quinta-feira, 30 de maio de 2013

PARTE I DE UM TEXTO SOBRE EÇA DE QUEIRÓS




“UM POUCO DE TUDO…”
O Realismo na Literatura Portuguesa: Eça de Queirós.
“Os Maias”: concretização das ideias Realistas/Naturalistas através de uma grande (em todos os aspectos!) obra literária…A sociedade portuguesa do séc.XIX e algumas coisas mais…
“…nada regenera uma nação como uma medonha tareia…Oh! Deus de Ourique, manda-nos o castelhano!.”Palavras de João da Ega no episódio do Hotel Central, um dos marcos da “Crónica de costumes da obra “Os Maias”, de EÇA de Queirós.

É João da Ega uma das personagens fulcrais deste romance, da fase Realista/Naturalista do grande escritor. Ega é o “outro” Eça… o seu “alter-ego”…o outro EU do escritor; e é aí, sentado na cadeira do criticismo e da ironia truculenta, por detrás de Eça de Queirós, que ele próprio vai “zurzindo”, sem dó nem piedade, na vida da sociedade lisboeta que é, por abrangência, a sociedade portuguesa do séc. XIX.A par de Ega, comungando da mesma veia crítica, está outra personagem central Carlos da Maia, que melhor faria se estivesse “calado”…Mas, avancemos, que temos “caminho para andar”…
Nasceu Eça de Queirós em 1845, na Póvoa do Varzim e faleceu em 1900.
Licenciou-se em Direito, em Coimbra, onde viveu alguns anos sob o fogo cruzado das novas ideias e formas de pensamento, que se espalhavam pela Europa a uma velocidade alucinante, através dos caminhos-de-ferro. Os intelectuais do meio coimbrão, a chamada “GERAÇÂO de 70” não ficaram imunes aos ventos revolucionários dimanados da Revolução Francesa e, também eles, “viam” e liam, com sôfrega avidez, essas obras literárias e filosóficas que falavam dum mundo novo, um mundo de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, incompatível com os lirismo e idealismo românticos, que ainda assolavam a sociedade portuguesa. Entre esses jovens, de altíssimo gabarito intelectual, estavam nomes como Eça de Queirós, Antero de Quental, Oliveira Martins, A. Soromenho, Batalha Reis,…-(a tal “Geração de 70”) que, a certa altura, se envolveu, afincadamente, na célebre “Questão Coimbrã”,a qual surgiu  da necessidade de se implantar  a nova doutrina Realista-naturalista, em Portugal. Antes de continuar esta temática, tenho que vos dizer, leitores, que Antero de Quental não foi um realista; ele foi, verdadeiramente, um romântico, que ajudou os seus amigos realistas a implantar essa nova corrente literária, entre nós. E fê-lo participando nas célebres “Conferências do Casino”, onde discorreu sobre a “Causa da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos três séculos”.
A este ponto, não fica mal dizer quais os filósofos e/ou pensadores europeus, que tanta influência exerceram na juventude universitária portuguesa daquela época. As modificações sociais provocadas, em parte/e também, pela Revolução Industrial inglesa, fizeram evolver e revolver as sociedades, em todos os aspectos. Marx e Engels editam o” Manifesto comunista”, em1848; Proudhon lidera ideais de Socialismo Utópico; Michelet “sai a lume”com a sua “História da Revolução; pela mesma altura, aparece Comte com a doutrina positivista e Hegel “endeusa” a Ideia, criando o Idealismo. Mas há mais…
Em 1859, Charles Darwin apresenta ao mundo a teoria da evolução das espécies, o “Evolucionismo”, a que o romântico Júlio Diniz alude, no romance “As pupilas do senhor Reitor”.Os pensadores, teóricos e outros intelectuais, começam a mostrar sempre mais ousadia no aprofundamento do estudo da personalidade de certos tipos sociais, se possível, cada vez mais degradantes ou oriundos de meios desfavorecidos: Victor Hugo, Baudelaire, Flaubert, Taine, Zola…Alfred Nobel descobre a dinamite; Marx escreve “ O capital”; Leon Tolstoy lança a temática do adultério feminino, em “Anna Karenina”; em França, Zola vai ainda mais longe e publica “La faute de l’abbé Mouret” (O crime do padre/abade Mouret). Caramba! Convenhamos que era demais para uma Universidade em ebulição como era a de Coimbra, por volta de 1870,com jovens estudantes que não se conformavam com o atraso atávico da sociedade portuguesa. Vai daí, bem à moda de Gil Vicente (sécs. XV/XVI), usando a máxima “ridendo castigat mores”, que significa, mais ao menos, “a rir castigam-se os costumes”, por entre duelos e bofetadas o Realismo lá começou a entrar em Portugal, mais pela mão de Eça de Queirós, com as obras da sua segunda fase literária- a fase realista/naturalista que pelo mérito das lutas entre românticos e pró-realistas.
Convém, a este ponto, dizer, o mais sucintamente possível, o que é essa doutrina…REALISMO.    
Numa das conferências do casino em que participou, subordinada, precisamente, ao título:”A literatura nova…o realismo como nova expressão de arte”, é o próprio Eça de Queirós que o explica:”A arte literária deve ter três qualidades essenciais: ser BELA, JUSTA e VERDADEIRA” (…) Segundo o escritor, deveria a literatura retratar, fielmente, os vícios e defeitos da sociedade, mesmo os mais nojentos e escabrosos! para, deste modo, se contribuir para a “sua limpeza” e caminhar, a passos mais largos, para a instalação duma sociedade aberta às modernas ideias da ciência e do progresso.
No entanto, Eça de Queirós começou a sua actividade literária como Romântico…Colaborou com Ramalho Ortigão n’O Mistério da Estrada de Sintra e escreveu “Prosas Bárbaras”. Dividia o seu tempo entre a advocacia, o jornalismo, a vida diplomática, as viagens pelo mundo…Aos poucos, apercebia-se do atraso do seu país no contexto do que lhe era dado apreciar, lá fora… e, quase sem dar por isso, foi dando o “pulo” no sentido do realismo-naturalismo. Esqueceu as fantasias românticas e enveredou pelo caminho da crítica sarcástica, irónica e tremendamente caricatural da sociedade portuguesa, deitando abaixo muros de defeitos próprios do nosso povo como a hipocrisia, a inveja, a mania das grandezas reveladora da falta de carácter, o farisaísmo…em suma, o atraso! E fê-lo na sua segunda grande fase literária, a fase do” Inquérito à sociedade portuguesa,” corporizada na sociedade lisboeta dos últimos trinta anos do séc.XIX, perfeitamente “desenhada”, a traços de mestre, no romance “OS MAIAS”.
Outras obras significativas/essenciais para se compreender o ponto de vista realista de Eça foram/são:

“O Primo Basílio”, “ O Mandarim”, “O crime do P.e Amaro”, A Relíquia”, “A tragédia da rua das flores”, “Os Maias.
Quinta-feira, 30 de Maio: Orçamento rectificativo marcado por alertas de mais derrapagens no défice
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terça-feira, 28 de maio de 2013

RESUMIDA BIOGRAFIA MINHA PARA A EDITORA "MODOCROMIA"








Modocromia
Maria Elisa Rodrigues Ribeiro

(Marilisa Ribeiro) é uma autora “bairradina”: nasceu em Curia, concelho de ANADIA, distrito de Aveiro e fez a sua escolaridade básica na sua terra; o ensino secundário foi feito no Colégio de Nossa Senhora da Assunção, em Anadia, e ainda nos Colégios de São Tomás de Aquino e Pedro Nunes, em Coimbra. Alunas sem problemas de percurso, todas estas mudanças se deveram ao facto de, antigamente, não se fazer todo o percurso escolar na mesma escola; eram poucas as escolas, poucos os colégios e poucos os alunos que continuavam a estudar; era, por isso, absolutamente necessário, andar “de cá para lá”, para dar continuidade aos estudos.

Frequentou a Escola do Magistério Primário de Coimbra (hoje, Escola Superior de Educação) onde tirou o seu primeiro Curso, como Professora do Ensino Primário.
Mais tarde, já casada e com dois filhos, foi aceite na Faculdade de Letras, da Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português-Inglês.

Efetivou-se na Escola Secundária de Mealhada, onde o exercício docente a “prendeu “ até ao momento em que completou quase trinta e sete anos de trabalho, que abandonou, há poucos anos, por cansaço, face à falta de dignificação e reconhecimento da especificidade do trabalho docente. Além do mais, sentia necessidade de tempo para outros elevados projetos, como a Poesia, que a não abandonava, apesar do muito trabalho na Escola.

A partir de 2009, passou a dedicar-se a essa paixão, em pleno, sem ter parado mais. A alma expande-se pelos fonemas que geram lexemas que redundam em frases-versos com uma força inaudita, quase compulsiva, sendo difícil dizer que não a um poema!

Como Professora do Ensino Secundário, exerceu os mais diversos cargos, inerentes à docência: professora de Português e Literaturas, Diretora de turmas, Diretora de Biblioteca, Delegada de Grupo e Representante de Grupo, também, com assento permanente nos Conselhos Pedagógicos da Escola.

Como personalidade de respeito no meio em que se insere (MEALHADA), colabora, assiduamente e sem outra gratificação que não o respeito dos leitores, com o “Jornal da Mealhada”, agora, online também (www.jornaldamealhada.com); foi Diretora do jornal “Mealhada Moderna”.

Mulher de causas, foi edil na Câmara Municipal da Mealhada, por um movimento independente conotado com os ideais socialistas; tendo em conta que, como afirma PONGE, “O homem é o futuro do homem”, entende que, como cidadã, tudo deve fazer para contribuir para o bem geral.

Num certo momento da vida, o insondável destino levou-a, nos finais dos anos 80 e princípios dos anos 90, a viver em Itália durante três anos, quase quatro, que lhe permitiram viajar por vários continentes, Europa, Ásia e África, onde sentiu que se enriqueceu pessoalmente, ao contactar e conhecer, mais profundamente, culturas e filosofias de vida absolutamente arrasadoras de tão ricas, belas e humanas.

Hoje, a escrita de ensaios, textos de interesse literário, poesia ocupa muito do seu tempo que ainda dá para colaborar com Instituições de Solidariedade Social, através das quais expande, naturalmente, o seu modo de estar no mundo Telúrico-filosófico, numa esperança contínua de ser parte de um mundo melhor, para bem do próximo. Continua a dedicar-se ao Ensino, de modos diferentes, pois, como afirma, “há vírus que nos não largam”.

Tem página no Facebbok (http://www.facebook.com/profile.php?id=100000197344912) e mantém, desde 2009, um blogue (http://lusibero.blogspot.com/), onde escreve poesia, análise política e social e ensaios literários e filosóficos.
A GRANDE VERDADE QUE A EUROPA E OS DESGOVERNANTES PORTUGUESES NÃO QUEREM OUVIR! É MAIS FÁCIL ROUBAR OS PENSIONISTAS E DEIXAR TUDO NO DESEMPREGO!
Portugal vive um "pesadelo" económico-financeiro, diz antigo Nobel da Economia.

Mais em: http://bit.ly/ZaiVsg
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ATRAVÉS DE "AMAZÓNIA INFORMA"

A ETERNA LUTA DOS MAIS FORTES CONTRA OS MAIS FRACOS E DESPROTEGIDOS!
Akati Mej

Bom Dia!

Os indígenas que reocuparam Belo Monte não abrem mão de negociar com o próprio governo. A Força Nacional não entra no canteiro principal e Dilma subestima os guerreiros que estão com mulheres e crianças defendendo os s...Ver mais
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POEMA DE AMOR DE MIA COUTO- PRÉMIO "CAMÕES"-2013

Poema
Mia CoutoMia CoutoMoçambiquen. 1955Escritor
O Amor, Meu AmorNosso amor é impuro 
como impura é a luz e a água 
e tudo quanto nasce 
e vive além do tempo. 

Minhas pernas são água, 
as tuas são luz 
e dão a volta ao universo 
quando se enlaçam 
até se tornarem deserto e escuro. 
E eu sofro de te abraçar 
depois de te abraçar para não sofrer. 

E toco-te 
para deixares de ter corpo 
e o meu corpo nasce 
quando se extingue no teu. 

E respiro em ti 
para me sufocar 
e espreito em tua claridade 
para me cegar, 
meu Sol vertido em Lua, 
minha noite alvorecida. 

Tu me bebes 
e eu me converto na tua sede. 
Meus lábios mordem, 
meus dentes beijam, 
minha pele te veste 
e ficas ainda mais despida. 

Pudesse eu ser tu 
E em tua saudade ser a minha própria espera. 

Mas eu deito-me em teu leito 
Quando apenas queria dormir em ti. 

E sonho-te 
Quando ansiava ser um sonho teu. 

E levito, voo de semente, 
para em mim mesmo te plantar 
menos que flor: simples perfume, 
lembrança de pétala sem chão onde tombar. 

Teus olhos inundando os meus 
e a minha vida, já sem leito, 
vai galgando margens 
até tudo ser mar. 
Esse mar que só há depois do mar. 

Mia Couto, in "idades cidades divindades"-IN O CITADOR-NET
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Rogério Manuel Madeira Raimundo https://www.youtube.com/watch?v=uHl-K4F-CZM&feature=youtube_gdata_player

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Poema meu.

POEMA:







DIÁLOGOS DE SOLIDÃO



Urgente se torna ,
ao fim do dia,
despir as vestes e pendurá-las num armário
onde se fecham odores a devassar a intimidade que envergámos,
na incomensurável verdade da realidade-corpo-vivo-dos-dias-no-tempo.
A noite fecha-se em torno de todos os ritos de passagem e sentimo-nos
como comboio que vai partir, rumo a interrogações seculares.

Iremos a promontórios românticos
desenhados perto do sufoco da abóbada celeste,
onde a solidão encontrará todas as outras solidões
dos seres e dos aromas
que vão entrar em diálogo
de circunstância,
no silencio do firmamento iluminado pelas mãos dos deuses dos mundos
criados, não entendidos…

E são belas, as Horas, só por existirem comigo dentro delas!
São belos os dias que nos respiram num sopro divino que galga a força do tempo
no -vento-de-existir,

mesmo quando inalamos dúvidas-sem-resposta que não a do sol,
das aves e da luz do dia em que envergamos vestes num equilíbrio
de proporções-tessituras-de-harmonia,

onde versões cristalinas do Viver avançam em sintonia com a música-do-Existir.
Inquietantes visões nocturnas do despir o corpo no vestir a alma
em equilíbrio-do-desequilíbrio-das-emoções…

São tantas as palavras penduradas no ânimo irrequieto dos-cabides-da-vida!

Adio o sono…
Centro-me no silêncio azul de um mar a brilhar rasgos de luz estrelada,
numa poesia de espuma libertadora
às voltas numa onda-de-madrugada…

Maria Elisa R. Ribeiro

(Marilisa Ribeiro)-CQ 13/013-(VDS)

sexta-feira, 24 de maio de 2013



POEMA: BOJADOR




                                                          BOJADOR




Tem tantas vozes, o mar…
Ouvem-se na memória encrespada das ondas
a rodopiar nos lábios de espuma-a-acordar…

Tem música, a voz do mar…
…música que entra pelas frestas mais estreitas da noite
e  sobe pela melodia, aos clarões de luar…
e  que o impele  a pedir às águas o que se pede ao amor,
por meio do sonho e da esperança de SER…


…e uma espécie de reza saudosa levanta os olhos para o céu inclemente
que seca os lábios dos oceanos,
onde vive a verdade de tanta ousada gente…

Quão Longe estavas, ó Mar em que Fomos!
Quão Perto te vivemos, ao-sermos-Povo!

Perdidos os pinheirais de Dinis, o trovador,
aos pés dos areais de Cochim e Cananor,
levaste-nos, mar,  por desertos de suores e lágrimas
a matagais odorosos
 forçados a ultrapassar  cabos tormentosos  de águas-em-dor.

Espelhou-se a Lua nas ondas espumosas de marés duvidosas
a  desfalecerem em promontórios de contornos indefinidos…
Impetuosos raios de delirantes rotas
fizeram supor danças de sereias, envoltas em roxas algas.

(Rendilhados oníricos enredados em cantos de perdição,
não são canção…são triste sina!)

Estátuas errantes do itinerário do Sonho,
estes pinheiros navegantes de quimeras
perderam-se noutras fortunas ,
que o mar desbloqueou
ao abrir a frouxa porta de uma utopia felina….
                                                                               …para que fosses nosso, ó mar…
                                                                               …para que a quimera continuasse –a-viver…
                                                                               …para que a Poesia das marés fossa toada,
                                                                                  cadência ritmada de luta e cor ,
                                                                                 ao passarmos o BOJADOR!

Venceu-se o frio Vento que assombrava a Terra do Mar!
…e o nauta das guitarras de vinho e dor
contornou tantos mostrengos, que venceu UM ADAMASTOR!

A calma face da Terra ergueu-se…quebrou o Cado da dor…
…venceu a hostil Saudade…
perpetuou-se na história de uma estranha identidade…


Maria Elisa R. Ribeiro
Marilisa Ribeiro-OI-013

  

Da REVISTA "SEMEAR 6": EÇA de QUEIRÓS





Revista SEMEAR
 6
 
  
EÇA DE QUEIRÓS, ENTRE A OBSERVAÇÃO, A EXPERIÊNCIA E A IMAGINAÇÃO:
REPERTÓRIO REALISTA EM TRÂNSITO

 
Benjamin Abdala Junior
USP

Na atmosfera de desalento e de falta de perspectivas para o pensamento crítico que tem marcado este final de milênio, pode se tornar imediata uma relação analógica com o final do século XIX. Viemos a nos debater nesses dois momentos - eis a semelhança - entre duas frustrações: aquela dos finais do século passado, motivada pelas promessas não concretizadas de uma espécie de religião das ciências que foi o evolucionismo positivista; neste final de século e milênio, a frustração pode ser creditada - por equivalência de gestos - à derrocada dos ideais libertários da modernidade. Há, entretanto, uma diferença nessas situações: há cem anos os horizontes, em termos de pensamento hegemônico, não se levantavam para além das balizas liberais do capitalismo industrial, que começava a mudar, se quisermos nos valer ainda de um modelo analógico, do mecanicismo das máquinas a vapor para uma energia mais refinada e menos visível, que afinal veio a ser decisiva no encurtamento das distâncias - a eletricidade. Agora, estamos em meio a um turbilhão onde se reformula a própria maneira de ser dessa produção industrial, que passa ao capitalismo informacional. O encurtamento do mundo é vertiginoso e ainda mais radical por estender conexões em níveis múltiplos, que se entretecem para se colocar como presença hegemônica numa escala mundial.

São essas questões de distância e de percursos que serão abordadas nesta exposição, tendo em vista discutir o realismo literário, a partir do distanciamento de nossa situação discursiva. Analogamente também nesses dois momentos finisseculares são problematizadas proposições realistas e, mais do que isso, modos de se pensar e representar a realidade que se debatem entre a particularidade do recorte temático e a aspiração de totalidade do discurso realista. Este estudo está associado a um ensaio de nossa autoria sobre o percurso desse realismo em Portugal e no Brasil, que acabou de ser publicado,[1] quando discutimos as matizações dessa tendência artística a partir de Eça de Queirós, procurando mostrar alguns de seus impactos no Brasil, tal como se deram em Graciliano Ramos e de como este escritor brasileiro vai marcar o romance do ficcionista português Carlos de Oliveira. Graciliano vai permitir assim, indiretamente, uma releitura de ênfase social de Eça via Brasil, por parte dos escritores de Portugal, a par da continuidade, é evidente, de uma tradição de leitura interna e direta, própria do sistema literário português.[2]

Voltamos a discutir assim o problema da distância crítica em Eça de Queirós, retomando a seguinte observação que indicamos no capítulo biográfico do livro Eça de Queirós, publicado pela Editora Abril:
A procura de um sentido para justificar a construção da obra de Eça de Queirós leva-nos a um fator biográfico altamente significativo: o distanciamento dos fatos que mais o sensibilizaram.
Desde muito cedo, o escritor teve consciência do afastamento: menino ainda, não conviveu com os pais; passou a juventude num colégio interno; e, mais tarde, a vida diplomática o levaria para fora de Portugal [...] os momentos de aproximação de sua terra são de curta duração, fixando-se na memória do escritor como lembranças, posteriormente registradas em sua obra.[3]
Após a biografia do escritor, desenvolvida a partir dessas observações, inserimos nesse livro uma coletânea de textos selecionados de Eça de Queirós, aberta com o artigo "Idealismo e Realismo" - um texto escrito pelo autor para ser o prefácio à segunda edição de O Crime do Padre Amaro (1880), ou, melhor dizendo, a terceira versão desse romance se for considerada a edição de 1875, publicada em fascículos na Revista Ocidental. Esse ensaio já se nos afigurava básico para a discussão das tensões e mesmo das ambigüidades do pensamento crítico de Eça de Queirós. Como se sabe, o escritor só aproveitou como "Nota à segunda edição" um trecho desse texto, limitando-se à questão do pretenso plágio, levantada por Machado de Assis em 1878.[4] A parte que sobrou - de maior extensão - refere-se à defesa do método realista, igualmente atacado por Machado - foi publicada postumamente por seu filho, quase trinta anos após sua morte, nas Cartas Inéditas de Fradique Mendes e Mais Páginas Esquecidas.[5] Para Carlos Reis, na introdução à edição crítica de O Crime do Padre Amaro,[6] publicada neste ano, cem anos após a morte do escritor, Eça acabou por levar em consideração as críticas recebidas de Machado de Assis, na grande revisão que procedeu na segunda edição, em livro, desse romance.

quinta-feira, 23 de maio de 2013









Sorriso Audível das FolhasSorriso audível das folhas 
Não és mais que a brisa ali 
Se eu te olho e tu me olhas, 
Quem primeiro é que sorri? 
O primeiro a sorrir ri. 

Ri e olha de repente 
Para fins de não olhar 
Para onde nas folhas sente 
O som do vento a passar 
Tudo é vento e disfarçar. 

Mas o olhar, de estar olhando 
Onde não olha, voltou 
E estamos os dois falando 
O que se não conversou 
Isto acaba ou começou? 

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

POEMA: ADÁGIO DAS ÁGUAS...











POEMA: ADÁGIO NAS ÁGUAS…



De doiradas areias revestido
um frio amanhecer acorda, no areal estendido.
Inquieto, o mar não pára de baloiçar
revolteando as ondas, num contínuo subir e descer.
Águas azuis, cobertas de escamas prateadas batem, sensuais,
nas areias adormecidas
onde restos de tempestade repousam,
numa tortura de mil emoções perdidas.
Uma música estranha e mágica
provém do mistério oceânico…


Junto ao nevoeiro da maresia, oiço essa música gloriosa
a passear por entre bocados do mar , pedrinhas de areia,
nácares da maré cheia , búzios vazios fechados ao segredo…

Vozes dos tempos do mar…adágios de ondas a amar…

Tudo é indiferente ao sangue das nossas veias!
Amo a vida, a cada momento de cada espaço,
desde que sinta a meu lado, a força do teu a braço.

O amor realiza a vida na vida!

Uma mística rede de música protege-nos do frio do mar
e das ondas furibundas.
No beijo que damos sorvemos goles de âmbar…
…e poluímos a areia, amando-nos!
Nas águas, há medusas, confusas com a nossa música,
deitada na espuma acastanhada do areal.

Aproxima-se a noite…entristecemos, calados, a hora da despedida…

O marulhar do mundo, no nosso hino, emudece e
deixamos de ouvir a música dos momentos de sonho.

Mas o nosso amoral sentido deseja a Vida!

Instinto de viver feito consciência deita-nos na areia
a ver o céu de loucas estrelas borbulhantes
acariciando os olhos de todos os amantes.

Ao longe, há naufrágios de contínuas desesperanças
onde soam marchas fúnebres de forçosa temperança.

No brilho do desejo, de olhos cerrados,
ouve-se o apelo dum luar de paixão
numa alvorada de silêncios argutos.

Uma conjugação silenciosa do cosmos deixa-nos ouvir
o adágio das águas, em danças de amor.
…e no meio dos pedaços de rocha, plantados no oceano,
há cerejeiras a florir num jardim adormecido,
prontas a descerrar pálpebras, ao alvorecer…



Maria Elisa R. Ribeiro

Marilisa  Ribeiro


R-C13N-3-(MQC)-JAN/012
 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O PENSAMENTO DE MARIA LÚCIA LEPECKI







O Pensamento de Maria Lucia Lepecki (1940-2011)- in NET



Acordo Ortográfico: Catedrática brasileira Maria Lúcia Lepecki considera acordo desperdício de recursos

"Eu sempre achei que o acordo ortográfico não é preciso: um brasileiro lê perfeitamente a ortografia portuguesa e um português lê perfeitamente a ortografia brasileira. Olha a ortografia, sabe que palavra é que é, pronuncia correctamente", disse à Lusa a brasileira de nascimento e portuguesa por casamento, que vive e lecciona em Portugal desde 1970.

Portanto, "acho que é um desperdício de energias, um desperdício de dinheiro, e penso que se devia gastar o pensamento e as forças em outra coisa qualquer", sustentou Maria Lúcia Lepecki, falando à margem da 9ª edição do encontro de escritores de expressão ibérica Correntes d'Escritas, que hoje termina na Póvoa de Varzim.

"Quando houve aqui uma grande polémica sobre esse assunto, há cerca de 20 anos, eu nunca me pronunciei. Na altura, era presidente da Associação de Professores de Português e havia quem se pronunciasse por mim, veiculando a posição da associação", explicou.

Além disso, "achei que essa questão do acordo levantou uns pruridos patrióticos inexplicáveis de um lado e do outro do Atlântico", prosseguiu.

"E não existe esse problema de compreensão em cima da escrita. A escrita é uma convenção. Cada um convenciona como quer e o outro, simplesmente, aprende aquela convenção e a sua", comentou.

Mas se o acordo for ratificado e entrar em vigor, a ensaísta diz que vai cumprir.

"Se for uma lei, é evidente: eu tenho de cumprir. Todo o cidadão tem de cumprir", acrescentou.

Em 1990, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe assinaram um acordo para unificar a língua portuguesa e estabeleceram um prazo de quatro anos para a sua ratificação, que seria em 1994.

Uma década depois, em 2004, foi aprovado um protocolo de alteração prevendo que bastaria que três países o ratificassem para que o acordo entrasse em vigor.

O Brasil ratificou-o logo a seguir e dois anos depois foi a vez de Cabo Verde, São Tomé e Portugal que, contudo, não procedeu ao depósito dos instrumentos de ratificação que a lei exige.

ANC.

Lusa/fim

Agência Lusa
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