura, meu émulo? Bem sei que foste o arauto da busca constante e que não cessaste de aspirar ao essencial, pois é no poema que o real se dá a conhecer…e que no poema é que o poeta se conhece…Mas sei que esse conhecimento é incompleto, precário e provisório. Não somo nós humanos, imperfeitos – na-nossa-precária- perfeição?

Da tua Poesia falaram tantos nomes célebres da grandiosidade poética, por todo o mundo. Tenho na mão uma obra onde o também imortal Jorge de Sena, diz:…”no equilíbrio entre uma sempre a ultrapassar-se amargura adolescente e uma firmeza de tom que se oculta num estilo aparentemente entrecortado e difuso”
A poesia foi a tua sala de espera para poderes encontrar amigos. Nela me encontrei, eu, pequena coisa, contigo, tantas vezes, sem saberes de mim…ou dos Outros…os tantos milhares…milhões-quem sabe? que te sorveram o mel da PALAVRA.

“TUDO ESTÁ NO SEU SÍTIO”

PAZ À TUA ALMA LINDA!
Mealhada, 23 de Setembro de 2013


Maria Elisa Rodrigues Ribeiro

MORREU, AOS 88 ANOS, UM OUTRO NOME "MAIOR" DAS LETRAS PORTUGUESAS: O POETA ANTÓNIO RAMOS ROSA.




O POETA MORREU...VIVA O POETA!






ATRAVÉS DE "PÚBLICO CULTURA":


Morreu o poeta António Ramos Rosa
LUÍS MIGUEL QUEIRÓS 23/09/2013 - 16:15 (actualizado às 18:17)
Autor de uma das obras poéticas mais extensas e marcantes da poesia portuguesa contemporânea, António Ramos Rosa morreu esta segunda-feira aos 88 anos.


António Ramos Rosa na sua casa em 2004 DAVID CLIFFORD/ARQUIVO
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Os 80 anos de António Ramos Rosa
Morreu esta segunda-feira em Lisboa, aos 88 anos, o poeta e ensaísta António Ramos Rosa, um dos nomes cimeiros da literatura portuguesa contemporânea, autor de quase uma centena de títulos, de O Grito Claro (1958), a sua célebre obra de estreia, até Em Torno do Imponderável, um belo livro de poemas breves publicado em 2012. Exemplo de uma entrega radical à escrita, como talvez não haja outro na poesia portuguesa contemporânea, Ramos Rosa morreu por volta das 13h30 desta segunda-feira, em consequência de uma infecção respiratória.

Além da sua vastíssima obra poética, escreveu livros de ensaios que marcaram sucessivas gerações de leitores de poesia, como Poesia, Liberdade Livre (1962) ou A Poesia Moderna e a Interrogação do Real (1979), traduziu muitos poetas e prosadores estrangeiros, sobretudo de língua francesa, e organizou uma importante antologia de poetas portugueses contemporâneos (a quarta e última série das Líricas Portuguesas). Era ainda um dotado desenhador.

Prémio Pessoa em 1988, António Ramos Rosa, natural de Faro, recebeu ainda quase todos os mais relevantes prémios literários portugueses e vários prémios internacionais, quer como poeta, quer como tradutor.

Já muito fragilizado, o poeta, que estava hospitalizado desde quinta-feira, teve ainda forças para escrever esta manhã os nomes da sua mulher, a escritora Agripina Costa Marques, e da sua filha, Maria Filipe. E depois de Maria Filipe lhe ter sussurrado ao ouvido aquele que se tornou porventura o verso mais emblemático da sua obra – “Estou vivo e escrevo sol” –, o poeta, conta a filha, escreveu-o uma última vez, numa folha de papel.

Para Pedro Mexia, poeta e crítico, Ramos Rosa mostrou, nomeadamente através das revistas que dirigiu e da primeira fase da sua obra poética, “que era necessário superar a dicotomia fácil entre a poesia ‘social’ e a poesia ‘pura’, e que o trabalho sobre a linguagem não impedia o empenhamento cívico”. Como ensaísta, continua Mexia, Ramos Rosa esteve atento ao panorama europeu e mundial, de René Char a Roberto Juarroz, e aos autores portugueses das últimas décadas, incluindo os novos: “Descobri muitos poetas através de obras como Poesia, Liberdade Livre ou Incisões Oblíquas.

Autor "muitíssimo prolífico", "nunca se afastou do seu caminho pessoal, mesmo quando a abundância e a insistência numa 'poesia sobre a poesia' fizeram com que nos esquecêssemos da sua importância decisiva."

Com Isabel Salema

POEMA DE ÁLVARO DE CAMPOS (HETERÓNIMO DE FERNANDO PESSOA)-via Net













Poema de Álvaro de Campos (PESSOA): longo, lindo como são todos os poemas deste Heterónimo de Fernando Pessoa :

A Casa Branca Nau PretaEstou reclinado na poltrona, é tarde, o Verão apagou-se...
Nem sonho, nem cismo, um torpor alastra em meu cérebro...
Não existe manhã para o meu torpor nesta hora...
Ontem foi um mau sonho que alguém teve por mim...
Há uma interrupção lateral na minha consciência...
Continuam encostadas as portas da janela desta tarde
Apesar de as janelas estarem abertas de par em par...
Sigo sem atenção as minhas sensações sem nexo,
E a personalidade que tenho está entre o corpo e a alma...

Quem dera que houvesse
Um terceiro estado pra alma, se ela tiver só dois...
Um quarto estado pra alma, se são três os que ela tem...
A impossibilidade de tudo quanto eu nem chego a sonhar
Dói-me por detrás das costas da minha consciência de sentir...

As naus seguiram,
Seguiram viagem não sei em que dia escondido,
E a rota que devem seguir estava escrita nos ritmos,
Os ritmos perdidos das canções mortas do marinheiro de sonho...

Árvores paradas da quinta, vistas através da janela,
Árvores estranhas a mim a um ponto inconcebível à consciência de as estar vendo,
Árvores iguais todas a não serem mais que eu vê-las,
Não poder eu fazer qualquer coisa gênero haver árvores que deixasse de doer,
Não poder eu coexistir para o lado de lá com estar-vos vendo do lado de cá.
E poder levantar-me desta poltrona deixando os sonhos no chão...

Que sonhos? ... Eu não sei se sonhei ... Que naus partiram, para onde?
Tive essa impressão sem nexo porque no quadro fronteira
Naus partem — naus não, barcos, mas as naus estão em mim,
E é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta,
Porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta,
E nada que se pareça com isto devia ser o sentido da vida...

Quem pôs as formas das árvores dentro da existência das árvores?
Quem deu frondoso a arvoredos, e me deixou por verdecer?

Onde tenho o meu pensamento que me dói estar sem ele,
Sentir sem auxílio de poder para quando quiser, e o mar alto
E a última viagem, sempre para lá, das naus a subir...

Não há, substância de pensamento na matéria de alma com que penso ...
Há só janelas abertas de par em par encostadas por causa do calor que já não faz,
E o quintal cheio de luz sem luz agora ainda-agora, e eu.

Na vidraça aberta, fronteira ao ângulo com que o meu olhar a colhe
A casa branca distante onde mora... Fecho o olhar...
E os meus olhos fitos na casa branca sem a ver
São outros olhos vendo sem estar fitos nela a nau que se afasta.
E eu, parado, mole, adormecido,
Tenho o mar embalando-me e sofro...

Aos próprios palácios distantes a nau que penso não leva.
As escadas dando sobre o mar inatingível ela não alberga.
Aos jardins maravilhosos nas ilhas inexplícitas não deixa.
Tudo perde o sentido com que o abrigo em meu pórtico
E o mar entra por os meus olhos o pórtico cessando.

Caia a noite, não caia a noite, que importa a candeia
Por acender nas casas que não vejo na encosta e eu lá?

Úmida sombra nos sons do tanque noturna sem lua, as rãs rangem,
Coaxar tarde no vale, porque tudo é vale onde o som dói.

Milagre do aparecimento da Senhora das Angústias aos loucos,
Maravilha do enegrecimento do punhal tirado para os atos,
Os olhos fechados, a cabeça pendida contra a coluna certa,
E o mundo para além dos vitrais paisagem sem ruínas...

A casa branca nau preta...
Felicidade na Austrália...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa -in NET

O PENSAMENTO (via NET) de JOHN STEINBECK (1902-1968)

O pensamento de JOHN STEINBECK (1902-1968), autor de "A Leste do Paraíso, entre outros.


"A Mente Livre Está em Perigo

A nossa espécie é a única espécie criativa, e tem apenas um único instrumento criativo, a mente e espírito únicos de cada homem. Nunca nada foi criado por dois homens. Não existem boas colaborações, quer em arte, na música, na poesia, na matemática, na filosofia. De cada vez que o milagre da criação acontece, um grupo de pessoas pode construir com base nela e aumentá-la, mas o grupo em si nunca inventa nada. A preciosidade reside na mente solitária de cada homem.

E agora existem forças que enaltecem o conceito de grupo e que declararam uma guerra de exterminação a essa preciosidade, a mente do homem. Através das mais variadas formas de pressão, repressão, culto, e outros métodos violentos de condicionamento, a mente livre tem sido perseguida, roubada, drogada, exterminada. E este é um rumo de suicídio colectivo que a nossa espécie parece ter tomado.

E é nisto que eu acredito: que a mente livre e criativa do homem individual é a coisa mais valiosa no mundo. E é por isto que eu estou disposto a lutar: pela liberdade da mente tomar qualquer direcção que queira, sem direcção. E é contra isto que eu vou lutar com todas as minhas forças: qualquer religião, qualquer governo que limite ou destrua o indivíduo. É isto que eu sou e é esta a minha causa. Posso até compreender que um sistema baseado num padrão tenha que destruir a mente livre, pois esta é a única coisa que pode inspeccionar e destruir um sistema deste tipo. Concerteza que compreendo, mas lutarei contra isso por forma a preservar a única coisa que nos separa das restantes espécies. Pois se a mente livre for morta, estaremos perdidos.

John Steinbeck, in 'A Leste do Paraíso'-in NET

sábado, 21 de setembro de 2013

A RAI TRE , REDE DE TELEVISÃO ITALIANA, RETRATA PORTUGAL COMO UM PAÍS DE MISÉRIA, ONDE SE PASSA FOME

Televisão italiana retrata um Portugal em crise e com fome
20 de setembro de 2013 por as minhas leituras deixe um comentário
Presa Diretta
Há um ano e meio, a televisão italiana Rai3 esteve em Portugal para avaliar o impacto da política de austeridade exigida pela troika e aplicada pelo recém-eleito Governo de coligação PSD/CDS, agora regressou para perceber as mudanças.

Coincidência ou não, a reportagem foi realizada no mesmo dia em que o Banco Alimentar realizou uma campanha de recolha de alimentos para ajudar os mais carenciados, que são muitos como fazem questão de sublinhar alguns voluntários ouvidos pela repórter da Rai3. Mas esta não foi a única questão a ser abordada.

Surpreendida com as filas nos centros de emprego e os anúncios de trabalho que oferecem salários entre os 400 e 500 euros, a jornalista italiana explica que a emigração, nomeadamente para as ex-colónias portuguesas, tem sido “o destino de muitos portugueses, principalmente de muitos licenciados”. É também entrevistado um casal na casa dos 50 anos que conta como vive com apenas 25 euros por semana. A juntar a isto são transmitidas imagens de muitos portugueses a protestar na rua contra a austeridade.

Além do povo, revoltado e com fome, a Rai3 conversou com a presidente do Banco Alimentar, Isabel Jonet, que revela que “milhares de portugueses não comem, pelo menos, um dia por semana, porque não têm dinheiro” e que “muitas crianças só comem uma vez por dia”. A este testemunho, o fundador da AMI, Fernando Nobre, junta outra preocupação: “Se continuarmos assim, em poucos meses, não vamos ter capacidade de resposta”.

Sobre a economia do País, o antigo ministro Bagão Félix afirma que as privatizações que o Governo tem levado a cabo “não resolvem os problemas e ainda enfraquecem a soberania de Portugal”. Enquanto, o antigo Presidente da República, Mário Soares, sublinha “a importância da Europa acabar com esta fixação pela austeridade”, sob pena de “acabar no abismo”.

Neste programa ‘Presa Diretta’ da Rai3 são ainda apresentadas reportagens sobre a situação que se vive actualmente noutros países, como Alemanha, França e algumas regiões italianas.



Via Notícias ao Minuto

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Televisão italiana retrata um Portugal em crise e com fome
www.leituras.eu
Uma televisão italiana emitiu, esta semana, uma reportagem sobre Portugal, com testemunhos de algumas personalidades como Bagão Félix, Fernando Nobre ou Mário Soares, na qual fala sobre um país empobrecido, entristecido e que, com frequência, sai à rua em protesto contra a austeridade.

O Pensamento de RAMALHO ORTIGÃO (1836-1915):in www.iscsp.utl.pt


























José Duarte Ramalho Ortigão. Jornalista no Porto. Participa na questão Coimbrã em 1868. Fixa-se em Lisboa a partir de 1868. Em Maio de 1871 começa a publicar, com Eça de Queirós, "As Farpas". Bibliotecário da Ajuda de 1895 até 1910. (Ver Rodrigues Cavalheiro, A Evolução Espiritual de Ramalho, Lisboa, 1962). Em 1870 critica o governo de Ávila. Ramalho Ortigão questionava Porque motivo são reformistas de oposição hoje os que eram reformistas governamentais ontem?, acrescentando que os reformistas ignoram qual é a divisa que os separa pela mesma razão que nunca souberam qual era o mote que os reunia. Um partido sem conhecimentos, sem princípios, sem bases de trabalho, sem plano de administração, sem consciência de progresso e sem carta, nem guia, nem lógica de acção, não tendo razão para existir, também não tem razão para deixar de ser. Reformista é uma palavra farfalhuda, mas oca, nome convencional sem objecto em política. Ramalho Ortigão questionava Porque motivo são reformistas de oposição hoje os que eram reformistas governamentais ontem?, acrescentando que os reformistas ignoram qual é a divisa que os separa pela mesma razão que nunca souberam qual era o mote que os reunia. Um partido sem conhecimentos, sem princípios, sem bases de trabalho, sem plano de administração, sem consciência de progresso e sem carta, nem guia, nem lógica de acção, não tendo razão para existir, também não tem razão para deixar de ser. Reformista é uma palavra farfalhuda, mas oca, nome convencional sem objecto em política. Observa o seguinte, em 1874,: como os partidos militantes que aspiram ao poder ou que o exercem , são três em cada legislatura, os votos da câmara acham-se por tal modo fraccionados, que nenhum dos referidos partidos pode ter jamais a maioria absoluta. Como, por outro lado, esses três partidos abraçam todos os mesmos princípios e as mesmas ideias, nasce naturalmente em cada sessão legislativa um quarto partido que desempata a questão pessoal de se saber qual dos três partidos em luta deve trazer atrás de si os srs. Correios de secretaria com as respectivas pastas. Um cavalheiro, tendo à sua disposição quinze votes conformes, decide da direcção que deve tomar em cada manhão trote dos ginetes dos srs. Correios. Os vinte votos ecléticos, flutuantes, de que esse cavalheiro dispõe, postos já para a direita, já para a esquerda da câmara, determinam a sorte dos ministérios e das oposições e decidem em derradeira instância dos destinos públicos. Por outras palavras, a ideia governativa passa sucessivamente das mãos do sr. Fontes para as do sr. marquês de Ávila, para as do sr. Bispo de Viseu, para as do sr. Anselmo Braamcamp Mais escreve: o monarca lavrou então o decerto mandando o seu antigo ministério bochechar e encarregou o senhor marquês de Ávila e Bolama de reunir com os seus amigos o número de dentes necessários para formar uma gerência duradoura e firme. O mesmo autor observa em 1877 que em Portugal em vez da lógica conservadores/ revolucionário havia uma maioria parlamentar e uma oposição composta de vários grupos dissidentes. Estes grupos são fragmentos dispersos do único partido existente – o partido conservador – fragmentos cuja gravitação constitui o organismo do poder legislativo. Estes partidos, todos conservadores, não tendo princípios próprios nem ideias fundamentais que os distingam uns dos outros, sendo absolutamente indiferente para a ordem e o progresso que governe um deles ou que governe qualquer dos outros, conchavaram-se todos e resolveram de comum acordo revesarem-se no poder e governarem alternadamente segundo o lado para que as despesas da retórica nos debates ou a força da corrupção na urna faça pesar a balança da régia escolha. Tal é o espectáculo recreativo que há vinte anos nos está dando a representação nacional. Porque em todas as revoluções vitoriosas há uma parte que vinga para a posteridade e uma parte que se desconta nas restaurações subsequentes. O que vinga é o fruto da razão ou a forçadas coisas. O que se desconta num retrocesso proporcional é a obra da paixão, do sacrifício, do entusiasmo partidário. Em Julho de 1911 critica o regime: pretender equiparar o espírito revolucionário da Rotunda com o espírito revolucionário da Revolução Francesa é incorrer perante a sociologia e perante a história em tão imbecil equívoco como seria em zoologia o de confundir uma lombriga com uma cobra cascavel. No dia 5 de Outubro, em Portugal, não havia opressão e não havia fome… Os famosos princípio da Revolução Francesa, leit-motiv de toda a cantata revolucionária de Outubro último, são, precisamente, os que vigoram em toda a política portuguesa, desde o advento da revolução liberal de 34 até aos nossos dias. Em 7 de Setembro de 1914, numa célebre carta de um velho a um novo, dirigida a João Amaral, apoia o Integralismo Lusitano.




Bibliografia:



·As Farpas

(1871 - 1884) (em colaboração com Eça de Queirós, 1871 - 1872).

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Do poeta português EUGÉNIO DE ANDRADE (1923-2005), "ELEGIA DE SETEMBRO"

Pequena elegia de Setembro














"Não sei como vieste,

mas deve haver um caminho

para regressar da morte.

Estás sentada no jardim,

as mãos no regaço cheias de doçura,

os olhos pousados nas últimas rosas

dos grandes e calmos dias de setembro.



Que música escutas tão atentamente

que não dás por mim?

Que bosque, ou rio, ou mar?

Ou é dentro de ti

que tudo canta ainda?



Queria falar contigo,

dizer-te apenas que estou aqui,

mas tenho medo,

medo que toda a música cesse

e tu não possas mais olhar as rosas.

Medo de quebrar o fio

com que teces os dias sem memória.



Com que palavras

ou beijos ou lágrimas

se acordam os mortos sem os ferir,

sem os trazer a esta espuma negra

onde corpos e corpos se repetem,

parcimoniosamente, no meio de sombras?



Deixa-te estar assim,

ó cheia de doçura,

sentada, olhando as rosas,

e tão alheia

que nem dás por mim."

O pensamento profético do escritor Eça de Queiroz (1845-1900)- pesquisa NET















O Pensamento de Eça de Queiroz (1845-1900)

-pesquisa Net -


O Que Verdadeiramente Mata Portugal
"O que verdadeiramente nos mata, o que torna esta conjuntura inquietadora, cheia de angústia, estrelada de luzes negras, quase lutuosa, é a desconfiança. O povo, simples e bom, não confia nos homens que hoje tão espectaculosamente estão meneando a púrpura de ministros; os ministros não confiam no parlamento, apesar de o trazerem amaciado, acalentado com todas as doces cantigas de empregos, rendosas conezias, pingues sinecuras; os eleitores não confiam nos seus mandatários, porque lhes bradam em vão: «Sede honrados», e vêem-nos apesar disso adormecidos no seio ministerial; os homens da oposição não confiam uns nos outros e vão para o ataque, deitando uns aos outros, combatentes amigos, um turvo olhar de ameaça. Esta desconfiança perpétua leva à confusão e à indiferença. O estado de expectativa e de demora cansa os espíritos. Não se pressentem soluções nem resultados definitivos: grandes torneios de palavras, discussões aparatosas e sonoras; o país, vendo os mesmos homens pisarem o solo político, os mesmos ameaços de fisco, a mesma gradativa decadência. A política, sem actos, sem factos, sem resultados, é estéril e adormecedora.

Quando numa crise se protraem as discussões, as análises reflectidas, as lentas cogitações, o povo não tem garantias de melhoramento nem o país esperanças de salvação. Nós não somos impacientes. Sabemos que o nosso estado financeiro não se resolve em bem da pátria no espaço de quarenta horas. Sabemos que um deficit arreigado, inoculado, que é um vício nacional, que foi criado em muitos anos, só em muitos anos será destruído.

O que nos magoa é ver que só há energia e actividade para aqueles actos que nos vão empobrecer e aniquilar; que só há repouso, moleza, sono beatífico, para aquelas medidas fecundas que podiam vir adoçar a aspereza do caminho.
Trata-se de votar impostos? Todo o mundo se agita, os governos preparam relatórios longos, eruditos e de aprimorada forma; os seus áulicos afiam a lâmina reluzente da sua argumentação para cortar os obstáculos eriçados: as maiorias dispõem-se em concílios para jurar a uniformidade servil do voto. Trata-se dum projecto de reforma económica, duma despesa a eliminar, dum bom melhoramento a consolidar? Começam as discussões, crescendo em sonoridade e em lentidão, começam as argumentações arrastadas, frouxas, que se estendem por meses, que se prendem a todo o incidente e a toda a sorte de explicação frívola, e duram assim uma eternidade ministerial, imensas e diáfanas.

O país, que tem visto mil vezes a repetição desta dolorosa comédia, está cansado: o poder anda num certo grupo de homens privilegiados, que investiram aquele sacerdócio e que a ninguém mais cedem as insígnias e o segredo dos oráculos. Repetimos as palavras que há pouco Ricasoli dizia no parlamento italiano: «A pátria está fatigada de discussões estéreis, da fraqueza dos governos, da perpétua mudança de pessoas e de programas novos.»


Eça de Queirós, in 'Distrito de Évora'